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Só dois médicos aceitam fazer abortos no Hospital de Vila Franca

Só dois médicos aceitam fazer abortos no Hospital de Vila Franca

Em cinco dias, doze mulheres inscreveram-se no programa da IVG

A administração garante que, apesar das dificuldades, há condições para cumprir os prazos fixados pela lei. Os primeiros processos estão a correr normalmente.

Apenas dois dos dez obstetras que trabalham na maternidade do Hospital de Reynaldo dos Santos em Vila Franca de Xira aceitaram integrar o programa de Interrupção Voluntária de Gravidez (IVG). Os restantes declararam ser objectores de consciência. No hospital de Santarém 13 dos 19 especialistas também declararam impedimento para integrar o plano de aplicação da nova lei do Aborto que entrou em vigor no dia 15 de Julho. Se no caso de Santarém, o presidente do conselho de administração, José Josué, considera que os seis médicos disponíveis “são suficientes”, em Vila Franca de Xira têm surgido algumas dificuldades. “Temos alguns constrangimentos que nos criam dificuldades para assegurar os prazos mas estamos dentro dos limites”, explicou Lourenço Braga, vogal executivo do conselho de administração do Hospital de Reynaldo dos Santos.A unidade de Vila Franca de Xira registava, no dia 20 de Julho, seis processos de interrupção voluntária de gravidez. Cinco das mulheres inscritas já realizaram a primeira consulta e a ecografia para confirmar o processo de gestação. Segue-se o prazo de reflexão que é no mínimo de três dias. Até ao momento o hospital não recebeu nenhuma indicação de desistência e, tudo indica, que as doze inscritas vão continuar o processo e regressam para a segunda consulta antes de realizarem o processo abortivo.O MIRANTE conversou com uma das mulheres que vai recorrer ao aborto numa das unidades da região. Maria, nome fictício, 26 anos, explicou que foi apanhada de surpresa por uma gravidez indesejada. “Foi um descuido e não tenho condições para ter esta criança. Já tenho mais filhos e a situação familiar e económica não me permite”, refere. Maria confessa que já tinha feito um aborto ilegal. “Foi uma senhora enfermeira de Santarém”, relata. Na altura, há seis anos, pagou 60 contos (300 euros). Conhecia o risco que corria, mas “felizmente correu bem”.Aborto custa 340 a 1075 eurosA maioria das mulheres inscritas neste programa de IVG é formada por jovens com menos de 30 anos e, em muitos casos, mulheres sem relações estabilizadas. Optam pelos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) porque nas clínicas “os abortos são caros”. Em Lisboa, a Clínica do Arcos, (a outra privada que integra a rede é em Oliveira do Bairro) cobra 375 euros em abortos com anestesia local. Se optar por anestesia geral paga 475 euros. O processo obriga a uma estadia que não dura mais de três horas “se tudo correr normalmente”.No SNS, a tabela prevê um custo, suportado pelo Estado, de 341 euros para os casos em que há recurso a medicamentos e é dispensada a cirurgia e o internamento. Se houver intervenção cirúrgica, sem internamento, o preço sobe para 444 euros. Nos casos em que a paciente tem de ser sujeita a internamento os preços sobem para 829,91 euros com medicamentos e 1074,45 euros, se houver cirurgia. A rede de estabelecimentos autorizados integra 39 hospitais e duas clínicas privadas. As mulheres devem recorrer à unidade da sua área de residência.No Distrito de Santarém, o Centro Hospitalar do Médio Tejo acolhe as utentes de Abrantes, Tomar e Torres Novas. O Hospital de Santarém serve uma vasta área que vai desde Chamusca a Salvaterra de Magos. Enquanto as mulheres de Benavente e Azambuja recorrem a Vila Franca.As grávidas que recorram à IVG nos hospitais públicos ou nas clínicas têm garantido o anonimato e a confidencialidade do processo. Algumas fazem-no sem conhecimento dos parceiros ou dos familiares directos. Isaura, 32 anos, refere que já interrompeu dois processos de gravidez sem que o marido soubesse. “Ele é contra essas coisas”, justifica. A cantoneira já tem três filhos e tinha receio de não conseguir assegurar o sustento para mais um. “Para passar mal, mais vale assim”, remata.
Só dois médicos aceitam fazer abortos no Hospital de Vila Franca

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