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“Portugal é o sétimo país mais envelhecido do mundo e isto é aterrador”

O MIRANTE falou com o cientista ribatejano Edgar Cruz e Silva

Edgar Cruz e Silva é um dos mais notáveis investigadores na área do sistema nervoso e do envelhecimento. O director do Centro de Biologia Celular da Universidade de Aveiro nasceu e cresceu em Samora Correia. Esta semana regressou às origens para sensibilizar a população para a importância do cérebro. Em entrevista a O MIRANTE, o cientista revela-se preocupado com a evolução das doenças do cérebro e com o envelhecimento do país. O investigador lamenta a falta de massa crítica que incentive a investigação.

Porque é que organizou a Semana Internacional do Cérebro em Samora Correia?Eu e a minha esposa (professora e investigadora Odete Silva) somos de Samora Correia e julgamos que é importante a população local tomar consciência da problemática associada às doenças do cérebro e da mente. É uma primeira experiência que deve ter continuidade no próximo ano.É uma temática cada vez mais actual?As doenças associadas ao cérebro foram dissociadas das doenças da mente durante muito tempo e isso ainda perdura. Psicoses, neuroses e outras disfunções não são associadas a problemas físicos do cérebro, mas muitas vezes é disso que se trata.A população portuguesa é cada vez mais envelhecida, logo o número de casos de doenças do cérebro cresce?É uma realidade que o desenvolvimento social e científico, que proporciona melhores serviços médicos, motiva um aumento da esperança de vida das populações. Há um envelhecimento da população portuguesa. Somos o sétimo país mais envelhecido do mundo. É uma estatística aterradora. Por outro lado há uma quebra da natalidade que não melhora as perspectivas de futuro. Portugal deve incentivar a natalidade. Associado ao envelhecimento da população vem um conjunto de doenças e muitas delas são doenças do cérebro.Alzheimer e Parkinson são as mais conhecidas…Há um conjunto de doenças associadas ao cérebro onde se inclui: os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), as depressões desde as ligeiras até às mais profundas. E depois há outras doenças, uma delas, muito vincada em Samora Correia, que é a toxicodependência que está muito ligada ao funcionamento do cérebro. O alcoolismo é outro problema muito sentido nesta região e que está também associado ao cérebro. Hoje há investigações que procuram encontrar soluções para minimizar os problemas destas doenças com consequências dramáticas para os doentes e para as famílias. Sendo natural de Samora Correia, fez um percurso notável. Estudou em Londres e Nova Iorque, mas mantém a ligação às origens.É muito importante não perder o contacto com as nossas origens. E a nossa família nunca perdeu. Uma das coisas que mais gostei ao preparar o programa da Semana Internacional do Cérebro foi a possibilidade de visitar a escola onde fiz o ensino primário em Porto Alto. Foi importante rever o local onde aprendi e brinquei e poder contribuir para o incentivo destas crianças para a área da investigação. Se a nossa visita captar um, dois ou três miúdos para que tenham interesse pelo cérebro e pela investigação nas áreas bio-médicas já sentiremos que foi um esforço bem empregue.Os alunos precisam de incentivos que despertem as suas vocações?As nossas crianças devem ter vários modelos de vida para poderem escolher livremente o caminho que devem seguir. Muitas vezes faltam exemplos a seguir. E em terras mais pequenas, como Samora Correia, haver modelos que partilhem as experiências com as crianças é importante para que façam melhor as suas opções. Não sendo heróis, os cientistas podem partilhar as experiências e ajudar as crianças a traçarem o seu futuro.Apesar da falta de apoios que existe em Portugal e que obriga os investigadores a emigrarem, é motivador investigar?A investigação é muito motivadora. Em Portugal, já temos investimentos significativos na área da investigação. Este ano, ultrapassámos um por cento do PIB (Produto Interno Bruto) no investimento para a investigação e foi um marco histórico. Mas ainda temos grandes deficiências em infra-estruturas, equipamentos e falta massa crítica. Só com políticas a longo prazo se conseguirá atingir objectivos e criar uma massa crítica mais forte.O professor já estudou e conviveu com vários laureados com o Prémio Nobel da Medicina nos Estados Unidos e conhece bem a sua dimensão. Portugal pode ter a curto prazo um segundo Nobel?É difícil, mas é possível. Temos excelentes investigadores em várias áreas, mas não sei se algum deles pode aspirar a ser um Prémio Nobel da Medicina. A distinção não se limita ao aspecto científico. O aspecto político não é menos importante. Muitas vezes com vários investigadores ao mesmo nível, o comité Nobel faz uma escolha política.

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