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Galardão Carreira Empresarial: António Cruz Costa teve o primeiro negócio aos 11 anos de idade

Galardão Carreira Empresarial: António Cruz Costa teve o primeiro negócio aos 11 anos de idade

Para ser empresário combinou com o pai as condições para abandonar o trabalho no campo.

Ganhou o primeiro dinheiro como empresário aos 11 anos de idade a vender fruta à porta da igreja. Três anos depois passou para o sector das peles onde se manteve até hoje. Com os lucros ajudava a pagar o salário de um homem que o substituía nas tarefas agrícolas que o pai lhe destinava.

Recusa o epíteto de self made man apesar de ter o perfil de alguém a quem a expressão se costuma aplicar. “Nunca gostei de ouvir os empresários gabarem-se de terem começado do nada, numa atitude vitimizada”, justifica António Cruz Costa, o homem forte da Inducol, indústria de peles. Nasceu em Amiais de Cima (Santarém), no seio de uma família humilde de agricultores. Ainda se lembra de observar a mãe a contar os ovos que as galinhas punham para ver se o dinheiro da sua venda chegava para governar a casa.Era um excelente aluno mas não passou da antiga quarta classe (actual primeiro ciclo do ensino básico). Quando fez dez anos recebeu dos pais como presente uma enxada, para ajudar a família no sustento da casa. Mas cedo revelou a sua veia para os negócios e as suas mãos nunca chegaram a ficar calejadas pela dureza do trabalho agrícola. Um dia, olhando para as árvores de fruto que havia nos terrenos da família, pediu à mãe que lhe comprasse uns seirões (alforges) para o burro. Enchia-os com uma carga de peras e maçãs que levava para a serra e vendia a fruta aos domingos à saída da missa. Tinha 11 anos. O “contrato” com a mãe era simples – metade do dinheiro da venda ficava para ele. E continuava a ajudar no campo.Quando o negócio da fruta deixou de ser rentável, António Cruz Costa, então com 14 anos, passou a negociar peles de ovelha. Foi nessa altura que comunicou ao pai que não trabalharia mais no campo. “Disse-lhe que contratasse alguém para pôr no meu lugar, que eu pagava-lhe 22 escudos por dia”, afirma o homem que ambicionava casar aos 15 anos. “A tropa veio estragar-me as contas”, diz a brincar. Do casamento e do negócio.Aguentou oito meses sem exercer qualquer actividade lucrativa. Quando, inserido no batalhão de telegrafistas do exército, foi transferido de Lisboa para as Caldas da Rainha, voltou aos negócios. Alugou um armazém, tirou a carta e comprou uma forguneta “em segunda-mão mas em bom estado”. Em 1961 recebe a cara militarizada que o leva até ao Ultramar, mais precisamente a Angola. Foram 30 meses e meio sem comunicar com a família, sem abraçar a namorada. E sem fazer negócio.“A tropa transformou-me, ajudou-me na formação do carácter e na assunção de compromissos. Mas há coisas das quais me envergonho. Politicamente senti-me enganado. Não gosto de falar nisso”, diz, enquanto endireita as costas na cadeira do seu escritório, onde todos os dias chega às oito da manhã. Em cima da mesa não há computadores. “Adoro as novas tecnologias mas não percebo nada”, confessa. ”Ele nem sabe desbloquear o telemóvel”, confirma um dos dois netos que na altura da entrevista se encontravam na empresa.Os escritórios da administração são a parte mais pobre da empresa. Todos os anos o empresário promete construir um novo edifício mas a concretização vai sendo sempre adiada. “É mais fácil comprar um camião de peles”. Numa mesa ao lado, fotos da família. A sua bandeira. Em primeiro plano os pais, que compreenderam o seu potencial e sempre o apoiaram. Depois a mulher, Maria Trindade, com quem está casado há 43 anos, os dois filhos, os quatro netos rapazes. “Ainda estou à espera de uma menina na família”. Na parede, junto à janela, um quadro com o emblema do Sporting. Tem lugares cativos no novo estádio e quando pode não perde um jogo mas não se considera ferrenho “nem anti-qualquer coisa”. Os árbitros são o seu alvo preferido quando tem de culpar alguém pelos desaires dos verde-e-branco.Poucos sabem que o homem que hoje gere cinco empresas e 25 milhões de euros anuais depois de, aos 30 anos, ter comprado “uma fabriqueta ao Joaquim Espiguinha”, tocava flauta em bailes da região, na década de 50. “Ainda hoje não perdi o jeito”, diz, olhando para o prospecto de uma festa da altura, emoldurado ao lado da foto que testemunha a honra de ter recebido, em 1996, o prémio de scalabitano ilustre, pela Câmara de Santarém.Conservador quanto baste, com uma dose de loucura “bem medida”, humano e solidário, António da Cruz Costa tem, aos 69 anos, um percurso de vida notável e uma vida abastada, com casas na Nazaré (nunca lá dormiu) e em Monforte (Alentejo) onde tem uma empresa agro-florestal. Negoceia nos quatro cantos do mundo e tem clientes famosos na área da moda como a dupla italiana Dolce & Gabanna mas continua a conduzir um Mercedes com mais de 400 mil quilómetros. “A minha sogra e o meu cão só gostam de viajar neste carro”, justifica.
Galardão Carreira Empresarial: António Cruz Costa teve o primeiro negócio aos 11 anos de idade

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