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A tradição da Senhora da Paz aconselha que ninguém negue as nomeações

A tradição da Senhora da Paz aconselha que ninguém negue as nomeações

A superstição diz que quem negar as funções de festeiro vai ter azar para o resto da vida. Os actuais organizadores indicam os sucessores a anunciar durante a procissão de Nossa Senhora da Paz.

Enquanto assistia à tradicional procissão que decorre sempre no domingo das festas em honra de Nossa Senhora da Paz, Paulo Rocha estava longe de imaginar que fosse ouvir o padre da vila anunciar o seu nome como o juiz das festas religiosas de Benavente para o ano de 2007.A surpresa foi grande e, ainda hoje, não sabe porque o escolheram para esta missão embora, desde o primeiro minuto, sempre tivesse noção que o ano que se avizinhava iria ser muito duro em termos de trabalho. E não se enganou. Nunca pensou sequer recusar a nomeação dado que, segundo a tradição, ninguém pode fazê-lo sob o risco de ser perseguido pelo azar. “A superstição diz que se não aceitarmos a nomeação para o cargo para o qual nos elegeram teremos muito azar e as coisas correm-nos todas mal. É uma forma de não dizermos que não à função que nos incumbem e também é uma maneira de mantermos vivas as festas da Senhora da Paz”, conta, explicando ainda que “o papel do juiz, tesoureiro e secretário é organizar a festa mas o juiz é que tem a palavra final quando existe alguma discórdia entre os membros da comissão organizadora”.A nomeação aconteceu em Agosto de 2006 e de lá para cá o trabalho não tem parado com a preparação dos cinco dias de festa que custam 175 mil euros. Nada pode falhar. É necessário escolher os artistas e os grupos musicais que vão abrilhantar a festa, enfeitar as ruas, tratar da comida e da bebida. Tudo é pensado ao mínimo pormenor. Mas para tudo correr bem é preciso dinheiro e tem que se pensar em várias soluções para angariar fundos que patrocinem as festas.“Temos um bar, o Esplanada da Festa, onde, ao longo do ano, vamos fazendo dinheiro que tem como único objectivo pagar os cinco dias de festa em honra da Senhora da Paz. A maioria das pessoas passa por lá para ajudar e muitas contribuem mesmo sem consumir nada. Para termos uma festa com qualidade é preciso termos dinheiro e não é nada barato organizar uma festa com qualidade”, refere.Apesar de considerar esta uma experiência bastante enriquecedora, Paulo Rocha, mais conhecido por “Salsinha”, admite que é cada vez mais complicado manter estas festas de pé e aponta a falta de dinheiro como o principal responsável. “Se a comissão trabalhar no duro durante o ano de modo a conseguir patrocínios que financiem a festa é possível continuar com a tradição. Não sei se daqui a dez anos será provável continuarmos a organizar as festas uma vez que as pessoas não têm dinheiro e, mesmo que queiram, muitas não têm hipóteses de nos ajudar”, alerta afirmando ainda que, “enquanto existirem condições, devem ser os populares a organizar as festas populares”.Segundo a tradição a nomeação de festeiros é exclusivamente masculina embora as mulheres tenham uma participação muito importante na organização das festas. As únicas presenças femininas nesta tradição são três crianças que, todos os anos, são eleitas juízas das festas. “Antigamente as famílias das meninas nomeadas juízas ofereciam um beberete onde todos comiam e elas ajudavam embora, actualmente, essa seja uma tradição que está a cair em desuso”, conta.A passagem de testemunho ao novo festeiro é feita no último dia de festa com a entrega de bandeira do antigo ao novo juiz que ficará encarregue da organização das festas do ano seguinte. “Outra tradição que desapareceu foi a de nomear pessoas que trabalham no campo para serem os festeiros. Como hoje existem cada vez menos homens no campo já se nomeia pessoas com outras profissões”, explica, Paulo Rocha, vendedor de material agrícola.Depois de um ano intenso de trabalho onde o tempo para descansar foi pouco chegou a hora de mostrar o trabalho realizado ao longo de doze meses. “Vai ser impossível desfrutar plenamente da festa porque temos que estar atentos para que nada falhe. Só vou conseguir aproveitar as festas em honra de Nossa Senhora da Paz no próximo ano”, lamenta.
A tradição da Senhora da Paz aconselha que ninguém negue as nomeações

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