A vereadora que deu a cara pelo Rali Lisboa - Dakar
Clarisse Castanheiro
Aos 30 anos, Clarisse Castanheiro foi o rosto de Benavente na organização do Rali Liboa Dakar. A vereadora da cultura, desporto e turismo promove o pulmão da lezíria que ajuda a Grande Lisboa a respirar, mas confessa que é uma fumadora incurável que se irrita quando não fuma. Aos que a acusam de ter um tacho, a jovem autarca responde que tem uma panela de pressão. Como é que reagiu à desilusão do cancelamento do Rali Lisboa Dakar a poucas horas da partida tendo em conta que esteve envolvida na organização durante quatro meses?Estava tudo pronto para um acontecimento com uma dimensão enorme no município depois de um grande investimento por parte da autarquia e onde me empenhei muito tal como uma vasta equipa. Fiquei desolada.Teve o privilégio de ser informada por antecipação. Quando recebeu a notícia da organização, foi um choque? Confesso que já estava à espera que alguma coisa pudesse correr mal depois do assassinato dos quatro franceses na Mauritânia, mas nunca pensei que a prova estivesse comprometida. Acreditei que a organização iria encontrar uma solução para minimizar o risco e que a prova seria reformulada mas iria realizar-se.Espera que Benavente volte a estar na rota do Dakar em 2009?Espero que o rali não termine porque é uma prova emblemática com 30 anos de história e é um acontecimento de dimensão mundial. Gostaria muito que Benavente estivesse na rota do rali. Provámos que temos todas as condições para receber esta prova.O cidadão comum apercebeu-se da dimensão deste acontecimento e do impacto que teria na região?Os nossos munícipes precisavam de ver o rali, sentir este impacto de receber milhares de pessoas em Samora Correia e de toda a cobertura mediática. Os estabelecimentos comerciais iriam ver o efeito nos seus negócios, especialmente a restauração. Depois o sentimento de ouvir e ver Samora Correia ser falada em todo o mundo seria muito interessante. Esta experiência como parceiro num evento de dimensão mundial pode dar o mote para novas iniciativas de grande impacto em Benavente?Foi uma experiência interessante que nos pôs à prova e onde penso que tivemos uma resposta muito positiva. Trabalhámos muito, mas fazemos um balanço muito positivo onde realçamos a excelente colaboração dos nossos trabalhadores e das empresas parceiras. Num curto espaço de tempo montámos uma máquina e uma logística brutal e com custos reduzidos porque estabelecemos um tecto de 30 mil euros e não admitíamos derrapagens.Foi uma aposta ganha, mesmo sem se concretizar a passagem do rali?Foi porque provámos que daqui para a frente seremos capazes de abraçar qualquer desafio de dimensão internacional. O município de Benavente tem condições óptimas e uma localização privilegiada que o torna atractivo para vários eventos.Uma mulher num mundo de homensÉ uma mulher num mundo de homens. Já alguma vez se sentiu descriminada pelo género?Muito sinceramente já fui descriminada de uma forma positiva. Felizmente tenho um grupo de pessoas, presidente, vereadores e colaboradores da câmara, que me apoiam muito e que me ajudaram a integrar.Mas a adaptação não foi fácil?Tinha consciência que enfrentar um desafio destes com 27 anos num mundo de homens não seria fácil. A política ainda é uma actividade feita maioritariamente por homens que quando chegam a casa têm a comida na mesa e a roupa pronta. Conciliar a vida de mulher com a de vereadora exige um grande esforço. Nunca volto as costas a nada nem a ninguém. Como ribatejana digo que pego os problemas e os desafios de caras.Tem 30 anos e integra um executivo liderado por um presidente (António Ganhão) que chegou à câmara antes da vereadora nascer. Como é que gere este ‘conflito’ geracional?Não há nenhum conflito geracional. Tenho a sorte e o prazer de trabalhar com um homem que é um óptimo professor e tem uma experiência de vida muito grande. O presidente Ganhão é um dinossauro da política, um homem muito inteligente que sabe ensinar e sabe ouvir os outros. Tem sido uma experiência muito positiva e sinto que cresci muito nestes três anos.Mas já viu muitas ideias e projectos serem rejeitados pelo presidente?O presidente tem apoiado a maioria das propostas que apresento e quando não as aprova justifica com argumentos que entendo e que não tinha percebido devido à minha inexperiência e imaturidade. Já tivemos opiniões diferentes, como é natural, mas nunca entrámos em conflito. O presidente sabe construir consensos e o concelho de Benavente deve-lhe muito pela forma como tem sabido gerir.Até onde é que pensa ir na vida política?Nunca imaginei ser vereadora. Quando fui eleita, era técnica de intervenção social, tinha trabalhado na câmara com um contrato a termo certo e estava desempregada há quatro meses. Depois não tinha nenhuma experiência política. Julgo que me adaptei, estou a gostar da experiência do contacto com as pessoas para resolver os seus problemas, mas o meu futuro como autarca depende da avaliação que fizerem do meu desempenho. Não sinto que seja uma mulher política, estou a desempenhar uma missão social ao serviço da população do meu concelho. Os lugares remunerados na política são muito invejados. Há a ideia de que são bons tachos em que se ganha muito dinheiro…Eu costumo dizer que não tenho um tacho, tenho uma panela de pressão e que pode rodar o pipo a todo o momento (risos). Os vereadores de Benavente têm muito trabalho e uma dedicação sem limites que lhes exige muito. Antes de ser vereadora, era técnica superior e tinha um salário digno que me dava para viver. É óbvio que agora ganho um pouco mais, mas trabalhava sete horas por dia e agora estou disponível 24 horas por dia e uma responsabilidade muito superior. Se fossemos a contabilizar as horas que dedicamos e as dores de cabeça, o ordenado não justificava. O poder aproxima os falsos amigos?Os meus verdadeiros amigos são os mesmos que tinha. Nunca senti que alguém se aproximasse de mim para tentar tirar partido da minha influência nalguma decisão. Julgo que sou uma pessoa incorruptível e quem me conhece sabe que sou incapaz de meter uma cunha ou beneficiar alguém nas minhas funções.Preocupa-se com a sua imagem?Sou uma mulher simples que veste calças de ganga e não vai ao cabeleireiro todas as semanas. Preocupo-me mais com o meu comportamento. Não vou a bares que não estão licenciados nem fico depois dos horários autorizados pela câmara. Deixei de comer o hambúrguer nas roulotes que não estão legais. Procuro ter uma postura correcta onde ninguém aponte nada à vereadora. Como responsáveis pela gestão do município devemos dar o exemplo.
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