“Não tenho perfil para cargos públicos”
O seu carro foi incendiado durante a noite. Teve medo nessa altura?No episódio do carro não, mas tive medo depois desse episódio quando me tentaram incendiar a casa cujo processo de investigações foi arquivado por falta de provas. Continuo a acreditar que estas situações não podem estar relacionadas com política. Isto é feito por gente inconsciente que não mede as consequências. Se a casa tivesse ardido as dos vizinhos também ficavam em perigo.A sua casa é o seu bem mais importante?É lá que tenho as minhas pernas porque o dinheiro que recebi de indemnização do acidente usei-o a recuperar a casa que estava a cair. Pensou mudar alguma coisa quando foi alvo destas situações?A minha filha disse-me que devia sair de Alpiarça, um amigo aconselhou-me o mesmo. Mas considero que não devo sair e se alguém me quer mandar embora daqui tem que ser de outra forma. Admitiu abandonar a política?Não! E se estas situações fossem por motivos políticos também dificilmente o faria, porque assim estava a tolerar a injustiça e a intolerância. A sua maneira de ser, a sua personalidade faz com que ganhe inimigos?Deve haver muita gente que não gosta de mim, não tenho dúvidas disso. Mas também é gente que não me conhece verdadeiramente e só me vê na minha face pública. Há pessoas que não sabem distinguir o que é ser adversário de inimigo. Sabe que é considerado uma pessoa arrogante…Não é só em Alpiarça que isso acontece, noutros sítios já me chamaram também arrogante. E se há mais que uma pessoa que me chama arrogante é porque se calhar sou. Ou se calhar dou essa imagem porque todos nós temos que ter as nossas defesas. E talvez por causa de várias situações da minha vida, da deficiência, me torne arrogante para proteger a minha insegurança. O clima de guerra entre o PS e a CDU em Alpiarça não se está a transformar em casos de guerras pessoais?Se transformam coisas políticas em coisas pessoais é o mesmo que dizer que nesta terra quando um partido ganha as eleições os derrotados têm que ser postos na rua da terra. A democracia não é isto. É viver com pontos de vista diferentes. O PS local está dividido?O partido em Alpiarça é igual ao PS nacional. Há doze anos tínhamos poucos quadros. Houve uma altura em que apareceram duas listas às eleições da concelhia socialista e isso foi interpretado como uma divisão mas depois chegou-se à conclusão que não era. Um candidato tinha avançado sem saber que o outro também estava a fazer uma lista. É um dos militantes antigos e um dos rostos mais visíveis do partido, porque é que nunca aceitou um cargo, por exemplo, de vereador?Nunca fui convidado mas também não tenho perfil para cargos desses. Se não tivesse tido o acidente não andaria na política com a visibilidade que me atribui. Estaria provavelmente no topo da minha carreira profissional como supervisor de cabine. Depois, como vereador teria que andar no terreno e nas minhas condições não o poderia fazer se o terreno não estivesse adaptado. Porque diz que não tem perfil?Pela minha condição física mas porque também há outras coisas que gosto de fazer, como jogar ténis. Gosto de ser livre e poder fazer o que gosto. Estou como tesoureiro na Associação Portuguesa de Tripulantes de Cabine e defini à partida um horário para acabarem as reuniões para poder ir treinar ténis. O partido não vive sem a sua presença?Tenho a certeza que viveria tão bem ou melhor se não estivesse lá. Não sou indispensável em coisa nenhuma. Toda a gente é substituível. Não marco a diferença dentro do PS. Tem adversários dentro do próprio PS?Sei que há pessoas que acham que sou muito útil enquanto outros consideram que sou prejudicial pela minha forma de actuar, de estar. Mas não me posso reinventar. Sou o que sou. Alpiarça está condenada a ser um concelho que não se consegue afirmar na região?Há projectos que podem colocar o concelho no mapa, como o desenvolvimento da zona industrial. Atendendo à dimensão geográfica aceitaria que Alpiarça deixasse de ser concelho?Isso nunca pode acontecer. Não tem lógica. Alpiarça teria que ser integrado nos concelhos de Almeirim ou Chamusca com os quais não tem nada em comum. Temos uma identidade própria que marca a diferença.
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