Palmira Horta cumpriu pedido que lhe foi feito numa cama de hospital
Vinte e seis jaquetas vermelho sangue para homenagear José António Félix, forcado de Azambuja
A estilista de Azambuja Palmira Horta ofereceu 26 jaquetas aos forcados da vila. Os “rapazes” estreiam as peças na corrida de toiros da Feira de Maio.
Um dia José António Félix, um dos fundadores do Grupo de Forcados Amadores de Azambuja, pediu a Palmira Horta que vestisse os forcados da vila. O pedido, feito numa cama de hospital, poucos dias antes de desaparecer, deixou a estilista com receio de não estar à altura do último desejo manifestado por um amigo de infância. Quatro anos depois Palmira Horta cumpriu a promessa. E entregou 26 jaquetas aos forcados de Azambuja. As peças são cor de vermelho sangue com cordão de seda e botões dourados.Palmira Horta não esquece as palavras trocadas com o forcado de Azambuja. “Disse-me que conseguiria concretizar este sonho porque conseguia tecidos mais baratos e a mão-de-obra era minha”, recorda a estilista sublinhando que tudo partiu de um pedido expresso do ex-cabo do grupo, conhecido como “Patinhas”, que doou à estilista o seu fato de forcado.O tecido da jaqueta exposta no atelier da estilista, no coração de Azambuja, que José António Félix envergou nos anos 70, é muito próximo do brocado escolhido por Palmira Horta. “Há quarenta anos que os forcados não tinham jaquetas vermelhas. Tem um simbolismo grande”, revela a estilista que lembra que as jaquetas são normalmente oferecidas por diferentes entidades o que limita a possibilidade de escolha. Palmira Horta garante que os forcados ficaram emocionados e surpreendidos com a oferta. Quase todos se comoveram durante a prova que foi só o confirmar de medidas. Por entre todos compraram uma peça de pano cor de mel para os calções. E a estilista ofereceu a mão-de-obra para que os rapazes da terra se apresentem renovados na corrida da Feira de Maio marcada para dia 27. É condição que as peças, benzidas e entregues na cerimónia de quinta-feira da espiga, permaneçam como propriedade do grupo. As jaquetas permitem a liberdade de movimentos aos forcados. São uma segunda pele. Palmira Horta dedicou 22 dos seus dias a confeccionar as 26 peças. Entre tirar as provas com os rapazes, como lhes chama, e cortar as jaquetas. “Mas durante esses 22 dias fiz outros trabalhos da loja em Lisboa”, sublinha a artista que garante que forjou as peças com o coração. “Não sou rica. E o que fiz foi um completa loucura”, confidencia. Comprou o tecido e ofereceu o seu tempo e arte à causa. Aborrece-se quando se aborda a questão do preço. Confessa que nenhum dinheiro do mundo pagaria o trabalho de vestir os seus rapazes. “Não quero que me compreendam. Os artistas como todos sabem são loucos. E esse é um estatuto que a mim me assenta bem. Sou diferente e louca”.
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