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Discurso real com a língua afiada na crítica ao poder político

Discurso real com a língua afiada na crítica ao poder político

Carmina Mestre e João Paulo Sagum, reis no Carnaval de Samora

O novo aeroporto, o cancelamento do rali e o fecho das unidades de saúde integraram o discurso que não poupou os autarcas e o tabu da sucessão do presidente Ganhão.

Num ano de crise, os reis do Carnaval de Samora Correia apareceram com fatos improvisados e sem os “luxos” de outros tempos. Com a língua afiada, o actor Joaquim Salvador conduziu a cerimónia de coroação que decorreu na noite de sábado no Palácio do Infantado. “Suas majestades já conhecem a casa, o rei passa o tempo a coçar as costas nas paredes e a rainha já limpou este chão muitas vezes, mas agora foi para a escola”, disse o “moço de cerimónia” numa referência ao facto do reis serem funcionários municipais e de conhecerem bem o palácio onde ele trabalha e ela já trabalhou. “Eu sou João Paulo Sagum, Rei deste reino encantado, mais surdo que um atum, moro no Palácio do Infantado”. Foi desta forma que sua majestade saudou dezenas de convidados que assistiram à coroação que marcou o início do Carnaval 2008. O facto de serem “funcionários da cambra” não os impediu de deixar várias sátiras ao executivo municipal e ao governo de José Sócrates. “Na Câmara de Benavente, já há dança de cadeiras, mudam pelouros de repente, mantêm-se as mesmas bandeiras”, referiu a rainha. “Muda a pasta da educação, e a da cultura, que chatice, uma foi para o Ganhão, a outra para a Clarisse…E o Carlos Coitadinho, perdeu duas vereações, será para substituir o padrinho, nas próximas eleições?”, questiona o rei.O novo aeroporto anunciado para o Campo de Tiro de Alcochete, em plena freguesia de Samora Correia, também não escapou à ironia. “Todos falam de Alcochete, como se fosse verdade, nós é que fazemos o frete, eles ficam com a vaidade”, referiu a rainha Carmina Mestre, uma sexagenária que é presença habitual no Carnaval de Samora, tal como o Rei, um “solteirão” de 34 anos de idade. A organização explicou que os reis foram escolhidos “como reconhecimento pelo seu espírito folião e pela dedicação ao Carnaval”. “São dois foliões de Samora que habitualmente desfilam nos seus grupos e que são reis com toda a justiça”, justifica a Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) que também teve direito a uma piada. “A ARCAS está falida, ficou sem direcção, ralham todos sem medida, numa casa sem tostão”, referiu o rei perante as gargalhadas dos convidados.O cancelamento do rali Lisboa Dakar não podia ficar de fora do guião dos discursos reais. “Tudo à espera do Dakar, já se lhe sentia o cheiro, toma lá mais um placard, que para isto há dinheiro”. As quadras também percorreram aspectos preocupantes da vida local, como o trânsito. “Andar de carro nesta terra, é de ficar com a cabeça à roda, as rotundas estão na berra, parece que pegaram moda”. E porque dizer mal do governo também está na moda, os reis não pouparam José Sócrates e o ex-ministro da Saúde. “Vindo deste Governo, nada é de admirar, à saúde puseram termo, com hospitais a fechar…Coitado do Zé Povinho, já não pode adoecer, quando não morre pelo caminho, fica à porta a padecer”E para que a oposição não se fique a rir, os reis também os contemplaram. “Grita toda a oposição, prometendo a mudança, quando no poder metem a mão, querem é encher a pança”.Terminada a coroação reis, pajens, bolbos da corte e demais “penduras” seguiram para a folia porque “a vida são dois dias e o Carnaval são três”.
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