uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Uma infância no meio de nenhures

Quando Sam Abercromby nasceu, a 10 de Junho de 1947, a sua família vivia numa casa isolada em Wiluna, na Austrália Ocidental. O vizinho mais próximo morava a cerca de quarenta quilómetros. A aldeia mais próxima ficava a uma centena de quilómetros. A principal cidade a mais de mil. A maior parte do tempo, o pai de Sam, não estava em casa. Era representante da empresa Mobil e andava de quinta em quinta a registar as encomendas dos fazendeiros. Geradores, bombas de tirar água, óleo, massa consistente…Um trabalho duro e solitário. Algumas quintas distavam entre si duzentos quilómetros. Três semanas fora e apenas uns dias em casa. A mãe era uma jovem da cidade que não se deu muito bem com o isolamento. Durante algum tempo esteve em tratamento longe de casa e dos filhos. Sam e a irmã, dois anos mais velha, ficaram entregues a uma ama. A ausência dos pais não foi vivida com dramatismo. “Sempre fomos crianças felizes. Fomos amados. Hoje vivo aqui feliz por causa desses meus primeiros dez anos na Austrália”, conta o artista. As únicas brincadeiras com outras crianças eram com aborígenes. Não havia escola. Sam comunicava com o professor através de um rádio alimentado por um gerador. “Montava-me na bicicleta, com os auscultadores e um microfone, e pedalava para gerar energia. Era assim que eu conseguir falar com o professor que estava a mais de 900 quilómetros de distância”, conta. Embora esteja disposto a falar da sua infância e da sua família, Sam Abercromby não tem muita informação. “A minha família cultivava um certo secretismo sobre o passado. Deve ser da nossa costela escocesa. Frios, distantes, dignos, calados. Mordemos a língua, cerramos os lábios e seguimos em frente. Somos estóicos”, explica. A mãe de Sam tem 90 anos e vive com a irmã em Sidney. O pai faleceu quando ele tinha 19 anos. Era com ele que Sam se entendia melhor.”O meu pai e eu sempre tivemos um relacionamento perfeito. Ele reconheceu-me como indivíduo. Era um relacionamento de iguais. Ninguém na família percebia isto. Pensavam que estávamos em luta constante quando afinal estávamos em diálogo constante”.

Mais Notícias

    A carregar...