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Museu do Neo-Realismo quer atingir dimensão nacional

Novo espaço está a ser organizado para funcionar como um verdadeiro centro cultural

O Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira quer assumir-se como espaço nacional e aberto. E estender-se a todas as artes – a literatura, a música, a poesia, o cinema – num olhar atento à contemporaneidade.

Um convite para café no edifício de portas envidraçadas que se estende na Avenida Alves Redol, em Vila Franca de Xira, e uma proposta para mergulhar no Museu do Neo-realismo. A centralidade é um dos pontos fortes do novo espaço cultural da cidade que teve entre os seus filhos alguns dos percursores do movimento. “Gaibéus”, de Redol, publicado pela primeira vez em 1939, é a primeira obra de literatura verdadeiramente neo-realista, mas o director do museu quer distanciar-se da ideia de que o novo espaço reflecte apenas o grupo de Vila Franca de Xira.O projecto pretende ampliar os valores do movimento. “Queremos desmistificar a ideia de que o museu é de Vila Franca. Não esquece os escritores da terra, mas o museu tem perspectiva nacional e até de promoção internacional”, afirma David Santos que lembra que o espaço integra espólios de todo o país. O museu abre portas com quatro exposições nacionais (ver caixa), mas em 2009 quer começar a fazer a ponte internacional. Trazendo o muralismo mexicano, por exemplo, que inspirou os artistas plásticos do neo-realismo. O novo museu aposta na relação entre passado e presente. Há um esforço de contemporaneizar o conceito de movimento. Uma época perfeitamente definida, oposicionista, entre os anos trinta e os anos sessenta do século passado. “Nunca perderemos de vista o tema do neo-realismo, mas não iremos actuar apenas em função da recuperação de uma memória que é datada. Trabalharemos para que tenha fecundidade no tempo actual”.Para reavivar as temáticas em torno do neo-realismo o museu tem uma programação com actores da cultura portuguesa contemporânea. Maria Barroso vai ler poesia no museu. Tal como Manuel Alegre, Luís Lucas e Fernando Alves com textos neo-realistas como pano de fundo. Os debates vão multiplicar-se. O espaço vai acolher personalidades de vários quadrantes disciplinares em “Encontros e desencontros” com o neo-realismo. E não têm que ser pessoas ligadas ao neo-realismo. José Pacheco Pereira, Rui Vieira Nery, Jorge Silva Melo e João Paulo Cotrim serão convidados. O surrealista José Augusto França, crítico do movimento neo-realista, também marcará presença. Para vincar a ideia de pluralidade. Tal como Júlio Pomar, pintor neo-realista, ou Fernando Rosas. Os debates vão incidir sobre a arte, a arquitectura, a política e a literatura. “Queremos mostrar que a política de programação cultural é trazer não só intelectuais, académicos que pensam o neo-realismo como também outros que não têm uma opinião tão positiva do neo-realismo. Se apenas viermos confirmar aquilo que já está estabilizado do ponto de vista da opinião pública, do ponto de vista académico até, o museu não terá futuro”. Para rechear o novo espaço de cultura o velhinho edifício do largo da câmara despoja-se dos livros. Obras de Alves Redol, Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes e outros que tais – edições únicas protegidas com capas de papel vegetal – que integram agora o novo espólio. O edifício antigo, escadaria em madeira, pouco tem que ver com a moderna estrutura do museu do neo-realismo.A dois passos do antigo edifício, o novo não será apenas o repositório de livros, obras de artes plásticas, esculturas e documentação. “Não só mudámos de casa, como estamos empenhados em dar início a uma nova fase do museu”, garante David Santos que revela que a ambição contempla uma programação diversificada que não ficará fechada no conceito de neo-realismo.Os recitais de poesia e encontro com escritores no antigo museu eram descentralizados. No Café Central ou no Vilafranquense por falta de espaço. No novo edifício o centro tem o mesmo espaço a multiplicar por oito. “Agora o museu tem condições para se afirmar como um projecto museológico credível com dimensão institucional para marcar a agenda cultural portuguesa e ao mesmo tempo demonstrar que Vila Franca de Xira além da dimensão cultural ligada à tauromaquia – que deve ser preservada – tem também no neo-realismo uma bandeira de afirmação cultural mais erudita para afirmar o nome de Vila Franca à escala nacional”.

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