uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

“Seria decepcionante se Moita Flores não se recandidatasse”

Ramiro Matos, vice-presidente da Câmara de Santarém e líder local do PSD

Teimoso, combativo, adepto de desportos radicais, aos 30 anos Ramiro Matos tomou em mãos a missão de endireitar as finanças da Câmara de Santarém e devolver o bom nome a uma autarquia que deve milhões a fornecedores. O jovem advogado que é número dois de Moita Flores diz que ficaria decepcionado se o presidente não se recandidatasse. Garante que não está apegado ao poder nem tem grandes ambições políticas, embora confesse que um dia gostaria de ser presidente de uma junta de freguesia.

O presidente da câmara, Francisco Moita Flores, tem dado sinais de que poderá não se recandidatar. Enquanto presidente da concelhia de Santarém do PSD e vice-presidente da autarquia como vê essas declarações?Quando uma pessoa tem um estilo de vida completamente diferente, como era o caso do dr. Moita Flores, escritor, professor universitário, homem das artes, e passa para um ritmo diferente, para problemas constantes e muito diferentes, é natural que se possa desmotivar. Mas acho que é uma pessoa que encontra motivação em projectos. E não tenho dúvida que com os desafios que se colocam a Santarém com o novo quadro comunitário de apoio, com a possibilidade de grandes projectos de reabilitação urbana, vai querer pelo menos finalizar algumas coisas que neste momento estão a ser iniciadas. Os mandatos de quatro anos são curtos. Acredito que sendo um homem de projectos, um homem de missão, vai querer recandidatar-se.Ficava frustrado se Moita Flores não se recandidatasse?Ficava. Defendemos que as pessoas não se devem eternizar nos lugares. Mas termos a possibilidade de colocar os nossos serviços e projectos em prol da população e não lhes dar continuidade ou não os conseguir acabar é muito complicado. Seria para mim decepcionante se o dr. Moita Flores não se recandidatasse.A tese de que está tudo combinado para o senhor o substituir a meio do próximo mandato - isto colocando como certa a sua recandidatura e vitória nas próximas eleições - tem algum fundamento?Na cidade já se disse muita coisa. Disse-se que não iríamos ganhar. Depois disse-se que o dr. Moita Flores nem sequer iria tomar posse. Depois de tomar posse disse-se que se iria embora, mais tarde que faria só meio mandato e agora já se evoluiu. Isso não passa de rumores e de má-língua. Havemos de estar com certeza a meio do próximo mandato e as pessoas estarão a dizer que será no fim desse mandato. Não há nada combinado nesse sentido. O futuro a Deus pertence.O senhor tem uma personalidade forte. O presidente da câmara também. Tem sido complicado gerir essas características? Não porque já nos conhecemos há algum tempo. E conhecemos bem os pontos em que os nossos feitios podem colidir. Então fazemos tudo para os evitar. Brigas não existem nem nunca existiram, mas por vezes temos posições diferentes sobre determinado assunto. Mas temos sempre procurado encontrar uma solução única através do diálogo. O que tem acontecido até agora.Há coesão neste executivo?Acho que há muita coesão. Infelizmente somos só quatro. E estando cada um de nós muito sobrecarregado com os pelouros por vezes reconheço que existe alguma falta de diálogo. Porque estamos embrenhados diariamente nas nossas tarefas. Um jovem com 32 anos é vice-presidente de uma câmara capital de distrito, líder da concelhia do PSD e há muitos anos que anda metido na vida política. Não tinha nada mais interessante para fazer na sua juventude? Certamente que tinha. Aos 18 anos fiz-me militante do PSD porque acreditava na política e na ideologia social-democrata e nas pessoas que estavam à frente do partido. A partir dessa altura tentei participar na vida do partido. Fui militante em Santarém e quando fui estudar para a Universidade Católica em Lisboa transferi a minha militância para lá.Foi sempre um militante activo?Tentei sempre ser. Sempre fui muito ideólogo e os partidos são meios, são veículos para a participação das pessoas. Quando voltei a Santarém para exercer a minha actividade profissional de advogado, que exerço há 10 anos, procurei novamente na estrutura local alguma participação. Até que há 5 anos um grupo de pessoas entendeu que eu teria condições para disputar a liderança local