Cantares dos Reis no Sardoal perpetuam tradição secular
Grupos da vila e de concelhos vizinhos dão espectáculo de música
Teresa é a responsável pelo som mais característico da noite. Uma gaita-de-foles galega comprada pelos pais é delicadamente manuseada. O sopro é articulado com o movimento dos dedos que extraem as notas musicais. A acompanhar ouvem-se bombos, ferrinhos, cavaquinhos, reco-reco e um harmónio. Um desfile de sons instrumentais e vocais espalhados pelas principais artérias do Sardoal marcam o quarto encontro de Cantadores de Reis realizado na vila do norte do Ribatejo. Um momento que já se vai tornando um hábito para os habitantes da vila, que acolhem e seguem com agrado o evento.Com instrumentos na mão ou afinação na garganta, todos se reúnem pelo gosto e vontade de cantar os reis, um ritual que perpetua a tradição. Os anfitriões do encontro, a associação cultural Getas, contaram para isso com a presença de mais quatro grupos pertencentes aos concelhos vizinhos de Abrantes e de Mação, podendo assim mostrar as diferentes formas de se cantarem os reis.Com idades compreendidas entre os cinco e os 75 anos, o sentimento entre músicos e cantadores era o mesmo: animação pela noite dentro. Grupos mistos e heterogéneos salientam a importância dos usos e costumes e demonstram cumplicidade entre gerações. Rafael Marques, 14 anos, pertencente ao grupo de cantares das Janeiras da Queixoperra, concelho de Mação, percorre as localidades vizinhas desde os nove anos. “Gosto de cantar com os mais velhos, passam-se momentos bons e aprende-se”, conta-nos. Dez serões a cantar à porta das pessoas durante o mês de Janeiro podem render ao grupo quantias entre os 300 a 400 euros, destinados a pagar missas pelas almas dos habitantes das aldeias. “Esmolas para as almas se a senhora quiser e puder. Que as almas aceitem por esmola e que acrescentem o que fica”, repetem porta a porta. Por entre a animação fomos descobrir uma família para quem a música é uma paixão. O grupo é de Carreira do Mato, uma aldeia do concelho de Abrantes. Uma associação de nome Amimato, com carácter cultural e social, leva a sério as modas antigas. A mãe empresta a voz e as filhas libertam notas musicais com a gaita-de-foles e o harmónio. As jovens estão ligadas à música desde pequenas. “Os nossos pais compram os instrumentos e depois nós vamos aprendendo com o tempo a tocá-los. Temos muitos instrumentos tradicionais em casa, violas, piano, cavaquinho, e há pouco tempo a gaita-de-foles e o harmónio”, conta-nos Teresa, a irmã mais velha, de 23 anos. Com morada em Lisboa, nem Teresa nem Margarida, de 21 anos, dispensam os acontecimentos na aldeia, mostrando durante toda a noite grande orgulho em tocarem para as pessoas.Como manda a tradição, após um périplo pelas ruas da vila e antes do concerto no centro cultural, são dados presentes e dedicados cantares pelos vários grupos aos dirigentes da câmara municipal. Fernando Constantino Moleirinho, presidente do município do Sardoal, retribui anunciando a intenção em tornar o encontro ainda maior. “Vamos aumentar os grupos fazendo desta iniciativa um grande movimento, único na região, demonstrando ao resto do país que temos riqueza histórica” ressalta. Ao encontro de Cantares dos Reis, juntou-se o lema de “Cantar pela Paz” e ainda muito convívio e animação pela noite fora.
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