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Jorge Coelho diz que é um dado adquirido que “um político é um mentiroso”

Jorge Coelho diz que é um dado adquirido que “um político é um mentiroso”

Intervenção polémica durante apresentação do livro “O Regresso dos Partidos”

A apresentação do livro “O Regresso dos Partidos” serviu de mote a Jorge Coelho para criticar a classe. Exercer qualquer cargo político é um acto de coragem quando é dado adquirido que os políticos mentem.

“As pessoas deixaram de acreditar no sistema político, e nos próprios políticos, porque se instalou a ideia de que os políticos mentem. Parece um dado adquirido que um político é um mentiroso. E hoje exercer cargos políticos é um acto de coragem. Por que já se mistura tudo. E há muita gente honrada que vai para a política e sai mal vista porque o sistema é mau e esmaga os melhores. O pior que pode acontecer é deixar instalar-se ainda mais a ideia errada de que a mentira é uma coisa normal na vida política”. Desabafos de Jorge Coelho no lançamento do livro “O Regresso dos Partidos” que teve lugar no Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira na sexta-feira, 11 de Janeiro.Na presença dos autores (ver caixa) e de Maria Luz Rosinha, que fez as honras da casa, Jorge Coelho aproveitou o facto de ter uma plateia cheia de gente ligada à vida pública, entre eles muitos deputados e ex-membros de governo do PS, para deixar alguns recados nomeadamente relacionados como facto de haver cada vez mais dois olhares sobre a vida partidária, referindo-se ao trabalho dos autarcas que fazem política de proximidade, e aos deputados que, regra geral, vivem num mundo à parte e ninguém sabe quem são e o que fazem. “A prova evidente de que a política de proximidade tem outro valor acabei de a ter ao fazer o percurso da câmara até ao Museu com a Maria da Luz”, disse Jorge Coelho, para depois acrescentar que “a maioria das pessoas que nos cumprimentaram pelo caminho decerto não conhecem nenhum dos deputados da região, nem tão pouco sabem o que andam a fazer”. “É próprio do sistema”, voltou a referir, “que os deputados vivem e trabalhem longe das populações. E isso não é bom para o país nem para as organizações partidárias”Numa intervenção que “agarrou” a plateia, Jorge Coelho usou por diversas vezes as palavras de Maria da Luz Rosinha, aquando da apresentação da mesa e das saudações à plateia e aos autores. Sempre à volta das questões principais do livro Jorge Coelho alertou para a ruptura, cada vez maior, entre os cidadãos e os partidos políticos. “Não há dúvida de que partidos e as formas de organização partidária estão em crise. Mas somos nós os responsáveis por alimentarmos a ideia de que os independentes é que são os melhores no nosso sistema político. A verdade é que damos a ideia de que quando é preciso escolher alguém com currículo vamos aos independentes. Com a nossa forma de pensar e de actuar estamos a ajudar à crise nos partidos. Defendo que a sociedade civil deve organizar-se mas também defendo que os partidos deveriam organizar-se melhor para chamar a si os independentes. Na Grã-bretanha ninguém pode ser Ministro de um Governo se não for filiado num partido. Ali as pessoas sabem que têm que se filiar para lutarem por uma causa. Aqui não. E todos contribuímos em Portugal para que a degradação do sistema político se alargue a outros sectores. O sistema financeiro é um bom exemplo. Até nas eleições para as Ordens se nota a crise instalada”.Para Jorge Coelho os partidos políticos não devem assumir uma postura de concorrência e devem acima de tudo serem organizações complementares das outras organizações da sociedade civil. Numa atitude critica disse que “há cada vez mais organizações que não são partidos políticos mas que de verdade não fazem mais nada que politica”. Outro aspecto negativo que apontou foi o facto de os políticos mudarem com frequência de camisola partidária o que ajuda aos descrédito da classe.No meio do seu discurso, e quando falava de ética, de combate e de luta pela liberdade, Jorge Coelho chamou a atenção para a presença na plateia de Edmundo Pedro, “que é o exemplo do político filiado e combatente que nunca abandonou os valores mais importantes nomeadamente o da liberdade”. Edmundo Pedro respondeu na hora dizendo que aquilo não era verdade, mas que “eram exageros que sabia bem ouvir”.Para Jorge Coelho a inveja é outro dos grandes males da sociedade portuguesa que infelizmente também condiciona a qualidade da organização partidária. Ainda sobre a política de proximidade Jorge Coelho lembrou o facto de, em Portugal, ser possível realizar referendo locais, o que só aconteceu duas vezes depois de a lei o permitir desde há cerca de 20 anos.Na sua intervenção referiu várias vezes a necessidade de passar a mensagem de que não há democracia sem partidos políticos. E para exemplificar a ideia de que a democracia pode ter vários rostos contou algumas experiências que viveu em países da Ásia e de África, que ilustram bem a crise de valores que os homens ainda vão ter que enfrentar para vivermos num mundo mais justo. Neste ponto da sua intervenção realçou no entanto, pela positiva, o estado da democracia em Cabo Verde à luz dos maus exemplos de muitos países africanos.
Jorge Coelho diz que é um dado adquirido que “um político é um mentiroso”

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