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Rafael Oliveira é o novo seleccionador nacional de hóquei em patins feminino

Mais um “ribatejano” na equipa técnica que se propõe levar bem alto a modalidade ao nível de selecções

Não nasceu no Ribatejo, mas considera-se um ribatejano de alma e coração. Chama-se Rafael Oliveira, veio ao mundo em Lisboa, mas foi criado em Alenquer, onde cresceu e deu os primeiros passos no hóquei em patins como atleta, sendo praticante até à idade de júnior, até que uma lesão o impediu de jogar. Por esse motivo começou cedo a sua carreira de treinador (com 17 anos de idade), nas camadas jovens do Sport Alenquer e Benfica, onde treinou todos os escalões do clube, desde as escolas até a adjunto de Victor Pinheiro, na equipa sénior. Treinou com sucesso algumas equipas ribatejanas e agora foi convidado para seleccionador nacional do hóquei em patins feminino.

Ser seleccionador de hóquei em patins, numa fase em que a modalidade ao nível das selecções não atravessa um bom momento é um grande desafio?É um enorme desafio. Mas ser o seleccionador nacional e integrar a equipa de técnicos da Federação de Patinagem de Portugal, é sem dúvida uma forma digna e aliciante de elevar a modalidade ao nível das selecções nacionais, como tal vou dar o meu melhor para que o projecto da Federação e da sua direcção técnica tenha o sucesso. Como é que um treinador de província consegue chegar a seleccionador nacional?Penso que o trabalho desenvolvido ao longo da minha carreira de treinador, mais recentemente no União do Entroncamento, o facto de também em termos de formação ter correspondido às exigências, as minhas ideias, a minha maneira de estar no hóquei, a minha mentalidade vencedora e o facto de acreditar profundamente no projecto das selecções nacionais e naqueles que são os seus mentores levou a este convite. O que muito me lisonjeia e enche de orgulho e responsabilidade. O convite vem provar também que as selecções não pertencem a nenhum lobby de professores de educação física, mas mas possibilitam que seja dada oportunidade àqueles que com competência, dignidade e respeitando critérios bem definidos podem com o seu esforço e com o seu trabalho ajudar a levar bem alto o nome de Portugal e do hóquei em patins português.Qual o conhecimento que têm do hóquei feminino, que praticamente não existe aqui na região?De facto é com muita pena que constato que no Ribatejo o hóquei feminino tem uma expressão praticamente nula, sendo que o Sporting de Tomar tem sido excepção, havendo inclusive uma grande vontade de voltar a impulsionar a participação de uma equipa nos campeonatos nacionais. Espero que a minha passagem como seleccionador, assim como a do meu antecessor, o professor Paulo Lopes, possa servir para que o hóquei feminino na região, possa ter o impulso necessário para um dia destes vir a ter representação nos campeonatos nacionais.De qualquer forma a nível nacional o hóquei feminino já não é tão restrito como era à alguns anos atrás, há neste momento focos de desenvolvimento muito interessantes, com maior força no norte, mas também com equipas espalhadas um pouco por todo o país. O bom trabalho efectuado nos clubes ou na maioria destes, e ao nível das selecções, fez com que o hóquei feminino tivesse dado um pulo em termos de desenvolvimento.Quanto ao meu conhecimento, haverá com certeza alguns aspectos que irei aprofundar com o normal desenrolar das funções para as quais fui nomeado, com a observação que irei efectuar de uma forma efectiva e intensa e com o apoio de todos os agentes envolvidos, irei com certeza desenvolver um trabalho que nos irá dignificar a todos sem excepção. Mas não sou propriamente um ignorante, o meu envolvimento com o hóquei é total, por esse motivo tenho informação e conhecimento quanto baste para poder garantir que irei fazer um bom trabalho.Se tivesse que convocar desde já as jogadoras para uma selecção, tinha bases para isso, ou este trabalho que vai efectuar até ao final do campeonato da Europa com a direcção técnica nacional, seria decisivo para uma informação completa?As duas coisas são verdade. Neste momento se tal me fosse solicitado, não tinha a mínima duvida em fazê-lo e construiria uma boa selecção, iria alterar muito pouco em termos de convocatória