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Um padre com vocação empresarial que se sente atraído pela política

António Pereira dirige o Centro Desportivo de Fátima e as paróquias de Amiais de Baixo e Abrã

Se não fosse padre, António Pereira seria provavelmente empresário e estaria ligado também ao mundo da política. São duas facetas que nunca experimentou a sério mas de que vai sentindo o sabor graças às múltiplas actividades que desempenha. Trabalho não lhe falta. Lidera o Centro Desportivo de Fátima que entrou esta época no mundo do futebol profissional. É pároco de Amiais de Baixo e Abrã, freguesias do concelho de Santarém. Dirige ainda uma instituição ligada a crianças deficientes. “Sou uma pessoa que gosta de empreendimentos, de projectos”, confessa.

Quando é que descobriu a vocação sacerdotal?Foi aos 10 anos. Decidi de um momento para outro. Terminei a 4ª classe e pensei nisso. Era uma coisa que naquela altura se via em muitas crianças e jovens. Conheci também alguns que já estavam no seminário e decidi ir para lá também. Vim aqui para Fátima, para o Seminário Monfortino.Nunca passou por crises de fé e de vocação?Todos temos momentos altos e baixos. Posso dizer que tenho sido uma pessoa feliz na minha vida, tenho-me realizado plenamente. Sou uma pessoa com muita actividade e isso ajuda a superar os problemas. E depois, com bastante dinamismo, tenho tido sempre uma actuação de bastante qualidade por onde passo.Nunca pensou em abandonar o sacerdócio?Nunca. Antes de ser padre ainda pensei seriamente em repensar a minha vocação. Mas uma vez que assumi, pronto…E passou pela tentação de romper o celibato?(risos) Uma coisa está ligada à outra. Passei por muitas situações a nível profissional, lidei com muita gente, sobretudo do mundo da escola, do ensino, com professores, com raparigas, com gente muito nova. Nas paróquias tive sempre uma grande ligação com a juventude, sobretudo nos Estados Unidos. Foi sempre uma actividade que me fascinou e que me ajudou também, digamos, a equilibrar-me psicologicamente.A questão do celibato devia ser mais discutida no interior da Igreja?É um problema que não é de hoje, é de todos os tempos…E é aceite pacificamente por si?Pessoalmente, já não vejo problema nenhum. Mas não sei se no futuro não se terá de rever essa situação. Eu via com bons olhos a ordenação de homens casados, que já tivessem experiência, que tivessem dado provas de uma vida familiar bastante positiva. Os seminários deixaram de atrair jovens.Sim. Aquelas formas tradicionais de educação acabaram. Os seminários menores já não têm grande razão de ser no tempo em que vivemos. Hoje tem se procurar as vocações já em pessoas adultas, com uma certa experiência de vida e que sabem o que querem.Acha que as mulheres poderão algum dia celebrar missa?Será difícil. Ouvi alguém há dias afirmar que isso nunca irá acontecer, porque é uma tradição de dois mil anos. Os doze apóstolos eram todos homens. A Igreja moderna optou por essa posição e penso que não é agora que vai romper com ela.Consegue imaginar como seria a sua vida se não tivesse optado pelo sacerdócio?Às vezes tenho pensado nisso e seria com certeza muito diferente. Teria emigrado para a Venezuela como fizeram os meus pais e os meus irmãos pouco depois de ter entrado para o seminário. Logo aí haveria uma mudança radical na minha vida. Mas penso que não teria perdido nada da minha maneira de ser se fosse para o mundo empresarial.Tem veia para o negócio?Acho que tenho. Sou uma pessoa que gosta de empreendimentos, de projectos. Aliás na minha vida já ajudei a fazer cinco igrejas novas, reconstruí mais de vinte, construí também salões paroquiais, recintos desportivos… Tudo isso me tem passado pelas mãos.Gosta de deixar marca por onde passa?Sinto-me bem nesse mundo do investimento empresarial.Nunca foi aliciado para a política, tendo todo esse dinamismo?Tenho penas às vezes de ser padre. Gostava também de ter uma voz na política.Isso não é impedimento. Há colegas seus que são autarcas.Acho que tem de haver muita prudência da nossa parte e uma grande neutralidade. Mas às vezes gostava de ter uma intervenção política. Acho que seria um mundo que me iria seduzir.Se fosse para a política estaria à esquerda ou à direita?Sou um indivíduo que não gosta de falar de esquerdas nem de direitas. Para mim fazer alguma coisa é dar o corpo ao manifesto. E ir para a frente, dar o exemplo. Não falar mas fazer. Essa seria a minha forma de actuar.Mas terá a sua simpatia partidária.Defino-me como um social-democrata. Respeito os valores da liberdade, da igualdade. Isso enquadra-se numa área de social-democracia, de socialismo aberto. Não me vejo a tomar posições radicais.

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