Há 14 anos que Baptista-Bastos tem casa em Constância. Gosta de ali passar alguns dias. A maior parte das vezes na companhia da esposa. Mas não foi em casa que recebeu os jornalistas de O MIRANTE. Preferiu a esplanada à beira-Tejo. Quando lhe perguntamos se também acha que Camões viveu ali, como defende a jornalista Manuela Azevedo – responsável pela edificação na vila da Casa-memória de Camões - responde que se não viveu poderia ter vivido e que nos compete fazer que tenha vivido porque todos precisamos de lendas e sonhos. E acrescenta: “Há versos dele que parece terem sido escritos aqui. Além disso Camões fica bem em qualquer lugar de Portugal.” Tem uma aparência fresca e jovial. Uma caneta espreita no bolso da camisa. Os gestos são largos, exuberantes, expressivos. Fala com paixão. Sempre. Parece não ter outra forma de dizer as coisas. Usa óculos de aros dourados que ajeita frequentemente. Sorri um sorriso cativante. Exalta-se quando fala nos políticos, nas injustiças. Mexe no telemóvel que poisou em cima da mesa da esplanada. Tem o cabelo branco cuidadosamente penteado. De vez em quando leva aos mãos aos colarinhos como se procurasse endireitar o laço, que usa em alturas mais formais em vez de gravata.Ao longo da conversa repete algumas das ideias-chave da sua vida. Não é por distracção, é por convicção. No final do seu último livro “As Bicicletas em Setembro”, saído em Maio deste ano, fez publicar um texto auto-biográfico intitulado “A obstinada teimosia”. A certa altura escreve: “ Na Imprensa e na Literatura sou um narrador ‘participante’; quero dizer: recuso a falácia da ‘distanciação’ e da ‘neutralidade’, que têm afastado leitores e desprezado a cidadania. E adianto: em todos os textos (literários ou jornalísticos) subjaz profunda componente ideológica. Se me emociono com a tragédia do homem, como posso deixar de utilizar as palavras que devolvam a dimensão dos comportamentos e a natureza dos conflitos?”.