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Galhardo Serafim das Neves

Galhardo Serafim das Neves

Roubaram a pistola do regedor. Esta foi a notícia que mais me marcou da edição da semana passada. A arma repousava pacificamente no cofre da câmara da Chamusca e foi levada com mais de três mil euros que também lá estavam. Para mim o mistério não é saber quem levou a pistola do regedor. O que me intriga é o facto de a arma ter sobrevivido ao afã leiloeiro do presidente da câmara. Como sabes o Sérgio Carrinho vendeu velharias a esmo ao longo de gloriosas manhãs de sábado. Garrafões, carimbos, talhas de cento e cinquenta litros, resmas de papel selado, fotografias e postais ilustrados do tempo da Maria Cachucha e até a célebre placa que proibia a mendicidade. A pistola escapou porquê? Aos mais novos convém explicar que o regedor era uma espécie de xerife à portuguesa. Não usava cavalo para fazer as rondas, porque já naquela altura o Orçamento Geral do Estado não permitia alimentar um solípede daquela envergadura, mas exercia a autoridade nas vilas e aldeias do Portugal profundo e do Portugal assim-assim, a golpes de sachola ou de qualquer outro utensílio agrícola que tivesse à mão. Até hoje eu desconhecia que o regedor tinha pistola. Se calhar tinha mas só lhe deviam deixar pegar nela uma vez por semana. Aos domingos não porque era o dia consagrado ao Senhor. Se calhar aos sábados. Só meia-horita para ele se sentir feliz. Não há registo de algum regedor ter dado tiros em alguém. Eu, pelo menos, nunca li nenhuma notícia dessas naqueles volumes encadernados de jornais regionais velhos que existem em algumas bibliotecas. A única coisa que vejo por lá, são fotos de inaugurações e de figurões. Mas voltando à pistola do regedor. Estaria ela ao serviço da câmara da Chamusca? E em caso afirmativo, quem estaria autorizado a usá-la? E em que circunstâncias? Aqui há tempos li que o município conseguiu cobrar quase todas as dívidas relativas ao fornecimento de água. Terão os cobradores usado o histórico bacamarte para convencer o caloteiros? E se o presidente da câmara fosse atacado por algum fornecedor que lhe viesse reclamar um pagamento com mais de três anos de atraso? Quem é que ia ao cofre, numa corridinha, buscar a pistola do regedor para o defender? Tenho perguntas que nunca mais acabam. Tens alguma resposta para mim ou já estás com vontade de me dar um tiro?E já ouviste falar de caralhotas? O que sabes tu das caralhotas? Alguém me disse que gosta de comer caralhotas. Tu gostas de comer caralhotas? Explicaram-me que comer caralhotas não é grave uma vez que se trata dum pão tradicional de Almeirim. Será? Não me estão a enganar? Olha que aquela terra é danada para a brincadeira. Imagino os diálogos que se estabelecem no dia-a-dia entre os indígenas. “Ó menina, pssttt, psst…você mesmo. Mas que lindos melões. Quer trocá-los pela minha caralhota?”. Eu já sabia, porque li no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de António Morais da Silva, que uma rapariga caralheira é uma rapariga brincalhona, estouvada. E como é que uma rapariga chega a caralheira? Será por comer muitas caralhotas? Antes das despedidas não podia deixar de fazer uma referência às Festas de Samora Correia. O segundo comandante dos bombeiros diz que o balanço foi positivo porque só houve onze feridos nas largadas de toiros. Cá para mim o homem não é ribatejano de gema. Balanço positivo o tanas!!! Acontecimentos taurinos daqueles sem, pelo menos, um quarteirão de colhidas a sério, não são acontecimento nem são nada. Não é por acaso que espectáculo que meta toiros leva logo a designação de Festa Brava. E se é brava…Saudações festivas do Manuel Serra d’Aire
Galhardo Serafim das Neves

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