do partido e aceitei esse desafio.Foi uma batalha que “fez sangue” dentro do partido.Fez sangue dentro do partido, não era uma vitória esperada, mas os votos são dos militantes. A partir daí procurei estar na política de forma descomprometida, nunca profissionalmente. Gosto muito da minha profissão.Continua a exercer advocacia?Até há pouco tempo estive em regime de não exclusividade, só que o tempo que é exigido para a autarquia não se compadecia com isso. Mas mantenho a minha inscrição válida na Ordem dos Advogados. Gosto muito da minha profissão e não abdicaria dela por nada. Neste momento sinto-me numa missão, não quero ser político profissional e não me quero eternizar na vida pública.“Gostava de ser presidente de junta”Pelo seu currículo político deduz-se que é uma pessoa ambiciosa. Às vezes geram-se imagens que não correspondem à realidade. Todos os cargos que exerci foram a pedido de pessoas e penso que por aquilo que demonstrei profissionalmente e na sociedade.Quer dizer que não tomou a iniciativa nem se pôs em bicos de pés para chegar onde chegou?Exactamente. Sou vice-presidente da câmara a convite do dr. Moita Flores.Chegou a vice-presidente de uma câmara capital de distrito. Gostava de ir mais além?Não gostava. Não quero dizer que estou aqui obrigado ou a fazer um sacrifício, porque não estou. Gosto do que estou a fazer, mas não é daquelas coisas que se pode dizer: “eu vou fazer tudo para lutar por isto”. Não estou apegado ao poder. Não há um qualquer outro cargo político que gostasse de experimentar?Há um cargo que acho que me daria prazer desempenhar um dia mais tarde, o de presidente de junta de freguesia. Tenho pensado nisso muitas vezes. Há quem o veja como uma pessoa conflituosa, que gosta do despique político e é adepta de rupturas. Foi assim aliás que ganhou a concelhia do PSD. Esse perfil corresponde à verdade?Não corresponde nada. Eu sou é um homem de causas. E quando acredito numa causa não consigo que alguém me esteja a contrariar. Sou uma pessoa combativa…E teimosa?Sou teimoso. Talvez tenha a ver com a profissão. O advogado quando vai à barra do tribunal tem de defender o interesse do seu cliente acima de tudo. E é aquilo que eu faço. Quando estou a defender a ideologia do meu partido ou o trabalho do executivo às vezes sou um bocadinho intolerante com posições que acho que são completamente infundamentadas. Tenho consciência que transmito essa imagem às pessoas que não me conhecem. Quem me conhece sabe que sou afável, que prezo a amizade, os consensos. Agora quando é para a luta ninguém me agarra. Fui educado para lutar pelas coisas.Foi pai pela segunda vez recentemente. Não sentiu vontade de abrandar o ritmo?No subconsciente penalizo-me todos os dias por não conseguir abrandar o ritmo. Mas esta vida é tão intensa que não consigo ter as coisas por fazer. E infelizmente tenho sempre qualquer coisa por fazer. O pelouro financeiro é uma inquietação constante e a protecção civil igualmente. Não há noite em que não esteja na câmara até à uma, duas, três da manhã…A dívida da câmara não o deixa dormir. Ou melhor, dorme consigo…Exactamente. Ou não dormimos os dois para estarmos sempre atentos um ao outro. Isto é viver a vida com uma intensidade muito grande. Durmo entre quatro a seis horas por noite.Como é que um político explica à família tanto tempo de ausência?Estamos sempre em dívida com a família. Não estamos lá nos momentos certos, quando devíamos estar, nos dias de aniversários, de almoços ou jantares de família. Ali não há argumento que sirva porque eles têm sempre razão.Tem tempo para mais alguma coisa sem ser fazer política?Procuro ter.O que é que vai conseguindo fazer?Procuro ter tempo ao fim de semana para a família essencialmente. Para praticar algum desporto, sobretudo desportos mais radicais como BTT ou o canyoning. Também tenho uma mota de água, mas nos últimos dois anos acho que saiu da garagem uma vez. E gosto muito de ler. Sou um consumidor de jornais compulsivo. Quanto a livros, ultimamente não tenho conseguido.Já leu o último romance de Moita Flores?Já comecei, li até meio. Achei uma história interessante que mistura o romance com a actividade legal, que é uma área que me diz muito. A minha mulher já leu, já me contou algumas partes mais aliciantes e eu vou ver se consigo ler até ao final.

Mais Notícias

    A carregar...