uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

O vício de trabalhar na noite

Luís Carlos Martins começou como barman e agora é dono de um bar

Trabalhar de noite pode tornar-se um vício. E como todos os vícios começa por acaso. Um primeiro emprego fora de horas e Luís Carlos Martins nunca mais quis outra coisa. Mesmo quando teve que trabalhar de dia nunca deixou de “dar uma mãozinha” num trabalho nocturno.

Luís Carlos Martins trabalha de noite há vinte e um anos. Começou aos 18, na já desaparecida “esplanada do Araújo”, situada no parque de merendas de Tomar. Nunca tinha pensado na restauração e o emprego não lhe parecia ter grande futuro mas foi naquela altura que lhe nasceu a vontade de continuar – “Isto é um vício. Habituamo-nos de tal maneira, que não queremos deixar”. Da esplanada passou por algumas casas mais conhecidas da noite tomarense. O currículo é extenso. Depois foi de empregado a proprietário. Primeiro em sociedade e a seguir sozinho. Quem o conhece, não tem dúvidas. Luís Carlos Martins é dos proprietários da noite que melhor recebe. Por isso o pequeno bar que possui junto ao Flecheiro, já se tornou num lugar de passagem obrigatória. “O Luís tem sempre uma atenção especial com os clientes”, referem alguns. O dono do Duplex reconhece que é preciso algo mais do que servir bebidas para manter uma porta aberta. “Pelos sítios onde andei, tentei sempre aprender mais”, refere. E os sítios por onde andou incluem uma aventura pela Alemanha, onde foi tradutor, e pelos caminhos que um comercial tem de percorrer, quando se dedicou à venda de batatas fritas – “Por acaso até gostei, mas dava sempre uma mãozinha na noite”.Quem opta pelo trabalho nocturno, tem um ritmo de vida diferente do normal. A hora de levantar costuma acontecer por volta do meio-dia. Isto agora, porque Luís Carlos está a dedicar-se a cem por cento no bar. Há algum tempo atrás, acumulava a noite com a actividade comercial, o que significava dormir poucas horas. “Quando era obrigado a levantar-me às 9 da manhã era complicado”, confessa. Isto porque a hora normal de ir para cama nunca fica longe das 6 da manhã. O bar abre todos os dias, “não há folgas”, e fecha portas apenas às quatro. Depois do encerramento, é preciso mais uma ou duas horas para “descomprimir”, ri.Entretanto, o dia que começou ao início da tarde, já foi cheio. É Luís Carlos que organiza a reposição das bebidas no bar. Uma actividade que acumula com a limpeza – “é o mais difícil de manter por causa do pó que entra com a passagem dos carros”. O caminho em frente ao bar ainda não está alcatroado e, como a zona ainda vai ser alvo de obras para os arranjos exteriores prometidos pela câmara e previstos no programa Polis, tão cedo não haverá descanso nesse aspecto. “Tenho dias que limpo as mesas ao início da tarde e quando vou para abrir já estão cheias de pó”. No entanto, Luís Carlos não é homem para desistir. Sem ter descanso semanal, porque “é preciso pagar as contas”, o empresário sonha manter o bar como uma casa de referência em Tomar. Os únicos que não gostam da ideia são os filhos. Um casal, de 6 e 8 anos, que na semana que ficam com o pai, em sequência do acordo de divórcio, são “obrigados” a ir até ao bar. “Eles gostavam de ir a outros lados, mas agora não posso. Nem levá-los à praia. No próximo ano, talvez”, diz Luís com o olhar perdido.De todos os atributos que são necessários para manter uma casa de diversão nocturna aberta, o empresário reconhece que lhe falta apenas um. “Não me peçam para pôr música, que eu não percebo nada”. Por isso contrata sempre quem sabe do assunto. Talvez por isso, o pequeno bar do Flecheiro tornou-se no local escolhido por muitos para terminar a noite a “dançar”. “O que falta na noite tomarense é mesmo um espaço para fechar. Cá já não há. É por isso que se nota que as pessoas vão cada vez mais para fora”, sublinha. “A noite em Tomar está má”, acrescenta.

Mais Notícias

    A carregar...