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“A violência doméstica atinge contornos macabros”

É uma mulher que gosta de ajudar o próximo. Já foi tentada a ser autarca?Já fui convidada para exercer um cargo político na área social de uma grande câmara, mas não aceitei porque estava a iniciar a minha carreira e preferi continuar na PSP. Era um grande desafio, mas achei que não era o momento certo.A área social é uma das suas preferências?Gosto muito de fazer trabalho com as crianças e os idosos e procuro sempre estar envolvida em projectos de inclusão social.Na PSP integra um grupo de trabalho especializado na área da violência doméstica. Outra área sensível...A violência doméstica atinge contornos macabros. É um assunto que estudo com particular interesse porque estou a fazer mestrado na área da sociologia com especialidade no crime e o meu objecto de estudo é a violência doméstica. É uma violência muito silenciosa e muito violenta.Não é um problema exclusivo de famílias pobres…Nunca foi. Isso é um mito que está a ser destruído. A violência doméstica é transversal a todos os extractos sociais e vitima crianças, mulheres e idosos.O número de casos aumenta com o agudizar da crise social?O que aumenta não é o número de casos, são as denúncias porque foram criadas condições para que as pessoas denunciem os actos de que são vítimas. A sociedade está mais sensível para estes problemas e as forças de segurança têm feito um esforço para proporcionar às vítimas que contem os seus dramas sem receios.As autoridades estão melhor preparadas para lidar com as vítimas?Temos feito uma preparação contínua para lidar com os casos de violência doméstica.Costuma levar os problemas das vítimas para casa?É complicado desligar dos casos que nos assaltam todos os dias. Deparamos com situações melindrosas que nos sensibilizam e não conseguimos alhear-nos. Por vezes fico chocada e perturbada porque sou humana.Qual foi a situação que mais a marcou?Recordo em Loures uma criança que foi chicoteada pela própria mãe com o cabo do ferro de engomar só porque o menino não tinha feito os trabalhos da escola. Outro caso foi uma senhora que era agredida pelo marido e impedida de entrar em casa para tratar de um filho deficiente que precisava do seu apoio.As mulheres são mais sensíveis para lidar com estes problemas e as vítimas sentem-se melhor com as polícias?Do ponto de vista teórico, a mulher tem mais facilidade para ajudar. Felizmente temos muitos homens bem preparados que atendem as vítimas com uma perfeição notável. Não é uma questão de género, é de preparação e sensibilidade.A subcomissária comanda uma esquadra de elite que apoia turistas em Lisboa. É um projecto inovador a nível internacional?Somos dos países pioneiros na criação desta esquadra onde atendemos os turistas vítimas de crimes. A Esquadra de Turismo domina sete idiomas e tem uma preparação cuidada para lidar com variadas situações. Há poucas esquadras deste tipo no mundo. A Grécia veio conhecer o nosso modelo para o implementar. Temos recebido imensos elogios a nível internacional e é um motivo de grande orgulho.Os seus agentes já chegaram a emprestar dinheiro aos turistas que ficaram sem nada?Aconteceu várias vezes e o interessante é que os turistas enviam o dinheiro e agradecimentos ao pessoal da esquadra. Isto revela bem o espírito dos agentes que aqui trabalham. São escolhidos com muito rigor. A imagem da PSP e de Portugal são dignificadas com estes actos. Tem uma profissão de risco. Alguma vez sentiu isso?Felizmente nunca passei por situações complicadas. É óbvio que nas grandes operações há sempre um risco mais elevado e temos de tomar medidas preventivas. O medo não a acompanha?Na polícia habituamo-nos a relativizar o medo e o risco. Se vivêssemos a pensar no que pode acontecer não fazíamos nada. A vida por si é um risco e a vida de um polícia tem ainda um risco maior. Não digo que não tenho medo, mas lido com ele da melhor maneira.Está muito exposta. Tem um risco mais elevado?Eu gosto tanto do que faço que não penso no lado negativo. Procuro estar bem protegida nas operações de maior risco. Nunca estou sozinha e confio nas pessoas que trabalham comigo.Como é que uma oficial de polícia concilia a vida profissional com a vida familiar?Tenho a felicidade de amar o que faço. Venho trabalhar feliz e regresso a casa feliz. Mas quando se veste a camisola, como eu visto, damos tudo e a conciliação com a vida pessoal fica mais complicada. No meu caso tenho uma família, um marido e uma profissão que adoro e não me posso queixar. Arranjamos sempre tempo para o que é importante nas nossas vidas O seu marido é oficial da GNR…O facto de ter funções semelhantes facilita imenso porque a compreensão para os problemas e para a exigência da profissão é mais fácil. Se eu disser ao meu marido que vou estar de oficial de dia, ele já sabe que significa 24 horas de serviço consecutivas. Explicar isto a um marido civil é mais complicado Falamos a mesma linguagem e entendemo-nos muito bem. Costuma trocar conselhos com o seu marido sobre as missões que enfrentam?Trocamos experiências. Falamos da PSP e da GNR sem reservas. Em pequena brincava aos polícias?Não tinha essa tendência, nunca pensei ser polícia quando era criança. Sempre gostei mais de brincar com carrinhos e jogar ao berlinde do que brincar com bonecas mas não era uma Maria rapaz.Sempre viveu em Alverca. É a sua cidade?Não imagino viver noutro local, comprei casa em Alverca há pouco tempo. Gosto muito da cidade porque mantém o espírito de vizinhança e o sentimento de segurança. É bom estar incluído na grande metrópole e sentirmos que estamos seguros. A freguesia passou a ser policiada pela PSP. É uma vantagem?A PSP é uma polícia próxima do cidadão, funciona 24 horas e é uma mais valia para Alverca e para os locais que está a policiar no concelho de Vila Franca.

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