“Gostava de ser presidente da Câmara do Cartaxo”
Vereador socialista que afrontou presidente e camarada de partido não nega ambições
Há um ano estava internado no Hospital Curry Cabral na sequência de um transplante hepático. Desde aí muita coisa mudou no percurso de Pedro Ribeiro, 34 anos. Ganhou outro gosto pela vida, perdeu a vice-presidência da câmara, os pelouros delegados e a confiança política do presidente da Câmara do Cartaxo e camarada de partido, com quem entrou há 10 anos para o executivo municipal. O relacionamento entre Pedro Ribeiro e Paulo Caldas deteriorou-se no último ano e parece já não ter reparação. Caldas acusa o seu ex-número dois de “alta traição”, ao decidir disputar-lhe a liderança da concelhia socialista. Pedro Ribeiro diz que Paulo Caldas está a afastar-se do programa que apresentou aos eleitores e tece críticas à forma como lidera equipas. A contenda teve o seu episódio mais recente com o voto de Pedro Ribeiro contra o orçamento da Câmara do Cartaxo, que ajudou a chumbar a primeira proposta em conjunto com a oposição. A disputa está para durar. As eleições para a concelhia, em Fevereiro, constituem o próximo round. E Pedro Ribeiro confessa que gostava de ser presidente da Câmara do Cartaxo. Embora vá dizendo que não corre para 2009.A corrida à concelhia do PS do Cartaxo não é a preparação do terreno para uma candidatura à presidência da câmara?Não queria confundir os timings. Acho que o timing neste momento é para discutir o partido. Era prematuro neste momento o partido estar a auto-flagelar-se com a discussão de candidatos a meio do mandato.Gostava de ser presidente da Câmara do Cartaxo?Gostava de ser presidente da Câmara do Cartaxo. Mas já disse que não corro para 2009.Há uns meses disse que caso fosse eleito presidente da concelhia do PS/Cartaxo Paulo Caldas tinha todas as condições para voltar a ser o candidato do PS à câmara. Continua a pensar assim?O que disse é que se Paulo Caldas reunisse condições políticas não iria excluir essa possibilidade.Se fosse hoje, Paulo Caldas reunia essas condições políticas?A decisão pertence à comissão política e eu serei o último a violar isso. A questão deve ser discutida dentro do partido e o somatório das opiniões decidirá sobre o candidato do PS em 2009.O que mudou desde que esteve afastado da Câmara do Cartaxo por razões de saúde para se ter verificado esta turbulência política?Com todo o respeito, é uma questão que têm de colocar ao dr. Paulo Caldas. Não sei o que mudou. Eu fui para o transplante como vice-presidente da câmara e regressei como vereador.Ficou magoado?É uma situação que me causa grande desconforto falar nela. Porque também tem um carácter humano. Senti alguma desilusão.Não lhe foi dada qualquer explicação?O que me foi dito durante a baixa médica é que isto estava a ser preparado. Eu nunca acreditei.O seu relacionamento pessoal com Paulo Caldas era de grande cumplicidade, de amizade?Senti um certo afastamento no meu relacionamento com o dr. Paulo Caldas nos últimos anos. Por razões várias.Nunca pensou que pudesse chegar ao ponto desta ruptura política?Jamais.Paulo Caldas tem dificuldades em trabalhar em equipa?Penso que isso está demonstrado. Não teme que estas divisões possam ser aproveitadas pela oposição nas próximas eleições?Seria desonesto se dissesse que não temo isso. Há um conjunto de comportamentos públicos, como a reacção de Paulo Caldas ao anúncio da minha candidatura à concelhia que, para além de deselegante e injuriosa, é totalmente precipitada.O presidente da câmara acusou-o, na altura, de alta traição. Acho que não há muitos comentários a fazer. As pessoas no Cartaxo conhecem-me. Ainda há espaço, depois de toda esta troca de acusações, para poder apoiar uma recandidatura de Paulo Caldas à câmara?É muito difícil a quem já injuriou, a quem teve um conjunto de afirmações mais deselegantes, ter margem de manobra para voltar a unir o PS. Se há coisa que me tem causado desconforto nas reuniões do PS é o ataque sistemático ao passado, àqueles que deram a cara pelo PS.Sente-se confortável com o apoio de figuras do PS no Cartaxo, como o ex-presidente da câmara Renato Campos?Sinto-me muito honrado por ter o apoio de todos os ex-vereadores, e aqui sou insuspeito porque foram escolhidos pelo dr. Paulo Caldas; de ter o apoio da ex-presidente da assembleia municipal Ana Benavente, escolhida pelo dr. Paulo Caldas; do fundador e ex-presidente da câmara, dr. Renato Campos. Acho que isto é sintomático. Não vejo um ex-presidente de câmara ou da assembleia municipal ao lado do dr. Paulo Caldas. Isso deve-nos levar a reflectir e, sobretudo, ao dr. Paulo Caldas.Foi nomeado adjunto do secretário de Estado Conde Rodrigues (ex-presidente da Câmara do Cartaxo) pouco tempo depois de lhe terem sido retirados os pelouros na Câmara do Cartaxo. Não teme que lhe colem o rótulo de carreirista?Sou quadro da direcção financeira de um banco e tive a preocupação, quando me retiraram os pelouros, de voltar à minha vida profissional. O que posso dizer é que me sinto muito honrado em ser adjunto do dr. Conde Rodrigues. Foi através dele que entrei na política activa e por quem tenho uma grande estima pessoal, política e intelectual.
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