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Matar a contragosto

É interessantíssimo o mais recente livro de Zita Seabra. Intitula-se “E Foi Assim”. Relata a sua passagem pelo Partido Comunista Português, desde a adesão aos organismos juvenis até à sua expulsão, depois de ter ocupado lugares de direcção.Naturalmente, alguns aspectos levantam alguma polémica quanto ao rigor do que ali se encontra relatado. Avulta o que respeita à invenção do “serviço cívico”: um ano de interregno na vida dos estudantes antes da entrada na Universidade, imposto logo após o 25 de Abril de 1974.Contudo, outras matérias parecem ser bem mais consensuais e fáceis de compreender.Zita Seabra explica que, na clandestinidade, o partido era avesso à prática de assassinatos. Designadamente, não era defendida a morte de antigos militantes que tivessem traído a organização, mesmo quando denunciavam à polícia política camaradas seus.Todavia, a autora salienta que a todos era ensinado o que se havia passado com Manuel Domingues, antigo militante considerado traído.Nenhum militante comunista dizia que o homicídio de Domingues fora encomenda do PCP. Afirmavam somente que a polícia política considerava ter sido o Partido Comunista a decidir matá-lo.Por outro lado, o discurso oficial comunista era o de que, ao ter sido assassinado Manuel Domingues, tinha-se feito justiça.Ora tudo isto faz sentido e encaixa perfeitamente na lógica do PCP, durante o Estado Novo.Como já aqui referi anteriormente, a organização não era autofágica nem defensora de assassinatos.Após o 25 de Abril, houve dois grupos de extrema-esquerda, no seio dos quais se praticavam homicídios de inocentes, mas também de antigos aderentes tidos como traidores, numa atitude de canibalismo metafórico. Eram o PRP-BR e as FP-25.Essa não era a filosofia do Partido Comunista.Como compreender, então, aquela doutrina a propósito do homicídio de Manuel Domingues?Tratava-se de um caso de prevenção.Não estava em causa castigar um traidor. Não se queria exercer retaliação ou vingança nem se pretendia tirar desforço.A finalidade era preventiva.O desejo era evitar que ele fornecesse indicações à polícia política.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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