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“Santarém voltou costas à candidatura a património mundial”

Jorge Custódio diz que a cidade não teve retorno desse projecto gorado
O historiador Jorge Custódio regressou um destes dias a Santarém para uma conferência onde pouco mais de duas dezenas de pessoas, entre amigos e admiradores, o ouviram falar da primeira comissão de salvaguarda dos monumentos antigos da cidade. Uma temática que o acompanha há anos. O ex-coordenador da candidatura de Santarém a património mundial, projecto que se finou no início deste século, diz que a cidade virou costas a esse desígnio e que o património saiu da agenda política.Santarém tem condições para um dia voltar a sonhar com a classificação como património mundial?Não. Sente que esteve envolvido numa utopia?Não foi uma utopia, foi quase uma realidade. Mas a realidade tem que ter a sua correspondência com a sociedade. E o que aconteceu foi que a sociedade virou costas a esse projecto.A cidade alheou-se da candidatura?Não se alheou, virou costas. Hostilizou-a muito e não devia ter feito isso. Devia ter abraçado uma coisa que formava cultura, que formava desígnios, que formava futuro. A candidatura era generosa, tinha vantagens para o desenvolvimento de iniciativas. Naquela altura era o momento ideal…Esse tempo passou?Hoje as candidaturas a património mundial são cada vez mais difíceis. Na altura, como se sabe, foi feito e entregue tudo, mesmo na parte final.Houve retorno para a cidade do investimento feito no projecto de candidatura de Santarém a património mundial?Acho que não. A cidade não ganhou porque esse projecto precisava de continuidade. Era essa a questão central. Os projectos culturais com algum dinamismo desenvolvem sinergias. É o caso de Mértola e de outras cidades onde esses movimentos criaram algum poder cultural. E como a cultura e o património não estão na agenda torna-se difícil poderem assumir um lugar de relevo numa sociedade que quer ser cada vez mais europeia mas que necessita que os seus valores sejam preservados. Faltou peso político para Santarém conseguir o título de património mundial?O poder político, nesse caso o Conselho de Ministros, não sentiu necessidade de apresentá-la como alternativa. Até porque a candidatura estava fragilizada por ter sido renovada, pelos acontecimentos das barreiras de Santarém e por causa também da movimentação autárquica dessa altura. Porque a câmara que esteve a governar Santarém nesse período foi responsável por muitas coisas que puderam acontecer e que podiam ter sido travadas se tivessem uma outra orientação.Que coisas foram essas?Nós estávamos a criar gestão do património em Santarém segundo parâmetros modernos. Nesse sector voltou-se um pouco atrás. Pouca coisa permaneceu.Ficou sentido com a forma como prescindiram dos seus serviços na Câmara de Santarém?Sobretudo pela forma indecorosa com que, no anterior mandato, me moveram processos intencionais que eram autênticas mentiras. Como se sabe, o processo foi arquivado e nem sequer me comunicaram isso. Por aí se vê o género de atitude que foi tomada. Como está o estado do património monumental de Santarém?Não estou bem a par neste momento, pois não tenho vindo a Santarém. Essa área teve um período de crise muito grande, sobretudo depois do final da candidatura de Santarém a património mundial. Um dos grandes problemas do património, não só em Santarém como no resto do país, é a questão da manutenção.Quais são os casos mais prementes?Nos últimos tempos assistiu-se à recuperação da Torre das Cabaças, que voltou a ser pintada, pelo menos para não deixar aquela mágoa de um trabalho onde estive envolvido e que na realidade estava a perder-se. Mas a questão do património de Santarém não é uma questão fácil.Porquê?O que interessa hoje em dia nos núcleos históricos não é transformá-los em múmias ou em museus, mas sim dar-lhes vida. O que obriga a colocar lá pessoas. Tem de haver uma certa compatibilidade entre os tempos modernos e os valores do passado.Essa mensagem já é passada há muitos anos e a situação não evoluiu.Continua na mesma. Essa foi a minha luta enquanto estive a trabalhar na Câmara de Santarém e julgo que do ponto de vista geral mantém-se. São necessárias decisões a nível municipal e nacional. É preciso que a questão da cultura e do património se coloque na agenda. Há pouco falava na necessidade de se intervir no Museu do Alporão. Esse é um dos exemplos?Sim. Penso que o Museu do Alporão é um problema central. Precisa de um restauro completo, total, que tem de ser bem feito, com tecnologias modernas. E devia-se fazer só depois de retirar todo o espólio e colocá-lo num museu arqueológico com um programa sério.Como vê a continuação do abandono a que está sujeito há décadas o convento de São Francisco?A história de São Francisco tem praticamente um século. Desde aí que é um problema nacional que não se resolve. Tem resolução, mas num contexto completamente distinto e em que têm de intervir as forças nacionais. Não só o Estado, que é responsável pela classificação como monumento nacional, mas também empresas, os mecenas…

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