uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Quando não havia incêndios florestais

Eu nasci nos anos vinte do século passado. Peço desculpa pelos erros mas sou quase analfabeto. Sei que me vão corrigir alguma coisa que esteja errada. Até à década de setenta raramente ouvi falar de incêndios florestais aqui em Ortiga, concelho de Mação. Nesses tempos havia muitos pinhais e muitas árvores. Algumas com mais de cinquenta anos pois não havia quem as comprasse. Como acontece hoje também havia muito mato. E havia muitos animais. Ovelhas, cabras, burros, machos, mulas e suínos.Alguns habitantes que não tinham mato compravam-no aos que mais tinham para fazer estrume que deitavam nas terras. Com ele arrecadavam para comer todo o ano, milho, feijão, pepinos, cebolas, alfaces, alhos e muito mais. Mas trabalhava-se.Ouvi uma vez falar de um incêndio de pouca gravidade. O comboio passa aqui e naquele tempo as locomotivas eram alimentadas a carvão. No tempo da guerra até eram alimentadas a lenha. Alguma fagulha deve ter incendiado o mato. Na altura se havia fogo tocava-se o sino cá da terra a rebate e toda a gente acudia. Não havia bombeiros mas tudo era resolvido. A partir da década de setenta tudo mudou. Começaram os incêndios em força. Os proprietários que tinham os pinheiros e que os iam vendendo aos poucos para se irem governando, ficaram pobres. Como tudo ardeu as árvores foram vendidas aos preços que os madeireiros quiseram pagar. Uma desgraça. Hoje não há nada. Muitos proprietários já morreram, os restantes estão velhos e arruinados. As suas propriedades foram abandonadas, os animais desapareceram. Isto é desolador.Fala-se todos os anos em limpar as matas. É tudo fogo de vista. Quem o vai fazer? De onde vem o dinheiro? Isto está bom para as empresas das aeronaves de combate aos fogos. São muitos milhares de euros que recebem.Manuel Pires Fontes – Ortiga

Mais Notícias

    A carregar...