Gostei de ouvir o presidente da Câmara de Santarém gritar um viva ao Governo. Nesta coisa de vivas e morras tem que haver algum equilíbrio e já andava saturado de ver desabar tanta bordoada verbal nos lombos, salvo seja, do engenheiro Sócrates. Em matéria de políticos, como sabes, sou daqueles que não perde a oportunidade de molhar a sopa mas, caramba, chega uma altura em que também me mete dó ver um desgraçado qualquer derreado ao peso de tanta crítica e dichote. Além disso a nossa especialidade e-mailica é zurzir nos políticos da região. Nos nossos. É a chamada desanca de proximidade. Daí haver uma certa compreensão pelos que são de Lisboa.O viva ao Governo foi rachmaminófico, como diria o escritor Dinis Machado. Eu vi as imagens de O MIRANTE TV. O Moita Flores de cigarrito da mão e vestimenta de lavrador com um sorriso de orelha a orelha diz mais que o próprio viva. Todos os sindicalistas deveriam ser obrigados a ver aquela cena para ver se aprendem alguma coisa sobre a necessidade de adequação de discursos e métodos aos tempos actuais. Duzentos ou trezentos manifestantes a gritar vivas ao primeiro-ministro à porta de uma inauguração fariam as delícias de qualquer editor de televisão. Da RTP à TVI. Da SIC ao Canal Parlamento. As audiências subiriam em flecha. O engenheiro Sócrates ficaria sem palavras e a PSP da Guarda sem motivo para qualquer deslocação, mesmo à porta ao lado. Não sei se concordas mas aqueles façanhudos sindicalistas a gritarem a plenos pulmões vivas às políticas do Governo haveriam de fazer mais pela nossa auto-estima que os quatro gatos fedorentos juntos.Coisa bem diferente é ver a União dos Sindicatos de Santarém apontar o exemplo da PSP da cidade e do governador-civil, por eles não visitarem as sedes dos sindicatos em vésperas de manifestações. É enternecedor mas não passa disso. Para a coisa ter mais impacto o comunicado onde se enaltecem tais qualidades das autoridades – em comparação com as do pessoal da cidade da Guarda - deveria ter sido emoldurado e enviado às mesmas com flores e bombons, ou com champanhe e caviar. As boas práticas policiais e administrativas devem ser enaltecidas num país onde, geralmente, são ferozmente vituperadas. Eu estou a dizer isto mas fiquei encantado com a atitude. Não é todos os dias que sindicalistas emitem comunicados a elogiar as autoridades. Isto é muito importante para a paz social de que falam os políticos. É exemplar. Remete-me para os anos 60 do século passado. Para o movimento hippie. Façam amor e não guerra. Coisas assim. Flores nos cabelos e música psicadélica. Agora só falta que os vereadores do PS na Câmara de Santarém elogiem o presidente Moita Flores, eleito pelo PSD, pelo facto de ter dado vivas ao Governo. Aguardemos, Serafim. Aguardemos. Se eles chegaram até aqui, quem sabe se não irão mais longe. Eu tenho esperança. E tu? O que tens? Bacalhau à lagareiro e tinto de Alcanhões?!! Ok, então põe mais um prato na mesa que vou aí jantar.Saúdo-te com um vibrante viva e elogio o facto de não me interrogares sobre a manifestação de amor com que amanhã irei presentear a tal simpática de que te falei. Manuel Serra d’Aire