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A vida erótica dos Templários

As pessoas dizem muitas vezes que não percebem nada de arte.Não percebem, nem precisam perceber. Se algo é belo e nos toca isso é arte. Não precisamos saber a que corrente artística pertence. Não precisamos saber se um quadro foi pintado há quinhentos anos ou há dez minutos. Se um livro, uma escultura, uma pintura, uma música mexe com o melhor que há em nós, já sabemos tudo o que devemos saber. Também não precisamos ser psicólogos para termos sentimentos. Essa parece uma resposta demasiado simples. Claro que há níveis. Se queremos perceber muito sobre psicologia temos que estudar psicologia. Se queremos saber mais sobre arte temos que estudar arte. Mas isso não significa abdicar dos sentimentos primários que a arte transmite. Esses são essenciais. E quando aprofundamos os nossos conhecimentos isso não significa necessariamente que passemos a sentir melhor as coisas. Até podemos complicar o nosso relacionamento com a arte. Eu conheço músicos que não gostam de música. Estão de tal modo atentos às técnicas que quando ouvem alguma música só querem ver se está tecnicamente perfeita. Não conseguem sentir. Não se limita a pintar. Exprime-se também através da arquitectura, da música, da cerâmica, da escultura…Arte é arte. É a expressão dos meus sentimentos. É isso que eu procuro nessas várias linguagens. Tenta ser compreendido?Cada vez menos. Estou a chegar a um ponto que não me preocupo muito em saber se estou a ser compreendido ou não. Um artista tem a responsabilidade de tentar comunicar o melhor possível se a ideia for transmissível, mas há ideias que eu sei que nunca conseguirei transmitir de forma a serem compreendidas. Pelo menos neste tempo e por toda a gente. Hesitou na utilização da palavra artista. Tem alguma dificuldade em utilizar a palavra artista para se designar a si próprio?Nos últimos anos não há cão nem gato que não seja artista. E qualquer merdita é considerada arte. Como se tudo fosse igual. Não posso concordar com essa ideia. Uma senhora faz croché. Isso é arte? Não, porque ela não está a transmitir ideias. Está simplesmente a cobrir superfícies de forma decorativa utilizando uma determinada técnica. Ela não está a tentar dizer nada que valha a pena dizer. Coisas que venham a ser lembradas. No futuro, alguém que olhe para o seu trabalho o mais que poderá dizer é: “Uau! Santa paciência!”Mais nada. A arte desperta sentimentos. Cria ambientes para viajarmos dentro das nossas cabeças. Isso é arte.Há diversas fases no seu percurso artístico? Eu sou uma única fase. Eu aprendi as técnicas para poder escolher o meu caminho. As minhas ideias não estão ligadas a nenhuma corrente ou escola. Mas o seu caminho não é linear. Pois não. Eu perco-me continuamente e encontro-me continuamente. Quando me perco fico desanimado e não faço nada. Visito os meus amigos e choro. Estou perdido, não sei nada, sou um inútil, não tenho nada para dizer, sou um falhado. É por isso tenho amigos com quem conto nestas alturas. Para me animarem. Para fazerem com que eu sobreviva. E felizmente tenho amigos aqui em Portugal. Tenho muitas provas de amizade nessas alturas. E quando se encontra?Quando estou em descoberta, quando tenho um sucesso de criação, sou o primeiro a telefonar a todos a dizer para virem ver. Venham! É fantástico, fabuloso, sou o melhor. Nessas alturas a minha vida vale a pena. Está a recuperar casas antigas aqui em Vila do Paço. Compôs a música para a próxima peça do Grupo de Teatro “Fatias de Cá”, O Perfume. Por este andar só lhe falta escrever um livro.Já o escrevi. Sobre a vida erótica dos Templários.Vai ser publicado?Não. É mesmo erótico. É pura imaginação. Ficção. Um dia interroguei-me sobre os Templários. Afinal eles viviam como nós vivemos agora. Não andavam a pensar que eram figuras históricas. Eu tentei imaginar como seria um dia normal de um grupo de Templários no Convento de Tomar. Daí até à vida sexual deles foi um passo. Eles eram homens. Tinham sexo e necessidades sexuais. Comecei a efabular. A fabricar essa vida erótica, possível dos Templários.

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