“Existem mais estádios de futebol do que bibliotecas em Portugal”
Francisco José Viegas foi convidado do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca
Francisco José Viegas, um dos últimos convidados do Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira, lamenta que em Portugal se dê mais atenção ao futebol que à literatura. As bibliotecas fecham às sete da tarde quando em outros países estão abertas até às três da manhã com lotação esgotada.
O excelente comunicador e contador de histórias, Francisco José Viegas, foi convidado do Museu de Vila Franca de Xira, mas não se limitou a falar apenas sobre neo-realismo. O apresentador de televisão – em Abril estreia um novo programa na RTP N intitulado “O Guarda-livros” – mostrou-se bastante preocupado com o futuro do livro em Portugal. Garantiu mesmo que os próximos dois anos vão ser muito turbulentos e decisivos no domínio da edição de obras literárias, adiantando que podem acontecer inclusivamente “coisas perversas”. Quanto às suas memórias recordou que foi o escritor Érico Veríssimo que o fez escrever. “A saga que ele tenta construir sobre a realidade do Rio Grande do Sul, na obra “O tempo e o vento”, marcou muito a minha adolescência e a minha forma de escrever”, explicou, acrescentado que Carlos Oliveira foi na sua opinião o grande escritor do movimento neo-realista em Portugal.O escritor fez questão de partilhar, com as cerca de cinco dezenas de espectadores presentes no auditório do museu, no sábado, 2 de Fevereiro, um episódio que o marcou. Durante o tempo em que esteve à frente da Casa Fernando Pessoa ia todos os dias de manhã tomar café a uma pastelaria em Campo de Ourique. Depois seguia até à esquina do Jardim da Parada onde passava sempre pela livraria Ler – uma das mais antigas de Lisboa. Da rua via diariamente dois senhores dentro do estabelecimento a gesticularem muito. Francisco José Viegas ficava muito intrigado e curioso sobre que autores e escritores aqueles senhores discutiriam.Um dia resolveu entrar na livraria para satisfazer a sua curiosidade. E não conseguiu esconder o espanto quando constatou que os dois homens, afinal, discutiam a jornada futebolística do fim-de-semana passado. Adequiriram aquele hábito de falarem de futebol rodeados de livros.O escritor lamenta o facto de não se apostar na literatura em Portugal como se faz no estrangeiro. “Existem mais estádios de futebol do que bibliotecas em Portugal”, afirma.Durante uma viagem aos Estados Unidos da América (EUA), Francisco José Viegas ficou espantado com a quantidade de pessoas que frequentam diariamente as bibliotecas naquele país. “As bibliotecas estão abertas 24 horas por dia. As horas de maior movimento nas bibliotecas dos EUA situam-se entre as 23h00 e as três da manhã. São edifícios com 12 andares que estão sempre lotados de gente. Além disso é necessário fazer uma inscrição até às cinco da tarde para garantir lugar de leitor até às três da manhã. Em Portugal as bibliotecas fecham às sete da tarde e a maioria estão fechadas aos fins-de-semana o que mostra bem a importância que é dada à cultura no nosso país”, conclui.Recorde-se que Francisco José Viegas foi durante os dois últimos anos Director da Casa Fernando Pessoa e que vai regressar à direcção da Revista Ler do qual já foi director, uma revista dedicada aos livros e ao mundo da edição.
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