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“Não espero milagres, só que a equipa mostre o que vale”

Como é que um padre aparece como presidente de um clube de futebol profissional?Sempre estive ligado ao futebol e sobretudo ao Desportivo de Fátima. Faz parte da minha vida. Em 2000 voltei para Fátima, depois de ter estado dez anos como pároco em Ourique. O clube confrontava-se com uma crise financeira que se agravou com as dívidas ao fisco. O presidente demitiu-se em finais de 2002 e eu, que era praticamente o seu braço direito, fiquei com o clube nas mãos.E conseguiram dar a volta à situação.Resolvi juntar um grupo de 20 pessoas para formar uma comissão administrativa e tirar o clube do buraco. Foi em dois meses praticamente, Novembro e Dezembro. Estava em vigor o plano Mateus que concedia perdão fiscal a quem pagasse até 31 de Dezembro. Com uma grande engenharia pagámos tudo, falámos com os particulares a quem devíamos, conseguimos alguns perdões e também adiamento de prazos de pagamentos. O certo é que um ano depois o clube estava em condições de formar uma direcção. E assim chegou a presidente.Fui obrigado a assumir a presidência por dois anos e as coisas correram bem. Repusemos a credibilidade do clube, conseguimos o estatuto de utilidade pública que permitiu aceder a alguns subsídios, investimos forte nas camadas jovens, melhorámos as instalações e criámos uma equipa competitiva. Cumprimos todos os objectivos e chegámos agora à Liga de Honra.O clube tem estrutura para se aguentar no futebol profissional?Antes de lá chegar duvidava e achava que ia ser muito complicado. Por isso criámos uma equipa modesta, sem nomes sonantes. Só o Veríssimo tem experiência da Primeira Liga. O tempo vai correndo a nosso favor, vai mostrando que afinal não é tão difícil como julgávamos. Vamos ver o futuro.É fácil conjugar a vida eclesiástica com uma actividade tão mundana como é o mundo do futebol?O futebol não é mundano, é uma actividade sadia…Mas por vezes está associado a coisas que não são muito sadias…Por vezes torna-se uma selva. As pessoas vão para os campos para insultar, para criar confusões, mas o futebol em si é um desporto bonito, saudável.Tem tempo para conjugar essas várias facetas?Tenho. Não posso estar sempre dentro da igreja. Dou à igreja o tempo necessário, ponho sempre em primeiro lugar a minha actividade, e dou ao futebol aquilo que posso. Por isso rodeio-me de pessoas mais disponíveis que eu para acompanhar as diferentes actividades. É o que acontece neste momento.Costuma pedir à Nossa Senhora de Fátima para ajudar a equipa?Não é preciso. Basta dizer aos jogadores que tenham juízo, que se portem bem e, claro, também pedir saúde e sorte. Porque a vida de uma pessoa depende de muitas circunstâncias. Desde que tenham saúde e pujança o resto vem por acréscimo.Aproveita as palestras com os jogadores para, entre aspas, os catequizar?O recado que dou aos jogadores é sempre o mesmo: que sejam homens, desportistas, que respeitem o adversário e evitem confusões. Essa é a forma correcta de estar na vida, até do ponto de vista religioso. É isso que significa também ser cristão. É respeitar e considerar o outro um irmão.Já algum atleta lhe pediu apoio espiritual?Normalmente há problemas na vida de cada um, uns mais graves que outros. E já tem acontecido com alguns tratar de assuntos mais delicados.Já confessou algum atleta?Isso não são coisas chamadas para aqui, nem é o mais importante (risos). O mais importante é ter uma boa relação com eles. E isso tenho.Como é que a hierarquia da Igreja vê a sua ligação ao futebol?Só tenho colhido simpatias. Tanto do senhor bispo de Santarém, que brinca sempre a esse respeito, como aqui de colegas meus. Acho que toda a gente aprecia e apoia esta minha actividade.O Santuário de Fátima apoia o clube de alguma forma?Dá um pequeno subsídio, porque acha que não é sua missão apoiar o futebol. Tem uma grande admiração por nós, sobretudo no que toca à ocupação das crianças. Os apoios do Santuário muitas vezes vêm para a compra de uma carrinha, para os exames médicos das crianças. Não se situam muito no âmbito do futebol profissional.Que “milagre” é que gostava que acontecesse à equipa este ano?Não espero milagres. Só que a equipa mostre aquilo que vale.E acredita em milagres fora do futebol?Naturalmente que sim.Acredita nas aparições de Fátima?Acredito e conheço pessoalmente situações que fariam muita gente pensar a sério. Fazem pensar profundamente.Este mundo precisa de mais fé? Que as pessoas olhem mais para dentro?Muito mais. E o vazio em que esta sociedade de consumo está a cair reflecte-se num mal-estar geral, numa perda de valores preocupante e num mundo que se torna cada vez mais violento e menos feliz.

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