actual. Considero correcta a avaliação que tem vindo a ser seguida até aqui e as consequentes decisões. Mas considero muito importante para obter uma informação mais completa, a oportunidade que a Federação e a sua Direcção técnica me estão a dar, de poder participar desde já no trabalho em estágio e na competição (campeonato da Europa), para que a minha integração seja total e plena a todos os níveis e com isso todos possamos beneficiar em termos de futuro.Começa então a seguir ao campeonato da Europa, a sua responsabilidade total em relação às selecções femininas. A partir dessa altura vai colocar em prática as suas próprias ideias?Sim, será a partir daí que será da minha responsabilidade a condução das selecções femininas e claro que irei colocar em prática as minhas ideias, porque senão não fazia sentido ser o Rafael Oliveira o seleccionador. Mas é bom que fique esclarecido que a Federação de Patinagem de Portugal e a direcção técnica Nacional, têm um projecto para as selecções nacionais e, ao contrário do que alguns afirmam por manifesta ignorância, é um projecto viável, muito completo e riquíssimo e no qual eu acredito profundamente. Esse projecto tem tudo o que o hóquei precisa para o seu crescimento, desenvolvimento e ressurgimento ao nível dos média. Não falta nada neste projecto. Pena é que o nosso país não contemple com verbas projectos que, como este, poderiam ser decisivos para a implementação da modalidade a todos os níveis. E também em função disso a obtenção de resultados desportivos, muito mais satisfatórios no plano nacional e internacional. Todos os técnicos das selecções vão trabalhar dentro de um projecto que tem linhas bem delineadas, com critérios e objectivos planeados e bem definidos, mas dando sempre um cunho pessoal ao trabalho que irão desenvolver, este projecto não é castrador, pelo contrário, permite a integração de tudo o que o possa melhorar. Eu enquanto técnico, acredito que posso não só contribuir para que os objectivos deste projecto sejam cumpridos, como acredito também que posso contribuir para o engrandecer, vou trabalhar em equipa, não só porque quero, mas porque é do interesse nacional e porque em equipa há sempre melhores perspectivas de conseguir resultados, o tempo do ”eu quero posso e mando” e “do que foi feito para trás está tudo mal” e “agora é como eu quero porque eu é que sei”, já acabou e com as consequências que todos conhecemos, mas que muitos teimam em tentar manter escondidas, por isso o hóquei chegou onde chegou e por isso há que o reconstruir. É isso que esta equipa da qual eu agora faço parte pretende e tudo irá fazer para o conseguir, porque a vontade de vencer e a vontade de servir Portugal de uma forma lógica, inteligente e que garanta o futuro é muito grande.“O hóquei na região continuaa ser uma modalidade popular”Vai acumular o cargo de seleccionador Nacional com o de treinador do Santa Cita. Em sua opinião como está o hóquei na região do Ribatejo?O hóquei na região continua a ser uma modalidade popular. Mas há que separar as águas em relação ao que se faz ao nível da formação e ao nível dos seniores, porque se olharmos para o hóquei sénior as coisas até nem estão muito más, pois temos a Juventude Ouriense na 1ª divisão, o Sporting de Tomar e o UF Entroncamento na 2ª e se trabalharem bem e acima de tudo melhor poderão ser ainda mais fortes e ambicionar a mais do que a simples manutenção, pois nem só do dinheiro dependem os bons resultados e a luta pelos lugares cimeiros. Temos o Santa Cita e os Tigres de Almeirim a quererem subir para a 2ª e para isso têm vindo a melhorar de ano para ano, temos ainda o mediano Corujas de Coruche, que mesmo na terceira pode e deve ambicionar a fazer melhor, depois pela negativa temos o CN de Rio Maior, que continua a não aproveitar o facto de poder juntar jogadores de grande valia que estudam na universidade local. Por fim temos o estreante Gualdim Pais que é uma estreia em seniores, mas que se aguarda com alguma expectativa, ora este quadro de equipas é muito interessante e promete nos casos que referi, vir dar uma maior representatividade à região.E na formação? As coisas não estão bem?Formação propriamente dita, só há dois focos onde ela existe de facto, porque são dois projectos que têm pernas para andar e se ainda não