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Prisão ou hospital?

Já aqui me referi ao aforismo “mal por mal, antes a prisão do que o hospital”.Genericamente, trata-se de escolher o mal menor.Mas o adágio também pode ser levado à letra.Ainda que esteja em causa o pior estabelecimento prisional do continente: o Limoeiro, encerrado em 1974. E o pior serviço de urgências da margem sul: no Hospital do Barreiro.Uma colega de turma da minha filha, com oito anos de idade, foi encaminhada para aquela unidade hospitalar. Saiu de lá morta.Imagine-se o drama para os pequenos colegas, que, repentinamente, vêem uma cadeira da sala de aula por preencher, devido àquele motivo.Pela minha parte, dei instruções, no colégio, para que as minhas filhas nunca sejam conduzidas ao serviço de urgências daquele hospital.Quando estiver em funcionamento o aeroporto de Alcochete, espero que não se lembrem de conduzir os doentes e acidentados para as urgências do Barreiro. Seria uma calamidade.O brilhante escritor Luiz Pacheco conheceu os dois locais: o Limoeiro e a urgência.Sobreviveu à prisão. Do Hospital do Barreiro, também saiu. Mas dentro de um caixão, no passado dia 5 de Janeiro.Chegou lá, acompanhado de seu filho.O descendente reparou que o fornecimento de soro tinha sido interrompido. Durante duas horas, o filho de Luiz Pacheco esteve constantemente a alertar para o facto. Mas ninguém fez caso.Pouco antes de falecer, o escritor concedeu uma entrevista ao jornal “Sol”.O texto somente veio a ser publicado após a sua morte.Apelidado de libertino pela publicação, Luiz Pacheco utilizou uma linguagem de tal modo vernácula que o jornal viu-se obrigado a colocar uma bolinha vermelha para alertar os mais sensíveis.Genial, o escritor não hesitou em contar tudo, sem pruridos de espécie alguma.Referiu-se à sua vida desregrada, com imensas mulheres. Contou que visitava muitas prostitutas. Não deixou de mencionar a sua postura bissexual.O mais grave foi quando Luiz Pacheco não olhou à idade das jovens que seduzia. Meteu-se com rapariguinhas de 14 a 16 anos.Obviamente, isso valeu-lhe passar uns anos no Limoeiro, naquelas celas colectivas, imundas, sem casa de banho e com uma alimentação paupérrima, num ambiente de grande violência.Na velhice, Luiz Pacheco atribuiu essa perversão ao excessivo consumo de álcool.Superou o alcoolismo graças a dois internamentos no Júlio de Matos.Estabelecendo uma comparação entre este hospital e a cadeia, o escritor já tinha opinião contrária à máxima aludida no início. Entre um e outro sítio, Pacheco até considerava que não era mau estar internado. Beneficiava de cama e comida, num momento em que se encontrava desempregado.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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