Dina Godinho, proprietária e cozinheira do restaurante Zé do Moinho, em Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos, tem 52 anos, mas ainda se lembra de ver os avós e os pais a cozinhar enguias na cozinha lá de casa. Foi a espreitar e a perguntar como se fazia que aprendeu e foi aprimorando a confecção. O seu restaurante foi um dos que aderiu ao mês da Enguia que decorre todos os anos no concelho de Salvaterra de Magos. Durante os mês de Março os restaurantes do concelho ribatejano que participam nesta iniciativa dão a provar aos clientes os melhores sabores dos pratos de enguias.Enguias fritas, enguias de escabeche, enguias grelhadas, ensopado de enguias, filetes de enguias, caldeirada de enguias. Existem várias maneiras de cozinhá-las. Ao contrário do que a maioria das pessoas julga pesca-se e consome-se enguia durante todo o ano embora exista em maiores quantidades nesta altura do ano. “Fevereiro é o melhor mês para a pesca da enguia porque é quando elas andam mais à tona da água. Nos outros meses estão no fundo do leito dos rios e é mais complicado apanhá-las”, explica Fernando Andrade, proprietário do restaurante “Cabana dos Parodiantes”, em Salvaterra de Magos.Fernando Andrade herdou o negócio de família e está à frente do seu estabelecimento há cerca de 13 anos. A família sempre teve o hábito de cozinhar enguias, por isso, é um prato que sabe cozinhar com facilidade.A maioria das vezes as enguias chegam vivas ao restaurante o que prova que são mesmo frescas. Como é um animal muito escorregadio é usual utilizar-se areia ou pedaços de madeira para as agarrar. Corta-se o pescoço, tiram-se as entranhas e lava-se tudo muito bem. Depois é só cozinhar. O tamanho médio de uma enguia são 50 centímetros, mas podem atingir um metro de comprimento.O segredo, diz, está no tempero do molho que, na sua opinião, é o mais importante e é o que difere entre restaurantes. O prato mais procurado durante o mês da enguia na Cabana dos Parodiantes é a enguia frita. Fernando Andrade confirma que a enguia é um prato caro mas a pessoa que vem comer enguias sabe disso e não pensa no dinheiro.Dina Godinho também não considera difícil cozinhar um prato de enguias embora demore um pouco mais a chegar à mesa do cliente. E explica porquê. “A enguia é um prato que tem que ser preparado na hora porque senão não fica saboroso. O cliente quando vem comer enguia já sabe que tem que esperar mais um pouco”, explica.O restaurante Zé do Moinho compra as enguias vivas e espera que os pescadores as amanhem porque é o que dá mais trabalho. “Houve uma altura em que amanhei tantas enguias que a pele das mãos caía-me com alergia. Começámos a pedir aos pescadores que as amanhassem”, conta.Para Dina Godinho não existem segredos. É fundamental que as enguias sejam frescas, venham do rio Tejo e que sejam cozinhadas na hora. Apesar de estar ainda no início, o restaurante “Zé do Moinho” não tem tido razões de queixas sobre o mês da enguia. As pessoas têm procurado esta especialidade do concelho. “Era bom que fosse assim o ano inteiro”, diz.Júlia Ribeiro, proprietária do restaurante “A Grelha”, em Marinhais, diz que confeccionar um prato de enguias dá trabalho uma vez que perde muito tempo a prepará-las e limpá-las. A cozinheira confessa que não utiliza areia nem roscas de madeira mas não revela o segredo que, garante, dá outro paladar à enguia. “O tempero nem é o mais importante. O segredo está mesmo na forma como se arranjar a enguia”, explica.O mês da Enguia ainda está muito no início para poder fazer um balanço mas Júlia Ribeiro espera ter mais clientes durante este mês. As pessoas gostam do prato e aproveitam esta altura do ano para matar saudades.