Faltam espaços de cultura para ensaiar e representar teatro
Grupo Dramático Povoense apresenta “Falar a verdade a mentir” de Almeida Garrett
Para assinalar o Dia Mundial do Teatro o Grupo Dramático Povoense vai “Falar Verdade a Mentir”. Mas o encenador jura a pés juntos que faltam espaços de cultura para ensaiar e representar teatro.
O texto foi escrito por Almeida Garrett em 1846, mas continua actual. E foi escolhido pelo grupo de teatro amador do Grémio Dramático Povoense para assinalar o Dia Mundial do Teatro na quinta-feira, dia 27 de Março, às 21h30. A comédia está em cena desde 15 de Março e pode ser vista até 30 de Março na sala de espectáculos do Grémio da Póvoa de Santa Iria.Depois de ter levado à cena a peça infantil “O príncipe Nabo” o encenador do Grémio Povoense, Artur Neves, escolheu um texto de um dos maiores escritores portugueses que explorou um tema intemporal. “Cada vez mais na nossa sociedade as pessoas mentem para alcançar os seus objectivos. Representámos o texto na íntegra. Existe apenas um ou outro personagem que é ainda mais cómico e o guarda-roupa foi adequado a essas alterações”, explica Artur Neves. A peça conta a história de um jovem fidalgo mentiroso que se faz passar por aquilo que não é. Quer casar com Amália, filha de um barão do vinho do Porto. O jovem encenador está muito entusiasmado com o projecto. Contrariando todas as tendências confessa que sempre que apresenta uma peça de teatro no concelho de Vila Franca de Xira, nomeadamente na Póvoa de Santa Iria, a sala enche. “Na estreia desta peça conseguimos esgotar os bilhetes. A sala estava cheia e tínhamos pessoas de pé. Todo o esforço e dificuldades são recompensadas quando percebemos que o público se interessa pelo nosso trabalho e tem curiosidade em ver o que andamos a fazer”, explica com uma pontinha de vaidade.Artur Neves destaca o facto da obra “Falar a verdade a mentir”, de Almeida Garrett, ser estudada pelos alunos do oitavo ano de escolaridade. O encenador lamenta que o grupo não possa fazer demonstrações da peça em horário escolar uma vez que, como grupo amador de teatro, todos os actores têm outras profissões e não podem representar à hora das aulas. No entanto deixa a sugestão: “Deveria criar-se um grupo de teatro no concelho de Vila Franca que fosse às escolas representar várias obras de interesse para os mais jovens”, sugere.Enquanto grupo amador o Grémio Povoense debate-se com grandes dificuldades financeiras. Como são um grupo de teatro recente – a comemorar um ano - ainda não estabeleceram um protocolo com o município que lhes permita receber um subsídio como todos grupos amadores. O encenador queixa-se, no entanto, de um problema que na sua opinião é mais grave: A falta de espaço e de um palco mais funcional.“Esta colectividade é uma das mais antigas do concelho. Tem 116 anos. O palco já não é funcional para aquilo que precisamos, é muito elevado. Quem está na terceira fila não consegue vê-lo. Além disso temos que ensaiar e fazer os cenários com a cortina fechada porque não temos um espaço próprio. Só podemos ensaiar às segundas e sextas-feiras, os únicos dias em que não existe actividade na colectividade”, lamenta.Artur Neves acredita que se existir oferta e diversidade cultural as pessoas aderem aos espectáculos. O encenador acha inacreditável não existir uma única sala de cinema no concelho de Vila Franca de Xira. “Se a população tivesse vários espectáculos para assistir na sua cidade com certeza que não ficaria em casa ou escolheria Lisboa à noite”, refere, afirmando que é necessário modernizar a mentalidade dos agentes culturais.Muitos actores que integram o Grupo Dramático Povoense são jovens. Artur Neves acredita que no início a maioria talvez estivesse iludida com a fama e o mundo do espectáculo. Mas com o trabalho perceberam que é um ofício duro que requer muita paixão. “É um trabalho muito instável. O desemprego é uma realidade constante. Temos que lutar muito para conseguirmos alcançar os nossos objectivos e sonhos”, garante.
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