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Na guerra o objectivo era salvar a pele

Na fase final da ditadura já questionava a guerra colonial?Sim. E como era combater tendo a consciência de que não era bem aquilo que queria fazer?Desertava ou ficava. E ao decidir ficar era para tentar não morrer. Eu e os militares que estavam sob o meu comando, que estavam lá por obrigação. A certa altura o objectivo era salvar a nossa pele e a dos subordinados.Os militares e o próprio Governo não levaram demasiado tempo a perceber que aquela guerra não podia ser vencida?Perfeitamente. Sendo políticos já deviam ter percebido há muito tempo. Desde o final da segunda guerra mundial que começaram as independências de muitas colónias, como a Índia e o Paquistão. Depois vêm os países africanos. E Salazar e Caetano nunca admitiram isso.Quantas comissões fez em África?Foram três, a primeira em Moçambique e duas em Angola sempre na parte operacional, com excepção do último ano em que estive no Comando-Chefe das Forças Armadas.Matou algum inimigo?Não sei.Nunca viu o inimigo olhos nos olhos?Vi. Mas a minha missão era mais conduzir as operações. Andava de G3 como eles, mas era mais para defesa pessoal. Sentiu alguma vez que podia ser o seu último dia?Nunca sabia quando voltava. Sofri várias emboscadas com os meus militares. Era uma tensão psicológica bastante grande. Na minha primeira comissão tivemos seis mortos e mais de trinta feridos, 12 dos quais mutilados. Ainda hoje sofre sequelas dessa tensão?Fisicamente e psicologicamente nem todos somos iguais. Afectou-me, mas não tanto como a outros combatentes.

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