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A cultura portuguesa numa barraca de farturas

O rali Lisboa-Dakar foi suspenso devido às dificuldades criadas pelo Governo francês. Tenho a certeza que o assunto não interessa à generalidade dos leitores. O rali é uma prova para gente endinheirada. Serve os interesses do mundo do espectáculo que, por sua vez, se alimenta das televisões e dos milhões da publicidade. O facto de uma parte da prova se realizar em território ribatejano e ter defraudado as expectativas e os orçamentos de muita gente da região não me deixa indiferente. E apetece-me partilhar a convicção de que a União Europeia é uma treta (um pequeno negócio entre países) e que se o rali tivesse a partida marcada em Paris  nem que a vaca tossisse a prova havia de se realizar.Portugal é um país de anões em matéria de política internacional. Curiosamente, a notícia da suspensão do rali surgiu no mesmo dia em que o Partido Comunista interpelou o Governo sobre as condições que determinadas marcas tiveram para se publicitarem durante a assinatura, em Lisboa, do Tratado Europeu. Outro caso de falta de vergonha dos nossos governantes que, à míngua de orçamentos, aceitam que os gigantes de certas marcas imponham a sua força. Tudo à custa de supostas economias. Tudo controlado pelos anões que vestem fatos de gigantes ou pelos gigantes que conhecem bem a importância histórica do país dos anões. Basta saber ler para perceber como Portugal é um país sem importância. Somos uma das línguas mais faladas no mundo e a nossa política cultural é um atraso de vida. Os institutos espanhóis gastam milhões a promoverem a língua de Cervantes nos certames ligados à cultura que se realizam nos países de língua portuguesa. Portugal faz-se representar pelo Instituto Camões quase sempre numa barraca onde um comerciante local aproveita para promover também os galos de Barcelos, as queijadinhas de Sintra, os pampilhos e os celestes de Santarém. Na última Bienal do Livro do Rio de Janeiro, onde estava mais de um milhar de expositores, nem uma única editora portuguesa se fazia representar. E lá estava o nosso Instituto Camões ao nível de uma representação dos poetas de Nitéroi. E a realidade não é diferente se visitarmos os mais importantes certames do livro noutros países da América Latina. Na última feira do livro de Buenos Aires, que tem uma média de visitantes que chega quase ao milhão e meio de pessoas, o Instituto Camões estava instalado numa barraca de farturas e tinha em exposição meia centena de livros na sua grande maioria edições vindas directamente dos alfarrabistas.Devia aproveitar este espaço para escrever sobre o problema da beterraba, do tomate, do trigo e do milho nos campos da lezíria e da falência do nosso mundo rural. Gastei as palavras a escrever sobre o rali Lisboa-Dakar e as memórias de dois acontecimentos culturais onde percebi a falência da cultura portuguesa no mundo devido a meia dúzia de sacanas que nos governam. Espero que me perdoem a vaidade e a falta de horizontes das minhas palavras. JAE

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