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A fadista que cantou com os Rolling Stones diz que é o público que faz os grandes concertos

A fadista que cantou com os Rolling Stones diz que é o público que faz os grandes concertos

Ana Moura actua na sua Coruche natal e vai provar que os santos da casa também fazem milagres

Gravou com os Rolling Stones para o projecto de Tim Ries. Em Junho quando o grupo cantou em Alvalade foi convidada a subir ao palco para um dueto com Mick Jagger. A fadista Ana Moura diz que a fama não lhe subiu à cabeça e que vive tranquilamente com tudo o que lhe acontece na vida. Dia 17, sexta-feira, canta nas festas da Nossa Senhora do Castelo, na sua terra natal que é Coruche. Diz que cantar em casa é algo com que sempre sonhou.

Depois de cantar em grandes salas do Mundo e de ter gravado estado em palcocom os Rolling Stones, como se sente quando sobe ao palco de uma festapopular como a Festa de Nossa Senhora do Castelo em Coruche?Não são os grandes palcos que fazem os grandes concertos mas sim o público presente. Neste caso particular conto com o facto de cantar nas festas da minha terra natal, algo com que sonho desde pequenina.Nota-se nas suas entrevistas o fascínio pelos grandes palcos de grandes cidades. O fado não nos deveria remeter para ambientes mais íntimos e "quase sagrados" como as casas de fado e as salas pequenas? Consigo vai desaparecer a célebre frase dos apresentadores: "Silêncio que se vai cantar o fado”?Às vezes nos locais próprios onde a intimidade e o sagrado deveriam acontecer não acontecem porque não há interacção entre o ambiente e o intérprete, logo não se deve tomar o efeito pela causa. No lado oposto há fadistas que conseguem, em qualquer espaço fazer saltar o íntimo e o sagrado. Esta é a diferença entre ser-se fadista ou não. Um bom fadista carregará sempre consigo esse sagrado e  essa intimidade inerentes ao fado. É esse um dos mistérios do fado. Espero que comigo essa frase – “Silêncio que se vai cantar o fado” - se mantenha por muito mais tempo.Há um site seu na Internet que apenas tem texto em inglês e francês. A globalização e standartização da música estão a ser vantajosas para quem canta coisas originais como a fadista Ana Moura?No campo musical onde me movo todo este processo se torna vantajoso no sentido de mais facilmente fazer chegar a todo o lado o que o artista é e o que faz. É uma forma dos tempos modernos de aproximar mais os povos fazendo ao mesmo tempo com que nos conheçamos melhor independentemente da barreira linguística.O que guarda de Coruche e que influência é que isso tem na sua forma de estar na vida e na sua actividade? Ainda tem ligações regulares à vila ou prefere pensar nela apenas como um local onde tem as suas raízes?Eu faço parte de Coruche e Coruche faz parte de mim. A nossa infância persegue-nos por toda a vida. Logo a dicotomia Ana Moura-Coruche não existe. Coruche está indelevelmente presente no que eu canto, no que eu faço e no que eu sou.Começou a cantar pop e rock. Agora com os Rolling Stones voltou a sentir as marcações próprias desse tipo de música. No fado, que alguns consideram uma espécie de jazz, os cantores sentem-se mais livres e deixam as preocupações técnicas para os músicos?A liberdade de recriar é uma das mais apaixonantes vertentes do fado. A inconstância melódica que me é permitida em cada frase musical, ao sabor do momento, é um dos fascínios do fado. No entanto penso que com os músicos com os quais trabalho se passa exactamente o mesmo, nunca a resposta da guitarra ou da viola é igual, nunca a resolução é a mesma. Esta interacção e esta liberdade foi uma das grandes causas da minha assunção como fadista."Viemos Nascidos do Mar", o fado que o Fausto Bordalo Dias compôs para o seu último disco, "Para Além da Saudade", foi - como já o confessou - um dos temas que exigiu mais de si em estúdio. Quando o apresenta ao vivo ainda sente o peso dessa responsabilidade ou já está perfeitamente à-vontade?Ao vivo todas as músicas exigem de mim igual responsabilidade que é interpretá-las o melhor possível. No entanto, à medida que as canto mais fácil se torna essa responsabilidade. Quando me sinto totalmente à vontade é quando a música deixa de ser minha para passar a ser eu. Quando fecho os olhos e ela flui como uma extensão de mim.Como está a viver esta altura da sua vida e da sua carreira? Alguma vez pensa no efémero ou não tem angústias dessas?Vivo tranquilamente com tudo o que me acontece como uma profunda aceitação da vida, por isso não alimento esse tipo de angústias. Só o tempo o diráse o que faço hoje é efémero ou não. Se ficar na história do fado entãocumprirei aquilo para que penso ter nascido e nada terá sido em vão.Que tipo de espectáculo vai apresentar em Coruche? Vai resguardar-se e dar o palco a convidados ou vai tentar provar que tal como acontece com a Nossa Senhora do Castelo, também no fado os santos da casa podem fazer milagres?Quando canto não me resguardo e assim vai ser em Coruche. Os meusconvidados são um presente para as pessoas da minha terra e em comunhão com elas tentarei provar que, tal como a Nossa Senhora do Castelo, os santos da casa também fazem milagres.É religiosa?A vida não pode ser, segundo eu, uma paixão efémera que dura do berço à cova. É nisto que se fundamenta a minha religião. Algo de superior nos rege e nos espera.Tem alguma superstição?Não me considero uma pessoa supersticiosa na verdadeira acepção da palavramas também não desdenho.Quem escolhe o seu guarda-roupa para os espectáculos?Conto com a colaboração do José António Tenente.Foi difícil escolher a roupa para ir ao palco cantar com os Rolling Stones? Pensou em algo mais clássico? Mais fado?Fui vestida normalmente para quem vai assistir a um concerto, uma vez que quando fui convidada já estava no estádio.
A fadista que cantou com os Rolling Stones diz que é o público que faz os grandes concertos

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