“Os museus precisam de ser queridos pelas comunidades, tal como a Igreja”
Cerveira Pinto acredita que o financiamento aos espaços culturais está prestes a acabar
Os museus precisam de tornar-se “queridos” para a sociedade, tal como acontece com a Igreja. O alerta foi lançado pelo crítico de arte Cerveira Pinto, que acredita que a breve trecho os espaços culturais vão deixar de ser financiados pelo Estado.
O artista, curador (organizador de exposições) e crítico de arte António Cerveira Pinto considera urgente que os museus sofram uma transformação de forma a aproximarem-se mais das populações e tornarem-se “queridos” pela comunidade. O artista exprimiu a sua opinião na sessão que o Museu do Neo-Realismo acolheu na tarde de domingo, inserida no ciclo dedicado ao tema “Arte e Política: Perspectivas Contemporâneas”. Na mesma sessão, a que assistiram pouco mais de uma dezena pessoas, estiveram também presentes os curadores Miguel von Hafe Pérez e Nuno Faria.Durante mais de duas horas os três especialistas reflectiram sobre a relação entre a arte e a política na sociedade actual, manifestando opiniões divergentes. A visão mais pessimista foi veiculada por Cerveira Pinto que considera que “não vai demorar muito até os museus deixem de ter financiamentos”. Para o especialista é fundamental e urgente que os museus se aproximem mais das comunidades e sejam queridos por estas, “tal como é, ainda hoje, a Igreja”. Cerveira Pinto afirmou ainda que ao longo do século XX a arte se foi afastando da política porque se foi afastando da realidade. O artista afirmou a necessidade de “repensar o processo de criação artística”, para que a arte volte a aproximar-se da realidade.Sentado no público estava o médico e escritor neo-realista Arquimedes da Silva Santos que, no final, confessou ter ficado “um pouco abalado com a visão catastrófica de Cerveira Pinto”, com a qual confessou concordar. “Penso isso já há muito tempo mas achava que era uma perspectiva pessoal”, referiu.Nuno Faria, curador independente, professor e consultor da Fundação Calouste Gulbenkian, afirmou não acreditar em “arte política, mas sim em boa ou má arte”. O curador debruçou-se ainda sobre a natureza dupla do discurso artístico, do “artista que prevê” e do “artista que reage ao que acontece”. Por seu turno, Miguel von Hafe Pérez, que há pouco mais de dois meses se demitiu da vereação da Câmara Municipal do Porto, confessou-se desiludido com “o cinzentismo burocrático” do Estado, afirmando que “a dimensão mercantil da criatividade domina grande parte da criação artística”, no contexto actual. “Os três anos que passei na vereação fizeram-me ver o quão residual é o universo da cultura na máquina burocrática de uma câmara municipal”, frisou. Miguel von Hafe Pérez considera, no entanto, que é ainda pertinente falar num conceito de arte política.
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