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Baralhação

Ser testemunha, em tribunal, não é vulgar na vida de um cidadão.É claro que existem “testemunhas profissionais”. Nem sempre no mau sentido.Todos os hipermercados e cadeias de distribuição dispõem de empregados que quase não fazem outra coisa senão passarem os dias em diversos tribunais, pronunciando-se sobre cheques sem provisão. São pessoas a quem é confiada a missão de tentar contactar o cliente que emitiu um título daqueles sem que dispusesse de dinheiro suficiente na sua conta bancária. Depois de frustradas as tentativas de obter o pagamento – com os respectivos juros, obviamente -, o caso é encaminhado para as vias judiciais. E a pessoa que vai depor em julgamento será precisamente esse colaborador da empresa.De modo que esses indivíduos ocupam a quase totalidade da sua vida laboral nos corredores dos tribunais.Mas a verdade é que, em regra, não é comum, sermos convocados para prestar o nosso depoimento, enquanto testemunhas.Comigo próprio, tal apenas sucedeu-me em duas ocasiões.Ora há um aspecto ao qual o juiz deve permanecer atento.É natural que, em muitas das pessoas, se verifique uma certa insegurança por estarem num ambiente desconhecido. Depois, toda a gente sabe a importância de que um julgamento se reveste. Todos têm conhecimento de que o depoimento de uma testemunha pode ser decisivo. Por outro lado, após ser prestado o respectivo juramento, sente-se o peso de uma responsabilidade superior.Assim, é perfeitamente compreensível que esteja presente uma certa dose de ansiedade e de algum nervosismo.Ora importa que o juiz mantenha a completa serenidade, no decurso do julgamento.Por outro lado, pode convir às partes interessadas que determinada testemunha demonstre atrapalhação, irritabilidade ou mesmo alguma exaltação.Imaginemos uma testemunha cujo depoimento é contrário aos interesses do arguido.Se o advogado que defende o acusado, conseguisse que a testemunha revelasse confusão e um certo descontrolo, seria provavelmente vantajoso.O defensor do arguido é o último a colocar questões às testemunhas de acusação.Sucede, por vezes, o advogado dizer qualquer coisa como o seguinte:- O senhor, ainda há pouco, quando estava a responder às perguntas do senhor magistrado, afirmou que viu a faca junto ao caixote do lixo.Colocar palavras na boca de outra pessoa pode ser das coisas mais irritantes, sobretudo se tal não corresponder à verdade.O que eventualmente sucederá é a testemunha ficar logo furiosa e querer replicar, de imediato, em tom aceso:- Mas eu não disse nada disso! Vou explicar melhor.Até pode dar a ideia que as suas declarações anteriores tinha sido uma baralhada.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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