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O homem das finanças a quem os colegas chamam “forreta”

Quase dois anos passados sobre o início do mandato o saneamento financeiro da autarquia continua por fazer. Perante a actual conjuntura há hipótese de dar a volta à situação?Há. É de notar que foram dois anos de lutas difíceis, em que apresentámos uma série de soluções para o saneamento financeiro. Algumas foram reprovadas pela oposição, outras conseguimos fazer. Consolidámos o passivo de curto prazo que é aquele que causa maiores problemas, cria constrangimentos de tesouraria e ao mesmo tempo estão do outro lado empresas que precisam do dinheiro.Não terá sido extemporâneo na campanha eleitoral prometer soluções para a dívida da autarquia em 100 dias?Não. Na campanha estudámos a situação financeira da autarquia. É verdade que não sabíamos o montante global da dívida, o que só aconteceu quando já estávamos em efectividade de funções. Saiu-nos praticamente o dobro do passivo que era conhecido nos documentos de balanço da autarquia. Naturalmente isso causa problemas. As propostas apresentadas também não convenceram a oposição?Se as pessoas se recordarem, ao final de 60 dias já estávamos a apresentar na câmara um pacote de soluções financeiras que passavam por renegociação dos empréstimos de médio e longo prazo, de contratação de empréstimos de curto prazo, constituição de três empresas municipais e uma operação de leaseback que se tivesse sido feita nessa altura poderíamos já ter feito o saneamento financeiro da autarquia. Grande parte dessas propostas foi chumbada pela oposição.Tem sido complicado gerir a câmara em situação de maioria relativa?É sempre complicado porque por vezes geram-se alguns bloqueios. A oposição muitas vezes comporta-se não sendo pró-activa no prosseguimento dos interesses do concelho mas com interesses politico-partidários. Mas em determinadas alturas temos tido contributos importantes da oposição, principalmente da CDU. Do Partido Socialista acho que posso dizer que até este momento não tivemos qualquer contributo positivo.Uma frase que se tem ouvido cada vez com mais frequência é que não há obra feita neste mandato. É uma injustiça?Sim. Não se pode ver só a obra edificada. Há grandes obras que estão a ser feitas no nosso concelho e que se prendem com quatro áreas essenciais: educação, desporto, acção social e cultura. São acções imateriais mas que têm tido muita expressão no concelho. O povo gosta de ver obras no terreno. Penso que as pessoas sabem fazer esse discernimento e não é só o alcatrão que as pessoas vêem como obra. A revolução cultural que foi feita neste concelho é significativa e reconhecida por todos. A grande aposta na educação com a melhoria das condições nas escolas também é notável. O trabalho da rede social que está criada no concelho também tem produzido obra, como a atribuição de diversos fogos de habitação social. E no desporto o processo preparatório para criação de novas infraestruturas. As pessoas devem compreender que as obras não surgem de um momento para o outro.Estão a guardá-las para a segunda fase do mandato?Não, de forma alguma. No nosso mandato não assumimos quaisquer objectivos eleitoralistas. Temos conduzido as coisas conforme vamos conseguindo. Temos constrangimentos porque muitas aprovações estão dependentes de terceiros, o que leva a que os processos levem mais tempo que o desejável. E fazer obra em cima do joelho, sem projectos bem criados e bem consolidados, também não é obra.Há projectos que vieram do anterior mandato e que a actual maioria rejeitou. Como o da requalificação do Campo Infante da Câmara. Não há aí um desperdício de recursos?Não. Temos que apresentar projectos que sejam sustentáveis do ponto de vista do funcionamento e da utilização. Criar obras que não tenham utilização por parte das pessoas ou para ficar a dever, como aconteceu com anteriores executivos, não é boa política.Como é ser vereador das finanças numa casa onde o dinheiro não abunda?Talvez seja a situação pior. Porque são quatro vereadores a fazer despesa nos seus pelouros mas a gestão dos pagamentos, dos planos financeiros cabe ao pelouro das finanças, que, embora partilhado entre mim e o presidente, naturalmente é um peso muito grande. Além disso temos centenas de fornecedores com dívidas com muito tempo e que nos pressionam diariamente.Os seus colegas do executivo também o pressionam para lhes dar mais dinheiro para os seus projectos? Também. Nas nossas gestões internas cada um procura dentro da sua área tentar pressionar.É um “mãos largas” ou é forreta?Sou forreta. Eles têm dito isso e reconhecido que tento fazer uma gestão equilibrada dos parcos recursos que existem. Dá dinheiro de bom grado para as festas que o presidente criou?(risos) Sendo o presidente um homem de cultura era de esperar que esse fosse um dos pelouros onde iria mexer de forma mais activa. Por vezes custa-me abrir os cordões à bolsa, mas compreendo que o peso relativo das despesas com cultura no orçamento global não é significativo. E temos de saber ler aquilo que os nossos eleitores querem e gostam. Nas actividades que temos promovido tem-se assistido a uma adesão em massa.A oposição critica os elevados gastos em festas neste mandato. Uma autarquia em situação financeira débil não devia ter outras prioridades?É complicado. Dentro do espectro de actuação de uma câmara temos actividades, acções e obras que se destinam a um número mais reduzido de pessoas e temos acções que se destinam a um número mais alargado. E a cultura é um desses casos. A crítica da oposição seria válida se só interviéssemos e gastássemos dinheiro na cultura e não gastássemos noutras áreas. Mas estão à vista todos os projectos que estamos a desenvolver em todas as áreas de intervenção da câmara.Havia mesmo necessidade de se fazer uma festa paralela enquanto decorria a Feira Nacional de Agricultura no CNEMA?Não foi uma festa paralela. Enquanto representantes dos nossos eleitores somos também mandatários das tradições de um povo. E a Feira do Ribatejo é uma tradição do povo escalabitano que não pode ser deixada em mãos alheias. O CNEMA não tem defendido essas tradições?Não tem defendido até agora.

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