Salvou familiares de afogamento e tornou-se nadador-salvador
Ernesto Caniço faz vigilância nas piscinas de Almeirim, Coruche e Santarém
Há quatro anos que assumiu a actividade a tempo inteiro por conta da Búzios, após ter tirado um curso de formação que exigiu a prestação de uma série de provas teóricas e práticas.
São 15h30 de segunda-feira e Ernesto Caniço prepara-se para vestir a “farda” oficial de nadador salvador no complexo de piscinas de Almeirim. Em vez do típico calção vermelho e t-shirt branca a que nos habituámos a ver na praia e outros recintos, determinações internacionais mandam que o nadador salvador passe a vestir calção laranja e t-shirt amarela. Nas costas tem a inscrição em inglês “lifeguard” e na frente a sigla do Instituto de Socorros a Náufragos.Na piscina dos mais pequenos nadam apenas duas senhoras, uma delas com um filho. O dia começa calmo mas quase sempre há crianças e jovens das escolas de natação a pôr a piscina a mexer. Tem sido esta a vida de Ernesto Caniço desde que há quatro anos assumiu a actividade a tempo inteiro. É nadador-salvador ao serviço da Búzios – Associação de Nadadores Salvadores de Coruche. A empresa é contratada por autarquias para prestar serviços nos seus espaços aquáticos. É o caso das piscinas de Coruche e de Almeirim, da piscina municipal e do complexo aquático de Santarém. No concelho de Coruche, os nadadores da Búzios fazem também a vigilância dos açudes da Agolada e Monte da Barca. “Era frequentador habitual das piscinas de Almeirim e triatleta e quando soube da formação para nadadores-salvadores não pensei duas vezes. Nunca tinha pensado em ser nadador-salvador. Cheguei a ser motorista e esta foi uma questão de oportunidade”, lembra.Tirou um curso intensivo em horário pós-laboral. Na teoria ficou a conhecer como agir em suporte básico de vida, traumatismos, reanimações e a ministrar oxigénio. No capítulo físico teve de cumprir 400 metros a nadar (16 piscinas) em menos de nove minutos, fazer 25 metros em apneia (suspensão de respiração) e os 100 metros em menos de 1,40 minutos.Nadador-salvador que se preze tem de ter equipamento e acessórios essenciais ao seu trabalho. Como o cinto de salvamento, bóia, corda e máscara para colocar na cara em caso de algum contágio ou substância que vá para a atmosfera. A mala de primeiros socorros serve para acudir a situações em que há quedas, lesões ou sangue no nariz, situação habitual dentro de piscinas cobertas devido à diferença de temperatura para o exterior. O típico apito pendurado ao pescoço serve para prevenir e avisar quem abusa. Sem esquecer os indispensáveis chinelos e o rádio intercomunicador.O mês é planeado com antecedência e cada nadador tem escalas de serviço definidas para as semanas. Os oito nadadores da Búzios vão rodando entre locais de trabalho e horários, de manhã, das 08h00 às 15h30, ou de tarde, das 15h30 às 23h00.Apesar de gostar de trabalhar em piscinas, Ernesto considera que é nos açudes, onde chegam a estar reunidas duas a três mil pessoas, que o trabalho de um nadador salvador é verdadeiramente posto à prova. “Não é tarefa fácil estarem dois nadadores salvadores a controlar tanta gente, e com uma viatura de um lado para outro nos açudes”, acrescenta.Em quatro anos Ernesto já passou por alguns episódios. “Já tive de fazer alguns salvamentos, alguns deles no complexo aquático de Santarém, na piscina de ondas. Pessoas de todas as idades vão com demasiada confiança e às vezes descontrolam-se nas correntes criadas”, exemplifica.Mais longe fica a lembrança de ter salvo dois primos quando tinha 16 anos, em Albufeira. Lançou-se para a água e salvou um dos primos. Ao outro atirou uma prancha que se entretinha a lançar à beira da rebentação. “É preciso avaliar bem as situações e isso verifica-se durante a nossa formação”, admite agora quem gosta de se aventurar no mar.Ernesto Caniço não se vê daqui a muitos anos ainda como nadador-salvador mas gostaria de ficar ligado à actividade. Apesar de admitir que o “prazo de validade” de um profissional pode ir até 45/50 anos caso se mantenha em boa forma física. “O curso de nadador-salvador tem três anos de duração pelo que há que ir sempre renovando conhecimentos. Mas também há muitos estudantes que aproveitam os meses de Verão para fazerem este trabalho”, lembra. O nadador-salvador é também muitas vezes alvo da cobiça feminina. “Umas mandam bocas do género de que queriam afogar-se para serem atendidas por nós ou dizem que têm uma lesão. Já conhecemos esses casos e mandamos os mais novos tratar dos assuntos”, fala quem conhece as manhas. Apesar de morar em Almeirim, Ernesto Caniço gosta mais de estar no complexo aquático de Santarém. Pessoas da terra já o conhecem e às vezes gostam de abusar, mas Ernesto é inflexível, mesmo com os responsáveis. “Já tive de mandar sair o director de uma piscina por entrar calçado no recinto”, recorda com um sorriso.“Ernesto Caniço não se vê daqui a muitos anos ainda como nadador-salvador mas gostaria de ficar ligado à actividade. Apesar de admitir que o ‘prazo de validade’ de um profissional pode ir até 45/50 anos caso se mantenha em boa forma física”
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