Ludgero Mendes é uma das almas do folclore em Santarém
Presidente do Grupo Académico de Danças Ribatejanas que organiza o Festival Internacional Celestino Graça
Para defender as raízes e tradições não são necessários fundamentalismos, diz Ludgero Mendes, homem ligado ao folclore e à tauromaquia que nutre uma paixão intensa por Santarém. A cidade onde esta quinta-feira começa mais uma edição do Festival Internacional de Folclore que ajudou a projectar.
A ousadia de um jovem de 15 anos que escreveu uma carta para a Rádio Ribatejo a rebater os argumentos do locutor de um programa de então, “que de tudo mal dizia”, chegou ao conhecimento de Celestino Graça. Rapidamente o etnógrafo fundador da Feira do Ribatejo ficou a conhecer a personalidade de Ludgero Mendes e a aproximação de ambos foi natural. São episódios como este que foram marcando a vida do presidente do Grupo Académico de Danças Ribatejanas e organizador do Festival Internacional de Folclore Celestino Graça, que hoje conta com quase tantos anos dedicados ao folclore quanto o meio século de vida que completou.Por afinidade com colegas de liceu entrou para o folclore, a “modalidade” que até aos dez anos nada lhe dizia. Primeiro o grupo infantil, depois o grupo académico. A convivência com as raparigas também era motivadora. Na escola ou no autocarro caminhavam por terrenos separados. “Nas viagens ao estrangeiro arranjávamos sempre namoradas”, recorda Ludgero Mendes, que acabou por casar com Teresa, que já integrava o grupo, de quem tem dois filhos, Gonçalo e Inês, que também alinham no folclore. Por isso quando a família sai para o folclore fecha-se a porta de casa.O percurso folclórico começou pela dança. Mais tarde quando o físico já pesava, iniciou-se a cantar e hoje costuma dar uma perninha a tocar instrumentos de ritmo quando é necessário, ferrinhos, bilha ou cana rachada. Nascido e residente em Santarém, bancário de profissão, Ludgero Mendes é orador de reconhecidos méritos em diversas temáticas. O próprio se considera “especialista” em alguns temas, em particular folclore, tauromaquia e Santarém.Passou pelo associativismo em dezenas de colectividades e associações. Da Associação de Futebol de Santarém, União Desportiva de Santarém, Sociedade Recreativa Operária, Associação Estudo e Defesa Património Histórico-Cultural Santarém, Movimento Santarém 21, passando pelo grupo Académico de Danças Ribatejanas que dirige e pela vice-presidência da Federação de Folclore Português, para citar alguns. Voluntarista e não “papa-cargos” é como se define. “Sou excessivamente voluntarista e grato pelo que faço, não digo que não a nada. Nem tenho mentalidade para ir para o café depois de jantar deixar passar o tempo”, assegura. Esse afã levou o seu médico de família a aconselhá-lo a baixar o ritmo de vida há cerca de dez anos. Parou uns meses mas retomou os velhos hábitos. Só abandonou alguns vícios do prato, adepto que é da comida rústica, como um bom cozido à portuguesa.Outro vício é a tauromaquia. Adepto da festa brava, de ir as corridas de touros em Portugal e em Espanha, é também crítico tauromáquico com uma rubrica no Correio do Ribatejo e tem dois programas na Rádio Pernes. Um sobre tauromaquia às sextas-feiras e outro sobre as tradições ribatejanas aos sábados. “Sempre gostei da tauromaquia pela vertente estética da arte do toureio e a sua ligação de base à cultura tradicional, onde também entronca no folclore”, explica Ludgero Mendes. A queda para o folclore não significa que o etnógrafo seja insensível a outras sonoridades. É adepto de música clássica, algum rock e música ligeira. Edith Piaf, Sérgio Godinho, Amália, Teresa Noronha, Teresa Tarouca, Tonicha, Zeca Afonso, Fausto, estão entre os artistas preferidos. O ponto alto do folclore no Ribatejo é o Festival Internacional Celestino Graça, desde 1995 organizado fora do âmbito do Centro Nacional de Exposições. Um modelo que é para continuar, segundo Ludgero Mendes, de forma a manter as actividades complementares como jogos tradicionais, gastronomia e animação de rua. O festival teve a sua primeira edição em 1958, na Feira do Ribatejo. Apesar de há muito estar ligado ao folclore não se considera um purista das tradições, apenas quer vê-las bem retratadas nos eventos em que são representados. “O importante é não haver fundamentalismos. Como exigir que os elementos de um grupo, especialmente os mais novos, enverguem os trajes desde as três da tarde até à meia-noite, desde a recepção na câmara até irem para a cama. É uma violência”, sustenta. Isso, ou querer-se que não se coloquem microfones na lapela e coisas do género. Ludgero Mendes confia que a juventude, bem enquadrada nas associações, vai conseguir estar mais integrada na realidade do folclore, e não enveredar apenas pela muita oferta desportiva, cultural e lúdica com que os jovens contam actualmente. Com quase 30 anos como bancário, Ludgero Mendes vislumbra também a reforma para poder tirar o curso de Antropologia e escrever sobre Santarém, sobre folclore e as suas questões técnicas.
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