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O padre que queria ser futebolista

António José Antunes exerce nas paróquias de Pontével, Lapa, Vale da Pedra e Valada

Confesso adepto do desporto o padre Tó Zé pratica futsal, natação e anda de bicicleta. Gosta de ler livros de espiritualidade, teologia e também um romance de vez em quando. No cinema aprecia filmes de qualidade e com uma boa história.

António José Antunes, “padre Tó Zé” como é mais conhecido, 41 anos, nasceu na Serra, Tomar, no pequeno lugar de Carvalhal. Em terra dos chamados “patos bravos” e com cinco irmãos ligados à construção civil, acabou por enveredar pela vida de sacerdote. Foi ordenado padre em 1992, com 26 anos, pelo então bispo de Santarém, D. António Francisco. Esteve nove anos como pároco da Olaia, Torres Novas. Deu ainda apoio em paróquias como a Golegã, Riachos, Entroncamento e Chancelaria (T. Novas), antes de se estabelecer no Cartaxo, onde exerce há seis anos. “Sou padre da Diocese de Santarém e, em obediência às solicitações do senhor bispo, estou onde sou necessário. A estratégia pastoral adapta-se à realidade de cada lugar e até é bom mudar de ares. Os padres novos devem ter essa flexibilidade”, comenta. António José diz sempre ter encarado bem a mudança, mesmo quando teve de conhecer a realidade do sul do Ribatejo, que desconhecia. Nas quatro paróquias do Cartaxo encontrou pessoas iguais em dedicação e apoio. Apenas nota alguma diferença na prática dominical menos intensa do que a norte da região.Nas quatro paróquias do Cartaxo onde exerce – Vale da Pedra, Valada, Pontével e Lapa – estão marcadas essas diferenças. De Valada com cerca de mil habitantes, mais envelhecida e com poucos jovens, a Pontével, mais urbana, com várias colectividades e uma dinâmica própria, que se repercute no número de crianças a frequentar a catequese.Foi com tenra idade, aos 13 anos, que António José começou a despertar para a fé. Depois de terminar a tele-escola, um pároco local e um colega que já tinha sido seminarista influenciaram-no. Foi para o seminário de Vila Viçosa em 1979 e ali esteve durante alguns anos, sempre com o apoio dos pais. Com oscilações e altos e baixos, amadureceu ideias e com 18 anos deu o passo em frente já no seminário de Almada-Cristo Rei. Acabaria por concluir o seminário Patriarcal dos Olivais, em Lisboa e o curso de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.Uma das situações que sempre o fez pensar duas vezes foi o futebol, já que tinha em mente ser jogador da bola. “Sempre gostei de jogar futebol e quando era mais novo pensava em ser futebolista”, recorda. Ainda hoje pratica futsal, até em torneios inter-diocesanos. Confesso adepto do desporto o padre Tó Zé pratica ainda natação e anda de bicicleta. Gosta de ler livros de espiritualidade, teologia e também um romance de vez em quando. No cinema aprecia filmes de qualidade e com uma boa história. O gosto pelas coisas normais da vida já o levou a viver alguns episódios caricatos. Como em idas à praia para mergulhar no mar e aproveitar o sol em que deu de caras com alguns dos paroquianos com quem convive habitualmente que, em vez de batina ou roupa informal, o viram de calções de banho no areal da Nazaré, recorda com um sorriso.“Não é meu papel enviar recados”É ao lado da igreja matriz do Cartaxo, na casa paroquial, que vive com dois outros padres. Local onde partilham alegrias e preocupações, visões da missão pastoral do Cartaxo. Com 41 anos, António José diz conseguir falar bem com os jovens mas considera que mais que a idade conta a mentalidade e a postura de cada um. Apesar disso, durante as eucaristias não procura tocar em questões sociais e outras, como alguns colegas mais arrojados fazem. “Apenas quero transmitir a palavra de Deus aos domingos e dizer a todos o que Jesus diria às pessoas do nosso tempo. Não é o meu papel enviar recados”, sublinha.Vida de padre não é apenas deambular pelas igrejas em contacto com os crentes. Há reuniões de trabalho com outros padres, conselhos económicos da pastoral paroquial, encontros com colegas. Participa ainda em actos públicos em que é convocado para benzer equipamentos ou instalações, como a 30 de Setembro vai acontecer com o novo relvado sintético do campo das Marotas, em Pontével. Ritos como baptismos, matrimónios e funerais são uma constante. É este ultimo acto o que mais lhe custa, particularmente quando envolve pessoas que conheceu bem e com as quais conviveu. Nesses momentos emociona-se. “Não há que esconder sentimentos”, acrescenta.Os casamentos são cada vez menos e na Diocese de Santarém decrescem à média de 200 por ano. O padre António José considera que as pessoas devem perceber cada vez mais o importante acto de fidelidade a Deus, à Igreja e aos seus pares que é o matrimónio. Apesar de reconhecer que se trata em muitos casos apenas de um acto social. Os baptismos seguem mais ou menos a mesma linha.António José Antunes diz que na vida das pessoas e também na de um padre surgem sempre dúvidas, situações pontuais que o levam a pensar na vida que escolheu quando jurou obediência. Nesses momentos dialoga com colegas e o seu director espiritual para aclarar pensamentos.Há seis anos no Cartaxo o padre “Tó Zé” considera-se integrado nas comunidades onde leva a palavra de Deus. Mas diz-se aberto à mudança porque entende que ficar demasiado tempo no mesmo local não é boa política. Ainda assim, ser padre na Serra, terra Natal, não está nos seus horizontes. “Como se costuma dizer ninguém é profeta na sua terra. E acho que existe apenas um caso de um padre nessas condições na Diocese de Santarém”, explica.

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