Simone Fragoso tem 26 anos e 1,01 metros de altura. O que lhe falta em altura, compensa com a sua boa forma física e a sua vontade de vencer. A atleta do GesLoures só pratica natação há um ano e meio mas já se sente preparada para conseguir competir ao mais alto nível, nos Jogos Paralímpicos de Pequim, em 2008. “Decidi começar a natação depois de eles terem voltado de Atenas, dos últimos Jogos Paralímpicos”, conta, enquanto observa as provas dos restantes atletas que, nas Piscinas Municipais de Vila Franca de Xira, deram mais um passo para conseguir o apuramento para os Paralímpicos de Pequim, no Open de Natação Adaptada que decorreu no passado fim-de-semana.Um dos melhores atletas do Open foi David Grachat, de 20 anos, da GesLoures. Aos dois anos de idade, e apesar da sua malformação na mão esquerda, David entrou pela primeira vez dentro de uma piscina. Desde aí, nunca mais parou. Aos 10 anos começou a entrar em competições e, agora com 20 anos, continua a acumular vitórias. O atleta já bateu o recorde da Europa nos 50 e nos 100 metros livres no Campeonato do Mundo que decorreu no ano passado na África do Sul. David treina todos os dias da semana, às vezes mais do que uma vez por dia. É o seu trabalho a tempo inteiro, como diz. O seu grande objectivo são os Paralímpicos de Pequim e as provas prestadas em Vila Franca colocaram-no mais perto de alcançá-lo.Quem também procura agora levar mais longe o nome de Portugal em Pequim depois de uma boa participação na África do Sul, onde conseguiu a Medalha de Bronze nos 100 metros bruços e a Medalha de Prata na Estafeta, é a atleta amputada Leila Marques, de 25 anos. “Já tenho mínimos em três provas”, diz a atleta, confiante na sua prestação. A grande aposta nestes Paralímpicos vão ser novamente os 100 metros bruços. O objectivo de Leila Marques é conseguir chegar a um dos cinco primeiros lugares. Sentada perto de Leila está a campeã Rosa Mota que veio ao Open de Natação Adaptada para mostrar o seu apoio aos nadadores portadores de deficiência. “São atletas que me dão muita força”, comenta, enquanto observa as provas. Para Rosa Mota, os atletas portadores de deficiência começam a contar com cada vez mais apoios e as suas competições devem ser divulgadas como “forma de sensibilizar a sociedade”.A deficiência de João Martins é tão profunda que nem sempre abrem provas para o seu escalão nas competições. Ainda assim, João, portador de paralisia cerebral, participou nos últimos Paralímpicos, em Atenas, e conseguiu trazer para casa duas medalhas de bronze. Segundo o seu treinador, António Pitta, o treino de João Martins assenta nos mesmos princípios dos de um nadador sem deficiência. São apenas necessárias algumas adaptações técnicas e cargas de treino mais suaves. “Já tentámos aumentar a carga de treinos mas começaram logo a aparecer lesões”, frisa o treinador. Tecnicamente, João só nada nos estilos costas e livre e só usa os braços. A sobrecarga nos ombros e braços, por não utilizar as pernas, é muito forte e João não aguenta muito tempo seguido de treinos. Treina entre três a cinco horas por semana, que complementa depois com algumas horas de ginásio. “Estamos numa fase muito especial”, salienta António Pitta. “A um ano de Pequim, todo o trabalho se concentra nesse objectivo”. O treinador acrescenta ainda que, na alta competição, nenhum dos atletas deve “participar só por participar”. “A competição é muito feroz a nível internacional e a qualidade define-se por centésimos de segundo”, frisa.O Open de Natação Adaptada juntou mais de 50 atletas portugueses e cerca de 30 da selecção nacional de Espanha. No final, a organização revelou-se satisfeita com os resultados atingidos pelos participantes. Muitos deles conseguiram alcançar os mínimos, estando agora a sua participação dependente das quotas que forem atribuídas a cada país, algo que só deverá ser revelado entre o final deste ano e o início do próximo.