“As escolas de Constância nunca vieram aqui fazer uma visita de estudo”
Não deve ser fácil preservar um edifício destes.É um pouco difícil, mas vai-se tentando. Tem aqui expostos originais de pintores famosos, como Vieira da Silva, Norberto Nunes, Bual ou Martins Correia. Não é um risco?Não vejo isso como um risco. Nunca tive problemas. Só fui alvo de assalto quando se esteve a montar a casa museu. Andaram a mexer nos papéis do Vasco de Lima Couto. Não sei quem estaria interessado nisso.É o fiel depositário do poeta?Tenho toda a obra do Vasco de Lima Couto, todo o espólio do Manuel Mengo, e a isso junta-se uma plêiade de poetas e escritores em manuscritos, em cartas dirigidas a eles. Por isso forneci à Fundação Gulbenkian vária documentação sobre Sebastião da Gama.As escolas de Constância não lhe pedem colaboração?É engraçado, porque vêm aqui escolas do país inteiro e as escolas de Constância nunca vieram aqui fazer uma visita de estudo.Não lamenta que parte da população da vila não tenha conhecimento da riqueza deste espólio?A maior parte terá conhecimento. Houve muita gente que conheceu Vasco de Lima Couto e tem um grande carinho por ele. Já quanto às escolas não sei o que se passa.Tem também uma galeria de arte em Constância. É um negócio de risco numa terra pequena do interior.Foi sempre um bocado difícil. A galeria está fechada há três anos devido à situação financeira do país.A arte não vende?É complicado. Fez-se lá grandes exposições, inauguradas por Presidentes da República. Os preços estão muito inflacionados e a situação financeira do país também não ajuda.Há também muita especulação nessa área.Há. Os artistas novos também começaram a pedir muito dinheiro pelas obras.Está em Constância há quase 30 anos. Considera-se enraizado ou há coisas da cultura ribatejana que ainda lhe custam a assimilar?Em relação ao concelho há coisas que me escapam. Embora como presidente dos bombeiros esteja inserido em vários projectos, há coisas que me escapam. Talvez seja defeito meu.Pode dar um exemplo?Talvez se procure demasiado fora do concelho coisas que se poderiam encontrar cá dentro. A sua participação na vida da comunidade tem-se feito sentir de várias formas. É uma pessoa empenhada na realidade que o cerca.Sou uma pessoa sempre empenhada e sempre atenta. Tenho tido várias conversas com o presidente da câmara sobre vários assuntos. Quando vim para cá em 1976 ninguém conhecia Constância. Organizei grandes festas com grandes artistas portugueses aqui em Constância. Assumi-me como agente cultural. A sua ligação aos bombeiros de Constância também já tem muitos anos.Já dura há 20 anos. É outra paixão, que vejo mais como a parte humanista. Ali não se ganha nada e perde-se muito tempo. Hoje a associação dos Bombeiros de Constância é uma das primeiras do distrito de Santarém em termos operacionais e de organização. Ocupa-me muito tempo mas é um trabalho que vale a pena e que é muito necessário.Nunca pensou dedicar-se à política?Não, embora já tenha sido convidado. Não é uma questão de relutância. Sou conservador por natureza, não tenho espaço político. A minha tendência mental é conservadora. São as raízes minhotas, as raízes católicas que tenho.É um praticante católico.Não. Vou à igreja quando é necessário ir. É um homem rico?Não. Pobre.Mas tem fama disso.A fama que tenho não me interessa nada. Sou uma pessoa que vive o dia a dia com o meu cachorro, com os gatos, com os meus amigos. O dinheiro para mim não traz felicidade nenhuma. A minha felicidade é a amizade das pessoas, é a convivência. Essa é a riqueza que temos de melhor.Continua com muitos amigos no meio artístico?Sim, entre cantores, poetas, escritores.Quem desaparece de Lisboa não esquece?Não, até porque vou muitas vezes a Lisboa. Mantenho relacionamentos próximos com a Alexandra, com a Simone, com a Lenita Gentil, com o Vítor de Sousa.Não tem vontade de organizar um dias destes um espectáculo em Constância com esses artistas a cantar Vasco de Lima Couto?Estou sempre à espera que a câmara me peça uma coisa dessas. Fiz vários espectáculos desses. Há dois anos trouxe cá o José Cid para um espectáculo a favor dos bombeiros. Se a câmara me pedir para trazer cá alguns artistas, farei todos os possíveis.Qual é o seu relacionamento com Braga?É um relacionamento próximo. Tenho lá a minha família, irmãos, sobrinhos.
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