Má gestão acabou com a Adega Cooperativa da Chamusca
Produtores ficam sem o dinheiro das últimas colheitas e direcção que extinguiu a Adega não presta declarações
A agonia da Adega Cooperativa da Chamusca chegou ao fim. A instituição fechou portas e a maquinaria já foi retirada do edifício e vendida a um empresário, elemento do conselho fiscal da própria adega da Chamusca, para ser montada na zona de Torres Vedras.Foi uma morte anunciada. A adega, com mais de 50 anos de serviço, fez um investimento avultado em 1998, que a direcção então encabeçada por João Carlos da Luz nunca conseguiu rentabilizar. Foi, aliás, com a actual direcção, que é acusada pelos sócios de má gestão, que a Adega entrou em colapso que se agravou a partir de 2003. Parte da colheita desse ano ainda não foi paga aos produtores que ali colocaram as suas uvas.“Deram-nos há dias um abono de um cêntimo por quilo de uvas da vindima de 2003, até pensei que era uma brincadeira”, disse a O MIRANTE, Joaquim Cláudio, que foi o presidente da direcção da Adega durante 20 anos, e que entregou o mandato aos actuais directores.Joaquim Cláudio aceita que os últimos anos não têm sido bons para as adegas cooperativas, mas também não tem dúvidas de que houve má gestão na adega da Chamusca. “Nos 20 anos que estive à frente da adega os produtores sempre receberam dentro dos prazos estabelecidos, porque tínhamos uma direcção presente, todos os dias passava uma ou duas vezes pela adega, falava com o pessoal, e quando havia qualquer problema telefonavam e eu ia de imediato para o resolver. Uma direcção de uma instituição como aquela não pode reunir uma ou duas vezes por mês à noite, e depois lavar as mãos, como faziam os directores actuais”, afirmou.Como não recebiam o dinheiro referente às suas produções, os produtores foram arrancando as vinhas, outros procuraram alternativas. Numa assembleia-geral realizada recentemente os sócios aceitaram que fosse feita a liquidação da Adega da Cooperativa de Chamusca e a sua venda. “A assembleia foi polémica, mas no final os sócios aceitaram o fim e a venda, mas estávamos convencidos de que seria possível manter a adega a funcionar no mesmo local, explorada por uma empresa particular”, disse a O MIRANTE Joaquim Cláudio.“Tudo foi feito muito rapidamente, não quiseram saber das eventuais propostas das empresas que se mostraram interessadas”, disseram também alguns associados da Adega que falaram ao nosso jornal.Um movimento de sócios, insatisfeito com a forma como as coisas estavam a ser tratadas ainda se terá proposto entrar com uma Providência Cautelar para evitar a retirada das máquinas. A rapidez com que a direcção agiu não deixou que isso acontecesse. “Retiraram todas as máquinas de afogadilho, um dia chegou para levarem dali quase tudo, foi muito estranho”, confessaram, certos de que vão ficar sem o dinheiro das uvas dos últimos anos de vindima. O MIRANTE tentou obter esclarecimentos junto do presidente da direcção da adega mas a resposta do outro lado do telefone foi negativa. Um dos actuais directores, que não quis ser identificado, garantiu no entanto que tudo foi feito de forma legal e correcta. “Os sócios ficaram a saber na assembleia-geral, onde aprovaram o fim da Adega, que as máquinas iam ser vendidas. E não chegaram quaisquer outras propostas à direcção. Quanto à rapidez da retirada das máquinas “isso era uma situação que eles também já sabiam, porque o comprador queria montá-las para funcionarem ainda na colheita deste ano”.
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