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As chamadas privadas e a situação da economia

Não sei quem foi o inventor do sistema que permite a identificação de quem liga para o nosso telefone mas deixo-lhe aqui o meu sincero agradecimento. Foi uma invenção esplêndida, principalmente porque coincidiu com a entrada em força no mercado das vendas por telefone, conhecidas pelo eufemismo de telemarketing. Agora, mais do que dizer que só atendo quem quero e quando quero, posso dizer que só atendo se for parvo.A minha avó, cuja cabeça é um reservatório sem fundo de sabedoria popular da boa, sempre me ensinou que ninguém nos bate à porta para nos dar nada. Nem bate à porta nem telefona, acrescento eu com base na minha experiência pessoal. E o dito foi formulado muito antes dos economistas, que têm a mania que inventam tudo, terem começado a utilizar a expressão, presumo que importada, não há pequenos-almoços grátis.Quando chego a casa vou sempre consultar o meu barómetro da economia. Através do registo de chamadas privadas feitas para o meu telefone fixo ao longo do dia, fico imediatamente a saber em que situação está a economia nacional. É um sistema mais infalível que os complexos sistemas utilizados pelo Banco Central Europeu e pelo Instituto Nacional de Estatística. Zero chamadas significa que estamos no paraíso. Quatro a seis telefonemas a coisa está a ficar negra. Dez a doze registos, o país mergulhou numa crise profunda. Pelas horas dos telefonemas também é possível detectar que apesar da crise o país não tem emenda. O primeiro telefonema privado costuma ser feito para o meu telefone fixo depois das dez da manhã. Em Portugal começa-se a trabalhar muito tarde. A minha avó tinha um outro ditado referente a esta matéria mas não vou maçar ninguém com ele. Em contrapartida são dez da noite e o telefone continua a tocar. À noites que em vez de ligar o rádio ou a televisão fico a ouvir concertos de trim tim tim.Continuo a ter telefone fixo porque tenho família à antiga. Pessoas que amo mas que não se entendem com telemóveis. Desde que tenho um aparelho com identificação de chamadas a minha vida é mais tranquila. Quando é número privado não atendo. Quando é um número desconhecido, deixo tocar e, mais tarde, se a curiosidade me estiver a roer os nervos, ligo para o 118. Nessa alturas, com muito raras excepções, uma voz muito informática informa-me que o número que indiquei é privado. Claro que tudo isto é assim quando estou sozinho em casa. Quando a minha mulher está sai a sorte grande ao pessoal do telemarketing. Ela atende tudo. E ao primeiro toque. Rui Ricardo

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