Não sou jovem nem sénior, quem me acode?
Tenho 45 anos. Não sou jovem, nem sénior. Quem me acode? Não pensem que estou a gozar. Este é um drama na sociedade portuguesa. E não é só meu. Há incentivos para a contratação de jovens. Agora o governo quer dar incentivos para a contratação de pessoas com mais de 55 anos. E eu? E os outros que, como eu, não têm menos de 30 nem mais de 55? Mas não é só o Governo. São os bancos, as empresas, as câmaras. Júnior ou sénior perguntam-me de vez em quando? Para esses há sempre qualquer coisa. Nem que sejam excursões à Nazaré de borla. Ou bilhetes mais baratos para o teatro ou concerto. Eu nem no futebol sou sénior. Jogo nos veteranos. Para mim não há nada. Sou dos que estão na faixa etária que não é carne nem peixe. Nada de subsídios, nem descontos. Népias de discriminação positiva. Não conto para o totoloto. Nem sequer tenho desconto na banca da hortaliça. Olhem à volta e digam lá se eu não tenho razão. Cartão municipal sénior. Cartão Jovem. Descontos, mordomias. Espaço Internet para jovens. Universidades da terceira idade e centros de dia para os velhotes. Quero mandar um e-mail e não tenho guarida no centro juvenil cibernáutico ou lá o que é. Se entro no Centro de Dia lá da terra olham para mim como se eu fosse assaltar alguém. Perguntam-me logo o que eu quero. Nem jogar dominó me deixam.Quando era puto achava que nunca mais chegava a homem. Quando fui jovem tive azar porque não havia esta fúria de ajudar a juventude desvalida. Agora anseio por chegar a velho. Para ter o cartão da câmara. Para ir nas excursões da junta de freguesia. Para receber telefonemas de meninas simpáticas que me querem vender colchões ortopédicos.Rui Ricardo
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