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Dar milho aos pombos

É do conhecimento público que, nosso país no corrente ano de 2007, existem no desemprego mais de 50.000 licenciados, de diversas áreas de formação. Em contrapartida, faltam médicos, enfermeiros e técnicos especializados de meios auxiliares de diagnóstico, sendo que muitos lugares destes profissionais em falta têm vido a ser preenchidos por estrangeiros, em especial por espanhóis. É certo que nada tenho contra a contratação de estrangeiros para o exercício destes cargos, de forma a colmatar as necessidades dos portugueses no sector da saúde.Esta situação não é de hoje, arrasta-se pelo menos há mais de 15 anos, mas os governantes do nosso país têm ignorado alegremente este problema. Porquê? Então se qualquer cidadão minimamente consciente se dá conta desta discrepância, como poderá acontecer que os governantes, que regra geral até são licenciados (não é piada para os licenciados não inscritos na respectiva ordem de classe profissional) e, alguns, conceituados especialistas em muitos áreas do saber, não se apercebam da delicadeza deste problema? Um destes dias, durante uma conversa em que se abordava o fecho de maternidades e urgências hospitalares no interior do nosso país, provavelmente por falta de recursos humanos especializados, o meu amigo “Zé Bolinhas” proferiu o seguinte desabafo: “se os nossos governantes não tivessem sempre emprego garantido para os seus filhos, afilhados e amigos, o assunto já estaria resolvido, bastava abrir mais faculdades e contratar mais professores (mesmo estrangeiros) para formar especialistas nas áreas em falta”. E concluiu de forma contundente: “é por essas e por outras que qualquer dia passo a votar no jardim.” Confuso, perguntei: “Como, se o Jardim só se tem candidatado na Madeira?” Respondeu de imediato o “Zé Bolinhas”: “Não se trata desse Jardim, o meu voto passará a ser feito no jardim da minha terra, dando milho aos pombos, em vez de ir às urnas; eles que se “urnem”, rapidamente.”Ora se até o meu amigo “Zé Bolinhas”, um trabalhador rural quase analfabeto, tem soluções tão sábias, é muito estranho que um qualquer ministro nunca tivesse um pensamento tão escorreito acerca deste assunto. Até porque os custos com a formação dos profissionais em falta seriam compensados com o encerramento de outras faculdades que formam desempregados.Deixo uma pergunta à margem: será que os abstencionistas, que nas últimas eleições foram na ordem dos 40%, também ficaram nos jardins públicos a dar milho aos pombos? Mas, ainda assim, se esta for a tendência futura, continuará a haver número suficiente de pessoas com receitas provenientes do trabalho, para suportar tais ministros e tantos desempregados e, ainda, para comprar milho para sustentar os pombos que sobreviverem no meio da crise? António José Rodrigues

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