Transformar ruas em arenas do dia para a noite
Mais de 200 tranqueiras e 80 camiões de terra para transformar as ruas de Azambuja em arena durante a Feira de Maio.
Se atravessar uma ruela de Azambuja em Abril é provável que se cruze com uma tranqueira pousada sobre o passeio. É por essa altura que as estruturas em madeira, que protegem a população das investidas dos toiros, começam a ser espalhadas pela vila. Sinal de que falta pouco mais de um mês para a festa. Mas os preparativos para a Feira de Maio começam meses antes. “No princípio do ano um carpinteiro começa a reparar as tranqueiras e a pintá-las. Há sempre reparações a fazer e a madeira vai envelhecendo”, explica o vereador da Câmara Municipal de Azambuja, José Manuel Pratas, um dos responsáveis pela logística que envolve o evento. Um núcleo duro de oito elementos do sector de obras é destacado todos os anos durante dois meses para os preparativos da festa. O número de tranqueiras já está definido. Tal como o local onde serão colocadas. Um engano é suficiente para fazer perder horas de trabalho. Que o diga Joaquim Tavares, cabouqueiro, um dos funcionários da secção de obras da autarquia que vê o trabalho triplicado por alturas da feira. “Quando há um engano temos que andar de cima a baixo a ver se detectamos o erro”, diz o trabalhador que explica que por vezes as tranqueiras são emprestadas para outras feiras e são cortadas. “Quando isso acontece temos que fazer novas”, diz o funcionário sem tirar os olhos da tinta vermelho sangue com que vai pintado as tranqueiras novas. As maiores estruturas chegam a pesar 340 quilos. Para elevar a tranqueira é preciso ajuda de toda a equipa. “O esforço físico é o que mais custa”, confidencia o trabalhador, 49 anos, funcionário público há 23 anos, natural de Azambuja. As estruturas não podem baloiçar. Mas de vez em quando os acidentes acontecem. “No ano passado uma tranqueira partiu-se ao pé da Favorita e o toiro ia saindo para fora”, recorda José Manuel Pratas. A requalificação do núcleo urbano de Azambuja, no âmbito das obras do Polis, não descurou a Feira de Maio. Na calçada existe um espaço demarcado para receber as tranqueiras. É uma quadrícula onde se coloca taliscas de madeira para ajustar as bases da tranqueira que incha à medida que o calor vai atingindo a madeira. Semanas antes da feira a areia que é espalhada pela rua para as largadas de toiros já está armazenada no parque da CP. Oitenta camionetas ajudam a transformar a rua numa gigante arena. Os inertes vêm de Valada e são espalhados na quarta-feira. Um dia antes da entrada de toiros. “A população nem sempre colabora não deixando os carros estacionados na terça e quarta-feira e por isso somos obrigados a rebocar alguns dos veículos”, explica José Manuel Pratas. É tudo feito durante o dia. Ao contrário da limpeza das ruas. Uma das operações de maior complexidade durante toda a festa que José Manuel Pratas tem acompanhado nos últimos anos. Quando o fogo de artifício termina às 00h00 de segunda-feira já os funcionários estão a trabalhar. A equipa reúne-se às 22h00 para uma noite de trabalho intensa que só termina na manhã seguinte. Por volta das seis ou sete da manhã. “Tudo tem que estar limpo para o regresso à normalidade na manhã seguinte. Já basta o transtorno que causamos às pessoas em todo os dias da feira”, admite José Manuel Pratas.São cerca de três dezenas de pessoas que trabalham na operação de limpeza. Trabalhadores da câmara e funcionários de uma empresa privada. A meio da noite de trabalho há uma pausa. A refeição é servida no quartel dos bombeiros e é momento para convívio. Saboreia-se frango assado e um copo de cerveja. Retemperam-se forças para o resto da noite de trabalho. A maior quantidade de terra é levantada por máquina retro escavadora. Depois entra em funcionamento a força humana. Vassouras e enxadas ajudam a arrastar a areia. Que também é aspirada por oito máquinas. “É um trabalho de um esforço tremendo”, admite José Manuel Pratas, que lembra que as pessoas têm grande brio profissional em efectuar bem a limpeza da rua. As tranqueiras são retiradas com ajuda de uma báscula e regressam ao parque da câmara. É lá que ficam armazenadas. Até à festa do próximo ano.
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