
Quando o calor aperta banhistas ignoram os avisos de perigo
A qualidade das águas fluviais é aceitável mas nem sempre existe vigilância
Centenas de pessoas ignoram a falta de vigilância em muitas praias fluviais e os avisos afixados relativos à qualidade da água e arriscam um mergulho que lhes pode custar a vida ou causar problemas de saúde.
Domingo, três da tarde, a família Rodrigues diverte-se com uma bola na Barragem de Magos, Salvaterra de Magos. Depois de um almoço “leve”, e com a temperatura a rondar 30 graus, ninguém resiste a entrar na água que é desaconselhada para banhos e pesca por excesso de coliformes e óleos minerais. O mais novo dos Rodrigues, é André, seis meses feitos no dia anterior. Lá está ele ao colo da mãe que o molha com as mãos húmidas por uma água imprópria para banhos. “Tem ali uma placa a dizer que não é bom tomar banho, mas a gente vem para aqui há três anos e graças a Deus nunca aconteceu nada”, revela Joana Rodrigues.A família vive no Prior Velho, às portas de Lisboa, e troca as praias pela barragem. “Aqui podemos comer, beber, pescar, dormir e não gastamos muito dinheiro. É só o gasóleo da carrinha”, explica José Rodrigues, enquanto vigia uma das canas de pesca.As águas da Barragem de Magos apresentam uma cor acastanhada e um estado considerado “mau”. As últimas análises efectuadas detectaram excesso de coliformes fecais, óleos e de outras substâncias medidas ao abrigo da directiva que afere a qualidade das águas. A Câmara de Salvaterra de Magos colocou uma pequena placa à entrada do estacionamento que desaconselha os banhos na barragem, mas o aviso “é pequeno” e muitos banhistas ignoram-no.Tomar banho em zonas não vigiadas também é um risco. A última morte na barragem, que não é vigiada, foi de um imigrante de Leste, faz agora um ano. Borta Igor, residente em Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, foi passar lá o dia com um grupo de amigos da mesma nacionalidade e afogou-se.Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo, é um exemplo positivo. A praia é vigiada pelos bombeiros e as águas, classificadas como “aceitáveis”, apresentam uma cor bem mais clara que na maioria das praias de rio da região. Na tarde de domingo, havia dezenas de banhistas no local. Apesar da vigilância, Valada também faz parte dos pontos negros do Tejo. Já lá morreram várias pessoas.No concelho de Coruche, os açudes do Monte da Barca e da Agolada são espaços protegidos onde não faltam motivos de interesse para uma tarde bem passada. Há sombras, espaços para piquenique, estacionamento e espelhos de água a perder de vista para banhos e pesca. Na Agolada, os nadadores salvadores dos “Búzios” estão sempre atentos e as placas que balizam as zonas de banho são visíveis mesmo para os mais distraídos. A informação sobre a qualidade “aceitável” da água também está logo na entrada do parque. As últimas análises de 16 de Julho revelam a existência de coliformes, mas não atingem os níveis preocupantes como afiança José Alves que é frequentador do espaço com a família há mais de 10 anos. “Isto melhorou muito”, refere com a segurança de quem passa várias horas de molho e come o peixe pescado no açude. A praia fluvial de Carvoeiro, concelho de Mação, uma das seis praias fluviais do país a ser galardoada com a bandeira azul, é a única do distrito de Santarém a exibir, desde 28 de Junho, aquele símbolo de qualidade. Um galardão que confirma a qualidade das águas, as excelentes condições e a segurança que proporciona aos munícipes e visitantes do concelho de Mação.No concelho da Chamusca, junto à aldeia do Arrepiado, um grupo de crianças mergulha no Tejo “sem medos”. João David confessa que passa boas tardes de Verão naquele local e diz que “nunca aconteceu nada de especial”. Os mais antigos recordam que foi no rio que aprenderam a nadar, mas reconhecem que hoje os perigos são outros. “O rio tem muito lixo e torna-se perigoso”, avança Luís Ribeiro, 68 anos. E há lixo em todo o lado. Que o diga, João Fortunato que a semana passada foi surpreendido por um esquentador quando se banhava no rio Sorraia em Benavente. “Nem queria acreditar”, confessa o mecânico que desafia a corrente nas tardes de Verão.

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