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Embarcação tradicional é peça de museu com histórias lá dentro

Embarcação tradicional é peça de museu com histórias lá dentro

O barco varino que carregou sal e vinho sobre as águas do Tejo

O barco varino “Liberdade” é uma peça de museu que navega no Tejo entre os mouchões. De Abril a Novembro.

E se de repente uma peça de museu ganhasse contornos de rio e seguisse Tejo acima ao encontro das paisagens e das histórias que fizeram as gentes da zona ribeirinha de Vila Franca de Xira?É assim o barco varino “Liberdade”. Uma embarcação tradicional – proa alta e redonda, fundo chato - que leva turistas a um percurso fluvial entre os mouchões do Tejo e a Vala do Carregado – uma das ofertas do Museu Municipal de Vila Franca de Xira. O barco atraca na cidade ribeirinha de Maio a Novembro para conduzir turistas. Dezoito metros, quarenta toneladas e duas velas. “Foi feito para os baixios. Não pode andar no mar”, explica o arrais do barco Luís Godinho, 58 anos, um antigo informático que aprendeu a domar o rio com as artes dos antigos do Tejo. Sempre que salta para o barco de perfis esguios e tons coloridos leva histórias antigas.No tempo da Guerra do Ultramar o barco, talhado para o transporte de mercadorias, levava vinho até Lisboa. O produto era pago no acto da entrega e por isso os embarcadiços tratavam de garantir sustento até à altura do negócio. Faziam buracos nos barris e vendiam o néctar pelas terras à beira Tejo. Trocavam o vinho por sável na direcção do mar da palha. Que uma viagem até Lisboa não demorava menos de três dias, uma semana. Antes da mercadoria chegar a bom porto o néctar em falta era substituído por água salgada em boa quantidade, conta o arrais que garante que só existem nove barcos varinos no mundo.O barco faz o percurso pelo Tejo acima e abaixo. Percorre as ilhas que emanam da água doce: do Mouchão de Alhandra ao Lombo do Tejo. Ou do Cais de Vila Franca de Xira à Vala do Carregado. Aí desfiam-se as histórias sobre os carregamentos de mercadorias do armazém da zona. Quando o Tejo era a principal via de comunicação. Antes de se erguer a ponte Marechal Carmona.O barco tem capacidade para 40 turistas instalados em bancos corridos coloridos com uma lona que protege os visitantes dos caprichos do tempo. Às vezes estende-se o farnel sobre a mesa. Outras vezes o barco atraca e faz-se paragem para o almoço.O varino foi construído em Rio de Moinhos, Abrantes, em 1945 numa vinha de terrenos vastos, garante o arrais. Levou vinhos, madeira, farinha e tomate. A areia era transportada a granel. Serviu para levar para a margem sul lixo proveniente de Lisboa, carregos de sal de Setúbal até encalhar como simples casco abandonado quando nos anos 60 o transporte fluvial entrou e decadência. Foi “Rio Zuari”, “Campino” até ser baptizado “Liberdade” depois de adquirido numa manhã de Abril de 1988 pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Certa vez, depois do mestre do barco rumar até Figueira da Foz a bordo do “Liberdade”, alguém no porto exclamou: “Que grande moliceiro!”. Era o barco mais parecido com um varino, lembra o arrais.Dois tripulantes acompanham o mestre nas marés das águas doces do Tejo e no levantar das velas. A partir de Novembro o varino hiberna, todos os anos, no estaleiro de Sarilhos Pequenos. Que uma época a navegar no Tejo desgasta. Reencontra o cais de Vila Franca de Xira todas as Primaveras, por altura de Abril.
Embarcação tradicional é peça de museu com histórias lá dentro

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