Quem mete água
Nas últimas semanas, na sequência da Câmara Municipal de Santarém abandonar o projecto Águas do Ribatejo, emergiu o que de pior existe no poder local e alguns protagonistas, de cabeça perdida, têm-se desdobrado em esforços para tapar o sol com uma peneira, atirando para cima desta autarquia a responsabilidade pelo fracasso do projecto ao mesmo tempo que se lhes estala o verniz, de uma delicadeza mal aprendida, insultando pessoalmente o seu presidente. Ou seja, a minha pessoa.O presidente Ganhão de Benavente, naquele seu jeito de enfado intelectual penteado, não tem se poupado a esforços para que se entenda que o Moita Flores sofre de ‘cobardia política’, é ‘mentiroso’, é ‘injusto’ com o administrador-delegado, rapaz de muitas virtudes em que o presidente Ganhão vê o exemplo seráfico do seu céu laico. O Moita Flores é a bruxa má que destruiu o mais belo, doce e celestial projecto de águas de que há memória. Queixa-se que o Moita Flores faz dele ‘patêgo’, coisa que se recusa a ser e ainda bem para consolo da sua tonitruante pose política e mostra papéis em que, afinal, foi a bruxa má, o Moita, que negociou contrapartidas com o grupo vencedor, enquanto o seu querubim pouco mais terá feito do que respirar, suportar a minha terrível perseguição e esperar, como Stª Maria Goretti, a piedade e solidariedade de Deus. Não vou responder aos insultos pessoais do presidente Ganhão, nem ao conjunto de lugares comuns de uma retórica política bem enroupada mas de fraca estirpe. Falemos sobretudo do sol e da peneira.1. O Moita Flores é, por força da democracia, presidente de Câmara. De Santarém. Que por acaso é maior do que o somatório de todas as autarquias que hoje estão na direcção da CULT. Para desgraça do presidente Ganhão o presidente Moita Flores tem a mesma legitimidade que ele, porque mesmo que a presidência de uma autarquia, por infinitas repetições de mandato se transforme em monarquia, a legitimidade resulta do último acto eleitoral e não da velhice do cargo.2. O presidente Moita Flores jurou, no dia 25 de Outubro de 2005, perante os seus munícipes cumprir as suas tarefas com honra e lealdade. Lembro-me do juramento todos os dias. A defesa intransigente dos meus munícipes, a defesa dos interesses do concelho e que me entregou os seus destinos. E é sempre no interesse primeiro do meu concelho que trabalho, que estudo, que dedico com paixão estes quatro anos da minha vida. Por isso que não dê grande importância ao que diz o presidente Ganhão. Nem é meu munícipe nem meu presidente.3. Mas a sua avidez de reconhecimento leva-o a confundir o lugar que ocupa na CULT. Julga-se vice-presidente do presidente de Santarém e não é. A CULT, é bom que se diga, não é um órgão de soberania. É apenas uma associação de municípios, uma Távola Redonda, onde presidente e vices-presidentes são escolhidos pelos colegas. Uma espécie de primus inter pares. Mais nada. Por isso votei no presidente Ganhão para ser vice-presidente. Não o teria feito se fosse para um órgão de soberania. O presidente Ganhão sabe isto, mas a retórica enfatizada pode conduzir a outros entendimentos. Que fique claro. 4. Agita o presidente Ganhão papéis, para sossegar jornalistas quanto à arranjadinha pureza e puerilidade do seu administrador-delegado. Foi o Moita Flores quem negociou contrapartidas e não a sua gente. E agita-os entusiasmado, pois ali está a prova das mentiras contra tão beato conclave.É uma manobra de um velho político. Mas já sem fulgor e que lhe fica mal. Quer esconder o sol com a peneira.5. Quem negociou contrapartidas foi o seu administrador delegado. E mesmo que o presidente Ganhão ache isso bem e desculpe, nenhum juiz ou homem de razão, vai desculpar. E a explicação é simples. Essas contrapartidas foram negociadas durante a execução do concurso público internacional, por alguém que tinha capacidade de representar os nove votos da decisão final, contra a boa fé e expectativas dos concorrentes. Isto é crime. Foi tudo feito antes de haver a escolha, por parte do júri, de um vencedor.O presidente da Câmara de Santarém conseguiu algumas mais valias para Santarém, noutro momento, quando já se sabia quem ia ser o vencedor, embora ainda não homologado, e com outro tipo de responsabilidade. Como bem declarou o juiz que apreciou as providências cautelares. Santarém vale apenas um voto na CULT, não condiciona concursos, nem poder tem para os vetar. E o presidente Ganhão quer calar o crime desde a primeira hora, desculpando-o, e anatematizando Santarém apenas porque o seu presidente conseguiu mais valias politicamente legítimas, legalmente inócuas.6. Mas com este espalhafato de brilhantina insultuosa, o presidente Ganhão foge, assim como outros, da explicação decisiva que levou Santarém a sair das Águas do Ribatejo. O desleixo e a incompetência, levou a que a Comunidade perdesse 18 milhões de euros do Fundo de Coesão das Águas. Pressuposto essencial para o êxito do projecto. E quer, sem olhar para trás, assinar uma escritura de entrega de 49% das nossas águas a um privado. Sem os nossos 18 milhões de euros, negligentemente perdidos. Nem uma palavra. Esconder, insultar, dissimular, inventar manobras jurídicas para escamotear este dado decisivo para recuarmos na decisão de aderir a um projecto mil vezes traído por quem tem todas as bênçãos, desculpas e aplausos do presidente Ganhão.7. Ainda não estão contentes. Quando se pessoalizam as relações institucionais é no que dá. Surge o que de mais baixo existe na natureza humana. Agora é a vingança pessoal. Já que Santarém não alinhou nesta moscambilha de confusões mal explicadas, vamos roubar-lhe o Fundo de Saneamento. Conheço todos os passos desta manobra inqualificável. Mas ainda não é o tempo de falar. Porque isto não acontecerá. Estão aí os tribunais para dirimir processos administrativos. Está aí o Ministério Público para tratar de crimes sem vergonha.Francisco Moita Flores
Mais Notícias
A carregar...