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“Marcello Caetano no Exílio” com prefácio de Veríssimo Serrão

Livro reúne estudos e conferências realizados no tempo do exílio no Brasil
A Editorial Verbo publicou em 2006 mais um livro de Marcello Caetano com a colaboração do Professor Joaquim Veríssimo Serrão. O livro “Marcelo Caetano no Exílio” reúne estudos, conferências e comunicações que o antigo presidente do conselho de ministros até 24 de Abril de 1974 escreveu e proferiu no Brasil onde viveu exilado até ao dia da sua morte.O prefácio ao livro ilustra a verdadeira amizade e admiração que uniu o historiador natural de Santarém ao antigo Presidente da República do antigo regime. Joaquim Veríssimo Serrão admite neste prefácio que “ será este porventura o derradeiro texto que componho acerca da vida política e do exílio no Brasil” do autor porque “ a existência tem um limite biológico a que cumpre obedecer e, no que me respeita, estou a aproximar-me desse término que abarca todas as criaturas humanas” ( : ). Mas para trás ficam obras que de certo marcarão a História portuguesa. Veríssimo Serrão escreveu sobre Marcello Caetano mais do que ninguém e manteve com ele uma correspondência, também publicada em livro, que é um documento único e cujas edições sucessivas atentam bem a sua importância histórica e documental.Neste livro Marcello Caetano mostra a sua vasta cultura e o seu saber de experiência feito nomeadamente em alguns textos que resultam de conferências realizadas em universidades e para públicos bem informados. O texto sobre “Alexandre Herculano e a História de Portugal” é uma boa lição sobre o mestre da nossa história da idade média, que viveu uma boa parte da sua vida em Santarém. Outro sobre Camões ajuda a compreender o homem que Marcello Caetano era, e que a maioria desconhece, vendo nele apenas o substituto de Salazar. “Nada de grande se constrói na História da Humanidade sem sair da rotina quotidiana. A audácia é a condição indispensável para conseguir as grandes realizações, desde os inventos que roubam mais um segredo à natureza até transformações sociais que eliminam injustiças e anomalias na esfera colectiva”. Nesta conferência, proferida em Junho de 1980, na evocação do IV centenário da sua morte, Marcello Caetano volta ao tempo das descobertas e fala das conquistas do povo português para chegar ao antigo ultramar e escrever: “Por muito que possa chocar algumas pessoas, não devemos censurar a independência das antigas províncias do ultramar português: ela era o remate natural da obra colonizadora desde que tivesse sido operada de modo tal que nos novos países pudessem continuar a viver e a trabalhar, ao lado dos nativos, aqueles europeus graças a cuja iniciativa e a cuja técnica os territórios tinham sido desbravados e civilizados”. “Seria inteiramente legitima a independência caso os novos países de expressão portuguesa constituíssem, no respeito recíproco das respectivas soberanias, com Portugal e o Brasil, uma comunidade lusíada, em vez de, por obra de uma descolonização que me abstenho de qualificar, se terem tornado colónias soviéticas”.Embora este livro interesse sobretudo a historiadores, universitários e pessoas que admiram a figura de Marcello Caetano, há ainda nele passagens que surpreendem o leitor comum que nós somos e que são garantia de uma boa leitura para quem vê nos livros, sejam eles de poesia, de história ou de ensaio, uma arma contra todos os pensamentos de sentido único. Esta passagem de um dos artigos de Marcello Caetano é elucidativa do seu pensamento e da argúcia da sua escrita: “Penso que a acção do portugueses nos séculos XV e XVI é mais valiosa que a dos astronautas dos nossos dias. Os navegadores que partiram em busca de espaço cósmico usaram veículos construídos, equipados e conduzidos com alta sofisticação técnica que lhe permite manterem-se em permanente contacto com estações de apoio terrestre, de onde são informados, orientados e dirigidos de tal modo que a ida e volta se apresentam como operações dotadas do máximo de precisão com o mínimo de risco. Enquanto no século XV os portugueses se lançavam à aventura do mar incógnito em frágeis cascas de noz, com meios precários de orientação, sem poderem comunicar durante meses e anos com os portos de partida e arrostando com toda a espécie de perigos que tornavam duvidoso o regresso e sempre contingente o êxito”.Uma última nota ainda para o prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão que, sobre Marcello Caetano, professor e homem de cultura, escreve que “ a imortalidade não se queda apenas nas pessoas que deixam rastro luminoso da sua existência, pois também se junta ao património mental que elas deixam”, numa referência à obra “A História do Direito Português” que Marcello Caetano escreveu e que em 2000 teve a sua quarta edição também na Editorial Verbo, cujo editor, Fernando Guedes, também numa nota prévia ao livro, reforça a ideia de que “Marcello Caetano morreu a trabalhar para a cultura portuguesa” .

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