deram frutos foi porque têm faltado técnicos capazes de executar com eficácia esses bons projectos. Falo do Hóquei Clube de Santarém (HCS) e do Sporting de Tomar, estas são quanto a mim as escolas mais bem montadas em termos de estrutura. O HCS deu agora um passo em frente ao contratar para os seus quadros e para trabalhar na formação o Lúcio Morais, respondendo assim com a possibilidade de juntar a qualidade à quantidade existente. O SP Tomar tem um técnico que trabalha bem na formação que é o Pedro Nunes, é manifestamente pouco para o potencial que existe no clube. A partir daí a Juventude Ouriense, será o clube que também vai fazendo alguma coisa às revoadas, tal como a Gualdim Pais que não tem escalões, mas que tem rentabilizado o pouco que tem, mas com muito pouco de positivo em termos de formação. O Santa Cita recomeçou com as camadas jovens e tem vindo a fazer uma ascensão importante o que indica que existe trabalho com qualidade e se pensarmos na reorganização estrutural que o clube está a fazer, pensamos que em breve o Santa Cita possa vir a ser um exemplo de sucesso, a partir daí o trabalho nos outros clubes é basicamente nulo ou meramente pontual, o que tem de levar forçosamente os responsáveis a fazer uma introspecção e tirar conclusões para que o quadro se altere, mas para isso nunca bastará a boa vontade que é coisa que faz falta mas não chega.Há falta de exigência nas camadas de formação?Claro que há. Nós quando metemos um filho na escola exigimos que no fim do ano lectivo ele esteja mais preparado para os desafios que vêm no ano a seguir. Pergunto porque é que no hóquei não havemos de querer a mesma coisa? Porque é que um treinador que se propõe treinar uma equipa não há-de ser avaliado no final, para ver se os jovens foram ou não preparados com rigor. Aqui entram também os pais, que devem ter uma grande exigência, quer com os treinadores e clubes, onde até pagam uma mensalidade, quer com os seus filhos, como aliás fazem em relação à escola, mas sem os querer substituir nas suas funções como também se vê muito, exigindo sim, rigor e qualidade para que os filhos possam evoluir e poderem vir a ser o que quiserem ou forem capazes, na modalidade.Porquê a aposta no Santa Cita?Apesar de alguns convites antes e depois de eu ter optado pelo Santa Cita, a minha escolha prendeu-se com o facto de este clube com características tão sui generis, ter sido o primeiro a apresentar-me um projecto concreto. É um projecto envolvente, que engloba o Luís Miguel Cunha, outra das razões da minha escolha, assim como o seu pai o Sr. Barroca da Cunha e o seu irmão Rui Pedro, homens que sabem o que querem para o Santa Cita, depois também toda a equipa e staff que compõe o clube foram determinantes para a minha escolha. É uma aposta grande com uma reestruturação dinâmica e total do hóquei do clube, desde as camadas jovens aos seniores, que me deixou muito satisfeito e motivado para dar o meu contributo e transmitir também a minha experiência, enquanto técnico e homem do hóquei.O que é que lhe pediram?Pediram-me que os ajudasse a concretizar aquele que é o seu grande objectivo, que é levar de volta a equipa à 2ª divisão nacional. Um objectivo que não tenho dúvidas que com o grupo de trabalho que tenho à minha disposição, está perfeitamente ao nosso alcance. Para já garanto que o grupo vai trabalhar muito e bem para que no final, possamos dar uma grande alegria a toda a gente, não só em Santa Cita, mas também na região, levando com isso o hóquei em patins do Ribatejo a um patamar ainda mais elevado.Como é que a sua família vê o seu cada vez maior envolvimento com a modalidade?A minha família é o meu bem mais precioso, como tal só poderiam estar coniventes com esta minha paixão, até porque eu cheguei aquela fase em que já nada decido sem falar com a família, portanto se eu não sentisse o seu apoio incondicional, assim como o seu orgulho em ver e promover este passo em frente na minha carreira de treinador, jamais aceitaria, até porque o sacrifício já é grande devido à minha ausência forçada, sempre que é necessário, mas foram incondicionais no seu apoio e deram-me a maior força para aceitar este novo desafio tão engrandecedor, que é o de seleccionador Nacional feminino.

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